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Proctologia

Chico Rodrigues gerou a notícia mais petista da era Bolsonaro

Bolsonaro mandou afastar senador flagrado com dinheiro enfiado entre as nádegas (sic). A notícia parece de 2005, no auge da era Lula. Mas Bolsonaro precisa ainda fazer mais

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A notícia mais petista da era Bolsonaro se rasgou ao país nesta quarta (14): o senador Chico Rodrigues (DEM-RR), um dos atuais partícipes desta ciranda ridícula no Brasil de dar tanto poder a políticos de estados pouco populosos, foi flagrado com dinheiro enfiado entre as nádegas na operação Desvid19, deflagrada pela Polícia Federal.

A notícia é tão petista, tão joségenoina, tão mensaleira, tão 2005, que nos sentimos comentando a coluna do Diogo Mainardi na Veja no orkut quando as três coisas ainda existiam (Mainardi, Veja e orkut).

A Polícia Federal achou estranha a atitude de Chico Rodrigues, que ficava acuado na diligência, sempre se protegendo e sempre contra a parede, afastando-se dos policiais federais. Os policiais desconfiaram e foram fazer uma busca pessoal. Tiraram na sorte quem seria o premiado para fazer a busca e apreensão nas nádegas de Chico Rodrigues. O perdedor fez.

Havia R$ 30 mil escondidos na casa do senador, entre um cofre e dinheiro na sua cueca. Chico Rodrigues foi explícito: “tive meu lar invadido por apenas ter feito meu trabalho como parlamentar”. A Polícia Federal investiga se verbas para combate à peste chinesa foram desviadas.

Se o dinheiro era lícito, por que enfiar entre as nádegas? Dante Alighieri, que coloca corruptos no ciclo mais baixo do Inferno, talvez precisasse de um patamar abaixo para quem enfia etc etc.

Ademais, urge saber quantos por cento destes R$ 30 mil em dinheiro vivo estavam na cueca do senador Chico Rodrigues. Em primeiro lugar, por que essas pessoas têm tanto dinheiro cash em casa numa época de cartão de crédito?

Em segundo lugar, você já tentou colocar R$ 1 mil numa cueca com um ser humano dentro, disputando o mesmo espaço? Que tal R$ 5 mil? Quanto é possível enfiar entre as nádegas para evitar uma diligência da Polícia Federal? É preciso um estudo científico de caso. Sobretudo comparando esquerdistas e centristas.

E estamos falando de R$ 30 mil de um senador de Roraima. O cara enfiou quase o PIB do estado na cueca. O centrão inventou um novo conceito para a expressão “enfiar no oritimbó”: o literal.

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Mas se a notícia já está proctologicamente parecendo coisa da sombria era Lula e de performances esquerdistas em museus (a esquerda ainda está na fase anal: não pode ver algo que já quer enfiar no toba), a complicação política maior ainda vem por aí: Chico Rodrigues é vice-líder do governo Bolsonaro.

Sim, do mesmo Bolsonaro que tirou Bia Kicis da vice-liderança por votar de acordo com a consciência, e não com ordens partidárias para negociar com o centrão (talvez o senador Chico Rodrigues tenha inventado uma nova definição de “centrão”). Do mesmo Bolsonaro que retirou Caroline de Toni, Aline Sleutjes e Carla Zambelli da vice-liderança para premiar deputados do PL, PSD, Republicanos, Avante, SD, Patriota, Pros, DEM e MDB. A turma de Ricardo Barros. Os eternos donos do país.

Do mesmo Bolsonaro que ontem mesmo se gabava de não ter corrupção no seu governo. Hoje, o Bom Dia Brasil, um dos programas com menos neurônios de todo o Ocidente, já estava citando de novo a frase de Bolsonaro – “Acabei com a Lava Jato porque não existe mais corrupção no governo”, uma nítida metonímia, transpondo dois sentidos do verbo “acabar” – para forçar o significado precário e pedestre de que Bolsonaro teria interrompido à força a Lava Jato (um paradoxo com o próprio fato narrado, mas isso não importa para o Bom Dia Brasil).

Bolsonaro viajou para Israel com Chico Rodrigues. Bolsonaro, com suas eternas metáforas envolvendo casamento, já disse estar “em união estável” com Chico Rodrigues (ao menos fica claro quem é o ativo).

Como Bolsonaro pode complicar tanto a vida dos conservadores na sua gestão, dentro e fora do governo, e premiar tanto o centrão e o establishment que é o alvo da sua retórica?

José Genoino de toalha de super-herói ao ser preso

O presidente Bolsonaro mandou afastar o senador Chico Rodrigues. É necessário, e mostra um comportamento radicalmente diferente do PT, que condenou à eternidade José Genoino indo para o camburão vestindo uma toalha de mesa como capa de super-herói, fazendo pose de Superman e sendo saudado por petistas (que, hoje, tratam o senador do DEM como se fosse o próprio Bolsonaro, “esquecendo-se” do seu próprio partido).

Mas ainda há trabalho a fazer. De preferência, restaurar a vice-liderança aos poucos (até raros) deputados que fazem um bom trabalho para a sua própria base eleitoral, já que Bolsonaro não foi eleito com discurso de articulação e coalizão, e sim de pautas conservadoras, por segurança e contra a corrupção.


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Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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