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Monica Bergamo relata fato extraordinário acontecido em aeroporto

Em seu Twitter, Monica nos contou que um passageiro quis fazer um elogio e manifestar sua solidariedade aos jornalistas. Ele estava indo para BH

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O dia mal havia começado. Os primeiros raios do sol ainda não tinham força suficiente para iluminar, pelas frestas da persiana, o quarto. Alguém tateia em busca do celular para ver a hora. Esboça uma espreguiçada e ao ver que já é o tempo de levantar, esfregando a vista, dá uma espiada no Twitter.

A respiração pára. Esfrega novamente os olhos e, num sobressalto, diz: não pode ser!

Pois ali estava o depoimento surpreendente de uma jornalista. Não qualquer jornalista, uma jornalista PROFISSIONAL. Vou parar de me esconder. Quem esfrega os olhos e tem espasmos com o relato emocionante sou eu mesmo. Fico tocado pela sinceridade, pela caridade ficcional de um passageiro inanimado. 

Monica Bergamo, 52 anos, nos conta pelo que passou no aeroporto de Congonhas. Tão singela é a descrição que, manteiga derretida que sou, derramo a primeira pétala de lágrima.

Você é Monica? Você é Monica? Isso está o dia todo martelando na minha cabeça. Quem é Monica? Quem somos nós? Quem fez aquele pudim maravilhoso na quermesse que fui em Amparo no ano de 1983?

E o passageiro, embora quimérico, mais se dilata em nossa emoção. Ele (pausa comovida), ele (nova pausa) queria fazer (pausa) um elogio e manifestar solidariedade aos jornalistas (o reboco se rompeu e as lágrimas correm feito um rio agora). Um elogio aos jornalistas! ELE FEZ UM ELOGIO AOS JORNALISTAS!

O que causa assombro e desanima o mais ferrenho defensor dos nossos periodistas é esse fato não estampar as primeiras páginas de todos os jornais! Como é que algo tão extraordinário passou despercebido pela imprensa? Onde estão as agências de notícias? 

Como esse passageiro, embora fiel em sua irrealidade, pode manter a fé no jornalismo se algo comparado a passagem de um cometa não é sequer mencionado pela imprensa.

O que mais nos encanta é o desfecho da história. “Estava embarcando para BH.” 

Para BH (Belo Horizonte). Eu juro que se ele estivesse indo para Macapá ou Porto Alegre não teria acreditado na história. Se estivesse indo para Itajaí, Cachoeira do Itapemirim ou Joanópolis, talvez tivesse dificuldade para crer também. Mas BH! Dito assim, nessa intimidade, só pode ser verdade.

Sabemos pela crise que passa o jornalismo profissional. Não há mais jornalistas capazes de criar boas histórias, mesmo que de mentirinha. Parece haver no atual estágio do jornalismo, uma espécie de bloqueio factual que impede a absorção sincera do que se passa no mundo. 

Mas Monica, com essa história, reacende a esperança de novos dias de glória para a profissão. 

Diz leitor.

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Monica, em sua residência, descansa no seu sofá Chesterfield. As almofadas de trigo sarraceno indiano vieram de presente de um marajá caipira.

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Assuntos:
Carlos de Freitas

Carlos de Freitas é o pseudônimo de Carlos de Freitas, redator e escritor (embora nunca tenha publicado uma oração coordenada assindética conclusiva). Diretor do núcleo de projetos culturais da Panela Produtora e editor do Senso Incomum. Cutuca as pessoas pelas costas e depois finge que não foi ele. Contraiu malária numa viagem que fez aos Alpes Suiços. Não fuma. Twitter: @CFreitasR

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