Gregório Duvivier: quando ler e quando não ler jornais
Toda coluna de Gregório Duvivier na Folha vira assunto. É preciso saber quando devemos comentar e quando devemos ignorar o youtuber.
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Toda semana a coluna na Folha de Gregório Duvivier vira tema discutido nas redes sociais. Comentamos a última aqui. Tanto o youtuber quanto a Folha sabem disso e contam com isso: é o buzz de suas “polêmicas” que justifica o filho rico do Leblon ter espaço no jornal.
Às vezes falar de Gregório Duvivier é didático: poucas pessoas no Brasil servem tão perfeitamente de anti-exemplo quanto o youtuber.
E falamos de um país de ideologia hegemônica, a aplainar toda a população de forma acachapante; falar com um jovem, sobretudo alguém influenciado e influenciável por Duvivier é falar com todos: todos rigorosamente idênticos em seus desejos, em suas visões de mundo, na noção de quais são os problemas da vida e suas soluções.
Mas às vezes Gregório Duvivier faz “polêmica” apenas por saber que ser tosco é lucrativo (ninguém espere ganhar no Brasil estudando e citando Edmund Husserl ou Thomas Mann antes de cair na boca do Twitter e da Folha). Seguindo o clichê quanto pior, melhor, o youtuber escreve bobagens apenas para o primeiro que ler ficar indignado por ser uma bobagem, e propagandear que Duvivier escreveu uma bobagem para o próximo.
Foi o caso da coluna de hoje, uma espécie de carta para sua ex-namorada para vender seu filme. No reino dessacralizado da esquerda, usar uma mulher como objeto para vender um filme não tem nada de machismo ou exploração sentimental para comercializar um produto cultural industrializado: é lindo, afinal, quem está falando é Gregório Duvivier.
Não é difícil notar quando se trata de um tipo de coisa ou de outra. Num caso, há uma idéia em “debate”, ainda que achatada pela ideologia uniformizadora. É quando Gregório pode ser usado como exemplum maximum da nossa decadência cultural, política, estética, jornalística, intelectual, moral, cívica, partidária, civilizacional, editorial, familiar, existencial, fidagal, sentimental, recreativa e, claro, de assunto. No outro, é Duvivier em seu narcisismo masturbatório contando sempre com o marketing gratuito do Twitter, quando cada crítica deixa seu nome mais alto nos Trending Topics.
A base das duas é a mesma: a vacuidade sináptica e de sentido de vida da ultra-modernidade, a aposta sempre alta e sempre acertadíssima de retorno garantido na ignorância da platéia.
É preciso, como lembra Nassim Nicholas Taleb no maravilhoso livro Antifrágil, saber separar as informações de ruído. Há coisas que podemos ler em jornais que, mesmo como anti-exemplo, são educativas (ou ao menos nos informam sobre a falta de informação da população). E há simplesmente ruído: coisas que têm formato de informação, mas apenas nos emburrecem, tomam nosso tempo e saímos mais ocos de travar conhecimento com do que antes de sabermos de sua existência.
É o que acontece com o Gregório de hoje, em comparação com o Duvivier da semana passada. O maior problema da sociedade brasileira, uma sociedade sem literatura e tendo de gastar seu tempo se fiando por jornais e notícias, é que adora tratar como informação o que é ruído, ou, quando se apercebe e se estafa da manobra, acaba tratando por ruído o que é informação.
O tédio causado por Gregório Duvivier, retroalimentado por sua repercussão calculada no Twitter, é caso para um Søren Kierkegaard ou um Charles Baudelaire estudar. Não se trata sempre de burrice (se bem calculada): às vezes, é caso de desocupação absoluta.
O país só muda quando as redes sociais (que gritam mais alto do que a população) passarem a pautar os jornais e os Duviviers, ao invés de serem por eles pautados.
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