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Freak Show

Por que a Pan ainda mantém Villa no ar?

Recontratado depois de chamar todo mundo de nazista, Villa é a principal aberração do show de horrores do Jornal da Manhã

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No filme Rede de Intrigas, Ned Beatty, interpretando o chefão de uma empresa de comunicação, cumprimenta Peter Finch, que interpreta um apresentador de televisão desbocado, da seguinte maneira:

“Bom dia, Senhor Beale. Me disseram que o senhor é maluco.”

O filme de Sidney Lumet conta a história de um âncora do programa de notícias da UBS, Arthur Beale (Peter Finch) que, vendo sua carreira ir pro brejo, ameaça se matar ao vivo. Apesar do choque, a cena ganha uma audiência notável e, desprezando qualquer sentimento moral, os executivos da empresa resolvem manter Beale no ar.

Os tempos mudaram e o país é outro. Aqui os conchavos acontecem por meios mais libidinosos que vitais. Vendo a briguinha ginasial entre Marco Antônio Villa e Rodrigo Constantino, acabei me lembrando do filme. Não pelo Constantino, que sempre tenta manter um nível aceitável de conversa.

Villa, sim, é que me lembrou Beale. Bem de raspão, diga-se. Villa é a versão leite de soja do âncora da UBS. Mas faz de tudo para se manter no ar. Tutinha deve tê-lo cumprimentado do mesmo modo. Bom dia, senhor Villa. Me disseram que o senhor é maluco.


 Mas parece que também a Pan não tem muita ética. Villa, que já chamou meio mundo de nazista – depois diz que Constantino é que não sabe o que é um nazista -, diariamente, dá shows de histeria e sandices ao vivo. Não possui a mínima sustentação emocional para segurar um microfone. 

Manter Villa no ar é atender ao que de pior há nos indivíduos: sua atração por tudo que é bizarro. Um quadro sobre aves que regurgitam seu rango para alimentar os filhotes ou o campeonato de flatulência de viciados em ovos do Bornéu não seria menos asqueroso. Aliás, eu não dividiria uma coalhada seca com o Villa. 

Decorar datas não completa nem o primeiro estágio do conhecimento que os gregos chamavam de poiético, o conhecimento de quem produz algo. Villa está muito mais para um par de ingressos do show da Anitta do que para um grego. 

Villa, na tenra adolescência, deve ter lutado muito para não ser arremessado no lixo o dia todo na escola. É o tipo de coisa que marca um caráter para sempre. Você pode aprender a lutar ou choramingar o resto da vida. Villa escolheu a segunda opção. 

E, para o prazer mórbido dos executivos da Pan, seus resmungos devem gerar muito lucro. Só isso explica o salvo-conduto do decorador de datas profissional para chamar todo mundo que não concorda com ele de nazista. Do jeito que ele usa o termo nazista, parece que aprendeu sobre nazismo assistindo MIB, os Homens de Preto ou Showgirls.


O que faz com Constantino é constrangedor. Mesmo discordando 217% das opiniões do Consta, não há como negar que ele aceita o debate de forma honesta. Já Villa é aquele tipo que não consegue rimar verbos mas jura ter escrito a Divina Comédia, no original em russo.

Villa é daqueles que usa sua incompetência como mecanismo de autodefesa. A imprensa está cheia de gente assim. 


Por falar em filmes, Villa me lembrou outra cena clássica. Em Casablanca, Peter Lorre e Humphrey Bogart travam um diálogo antológico. 

Lorre: – Você me despreza, não é?

Bogart: – Se eu pensasse em você, provavelmente desprezaria.

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Assuntos:
Carlos de Freitas

Carlos de Freitas é o pseudônimo de Carlos de Freitas, redator e escritor (embora nunca tenha publicado uma oração coordenada assindética conclusiva). Diretor do núcleo de projetos culturais da Panela Produtora e editor do Senso Incomum. Cutuca as pessoas pelas costas e depois finge que não foi ele. Contraiu malária numa viagem que fez aos Alpes Suiços. Não fuma. Twitter: @CFreitasR

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