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O novo ministro da educação não vai resolver o problema do MEC

As expectativas em relação ao novo ministro da educação, Abraham Weintraub, são grandes e a meta inalcançável: resolver a educação brasileira através do MEC

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Ninguém pode ser obrigado a cumprir uma meta impossível. É uma sentença óbvia, que serve para todo mundo, mas que precisa ser sempre relembrada nas discussões caóticas e diárias da sociedade brasileira. O professor e economista Abraham Weintraub mal assumiu o Ministério da Educação e todo mundo já criou expectativas gigantescas sobre a sua gestão – os inimigos já apontam o dedo para supostas falhas futuras e os aliados enxergam ele como um potencial milagreiro. O que dá base a estes dois posicionamentos é uma premissa absurda: o MEC é capaz de resolver o problema da educação brasileira.

No Brasil, as pessoas de fato acreditam – de forma consciente ou não – que uma estrutura burocrática gigantesca e muitos bilhões de reais são capazes de resolver qualquer problema, e que o único empecilho possível é a corrupção. Bastaria então ao ministro ser tecnicamente competente e administrativamente rigoroso – impedindo desvios de verba e afins. Pronto, todos os problemas educacionais brasileiros estariam resolvidos!

Ninguém parece pensar por um segundo sequer sobre o objeto específico da discussão: o que podemos chamar de “educação”? Quais são os efeitos reais que comprovam que uma pessoa foi bem educada? E não precisa ser um grande estudioso do assunto para saber que aprender alguma coisa depende primeiro de uma vontade pessoal do aluno e, ao mesmo tempo, de um método eficaz de transmissão do conteúdo. Ou seja, todo processo educacional parte de baixo para cima e pressupõe o interesse do aluno em aprender alguma coisa.

Agora imaginem como seria possível que um conjunto de medidas burocráticas de Brasília desse conta da educação de milhões de jovens e crianças Brasil afora – sem levar em consideração as diferentes personalidades e circunstâncias de cada aluno. Não dá, né? Pois é exatamente esse o objetivo do MEC: definir como cada brasileiro deve ser “educado”. E as armas que os “iluminados especialistas” definem como eficazes para esta batalha são coisas como o ENEM, a Base Nacional Comum Curricular e a universalização do ensino formal.

Seria possível utilizar páginas e páginas para descrever o fracasso total destas estratégias utilizadas pelo MEC nas últimas décadas, mas acho que citar apenas dois exemplos gerais já comprova que o modelo educacional adotado é um desastre: 93% de analfabetos funcionais (segundo o INAF) em todo o território nacional e um índice cada vez maior de suicídios e crimes violentos nas escolas. Qualquer modelo que tenha uma epidemia de casos como estes não pode sequer ser defendido.

Entretanto, algumas pessoas ainda vão dizer que o problema está na doutrinação e que instrumentos como o ENEM podem ser bem utilizados. Ao que eu pergunto: qual o objetivo de criar uma prova única para todos os estudantes de ensino médio do país (com certeza não é uma questão de praticidade) ? O objetivo é justamente obrigar que todas as escolas do Brasil repassem aos alunos o conteúdo definido na estrutura central burocrática, ou seja, é uma estratégia de massificação das informações que o governo acredita serem as adequadas. Alguma grande diferença para o que as pessoas comumente descrevem como “doutrinação”?

O que poucos sabem é que a educação estatal é uma idéia relativamente recente e surgiu justamente com o objetivo de controlar as pessoas e as mentes de acordo com as necessidades dos governantes (sobre o assunto, recomendo a leitura do livro “Contra a Escola”, de Fausto Zamboni). Portanto, é bastante plausível afirmar que a educação estatal brasileira está cumprindo brilhantemente seu objetivo de massificação e de criação de cidadãos subservientes ao poder central – embora não seja esta a expectativa do brasileiro comum para os seus filhos e netos.

Não é inteligente esperar que com a repetição desta mesma fórmula saia disso um produto diferente. Não é possível resolver o problema da educação brasileira com um modelo de massificação, porque uma boa educação pressupõe a não-uniformização. É por isso que o novo ministro da educação fará um bom trabalho à medida que diminua cada vez mais o poder do MEC – só assim os brasileiros poderão ter a liberdade mínima necessária para iniciar uma verdadeira educação.


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Sávio Mota

Sávio Mota é Diretor do Instituto Borborema, jornalista e assessor de marketing. http://institutoborborema.com/

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