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Lacrou!

Danilo Gentili x Folha: O ocaso do jornalismo de lacração

Todos comentam sobre a demissão do jornalista da Folha após entrevistar Danilo Gentili. Por que ninguém "lembra" que o jornalista MENTIU?

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Danilo Gentili em entrevista a Diego Bargas, ex-jornalista da Folha, sobre o filme "Como se tornar o pior aluno da escola"

Há uma versão simples para um fato simples: o jornalista Diego Bargas da Folha fez uma reportagem sobre o filme Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola, com Danilo Gentili. Fez uma chamada mentirosa, dizendo que Gentili não tinha respondido a algumas perguntas. Danilo respondeu mostrando o vídeo com as respostas e Diego Bargas foi demitido da Folha. Fim.

Mas não é essa história que você lerá por aí. Sem a menor preocupação sobre a justa causa de Diego Braga (ninguém ousa tratar como mentirosa o que está filmado e viralizado), pululam comentários e “notícias” de que um pobrezinho repórter da Folha foi “atacado” por Danilo Gentili, que “incitou” seus seguidores a “travar ‘guerra’ (sic)” contra o coitadinho.

Nenhuma preocupação com a verdade, com o jornalista ter mentido. É essa gente que quer chamar a mídia independente de “fake news”.

A versão mais longa não tem como escapar da simplicidade nível justa causa da versão simples. O jornalista Diego Bargas é o típico jornalista da Folha: militante do PT, com fotos com Lula e Dilma com legendas emocionadas e mensagens partidárias de lacre pelas teses de esquerda.

Ao cobrir o lançamento do filme Como se tornar o pior aluno da escola, roteirizado por Danilo Gentili, André Catarinacho e Fabrício Bittar, o jornalista Diego Bargas achou por bem ignorar o filme e tentar arrancar uma lacrada para ser compartilhada com urros e faniquitos pela lacrosfera.

Jornalistas tentam isso ao criar o que americanos chamam de story: é preciso um personagem e uma narrativa com desfecho que gere uma manchete sensacionalista, e nenhum personagem melhor no país para isso do que Danilo Gentili, que nem é lá muito polêmico: apenas é um humorista com duas nozes e coragem de fazer piada com a esquerda (ler ao som de “oooohhh” e sussurros de indignação ao fundo).

Diego Bargas, tendo oportunidade de entrevistar Danilo Gentili, não cumpriu seu papel jornalístico, de discutir o filme, inclusive suas reais polêmicas: preferiu discutir (surprise, surprise) a opinião política de Danilo Gentili. E, claro, de outros desafetos da esquerda brasileira, como se tivessem alguma coisa a ver com o filme.

Insatisfeito com o insucesso de sua empreitada (não conseguiu nenhuma frase marcante para uma lacrada), saiu-se dizendo em um jornal do tamanho da Folha que Danilo Gentili “preferiu não responder sobre piadas com pedofilia”. Era a segunda chamada da Folha.

O problema: Danilo Gentili havia respondido. O jornalista estava mentindo. Gentili mostrou a entrevista gravada, avisando que provaria que Diego Bargas estava mentindo.

O resultado: Diego Bargas foi demitido da Folha. E ao invés de admitir tudo o que a internet já sabia sobre ele (que tinha mentido, que estava tentando lacrar, que não tinha falado nada do filme, que sua chamada era fanfic etc etc), culpou: 1) Danilo Gentili; 2) a onda conservadora; 3) a pós-verdade (sic); 4) os tempos sombrios (choveu muito em São Paulo nesses dias); 5) os fãs de Danilo Gentili; 6) o fato de Danilo divulgar um print, e não um link para a sua matéria; 7) o ódio; 8) o fato de ser conterrâneo de Gentili; 9) a Warner Bros e a Paris Filmes; 10) o fato de ter “desafiado” Gentili (?!); 11) as suas frases favoráveis a Lula, Dilma e Haddad serem ridículas e irrelevantes (d’accord); 12) o MBL; 13) o ódio de novo; 14) a onda de ódio que tirou seu emprego; 15) o ódio liderado por Danilo Gentili, já que ninguém no país sabe odiar sozinho. Não pareceu exatamente uma mensagem hate-free, mas ele jura que o problema é o ódio… dos outros.

Jornalista Diego Bargas, demitido da Folha de São Paulo por mentir sobre filme "Como se tornar o pior aluno da escola", com Danilo Gentili

Em suma: a culpa é de Deus e o mundo, exceto dele e de sua fake news. E olha que estamos falando da Folha. Nessas horas, esquerdista lacrante adora terceirizar culpa. Ou melhor: socializar, distribuir, promover a igualdade culposa total.

Diego Bargas foi vítima única e exclusivamente de si próprio e de seu péssimo profissionalismo (e olha que estamos falando da Folha!!). Suas perguntas, aliás, longe de “desafiadoras”, foram tosquíssimas, nível “Por que não colocar o Alexandre Frota e a Sheherazade no elenco?” (ei, seu Spielberg, não acha que tinha de ter espaço para o Alf e o Alien nesse filme do ET?).

Justa causa

Há um problema claro, que marca um turning point na história do jornalismo lacrador brasileiro: as redes sociais. Americanos não usam Facebook e Twitter como brasileiros usam (até mesmo a infame alt-right surgiu no obscuro 4chan). Não é instantâneo e imediato: americanos não usam até uma rede de notícias como chat.

Notícias como a tentativa de lacre de Diego Bargas teriam funcionado se as pessoas manipuladas não tivessem uma plataforma que gere público organizado. A Folha publicaria mentiras, parte do público cairia, alguns poucos outros teriam acesso a uma informação que prova o erro (ou a mentira) e uma minoria viria um “Erramos” na edição seguinte.

Os tempos mudaram. O ombusman da Folha hoje vale muito menos do que passar vergonha em público no Twitter. Até mesmo a Folha (a Folha!) se vê obrigada a demitir um jornalista esquerdista por inventar fake news, não importando o chilique mimimi de desculpas que ele dê depois.

A grande e velha mídia pode tentar atacar alguém que ouse falar mal do PT, unicamente dizendo que ele é que ataca (e incita, e persegue etc). Pode tentar ignorar a todo custo que o jornalista mentiu (toda mentira é válida pra proteger a esquerda e atacar conservadores) e que o jornalista foi demitido por justa causa. Justíssima causa. Mas a internet fica sabendo bem antes de jornalistas terem tempo de fazer sua versão dos fatos para tentar fazer alguém acreditar.

Quem acredita é só a militância fanática, que acreditará que Danilo Gentili ele próprio obrigou crianças a lhe masturbarem para entrar no elenco do seu filme antes de averiguar se não há uma confusão no telefone-sem-fio aí. E aí, cria-se o clima de “polarização” que tanto dizem: entre crentes e céticos, entre uma manada manipulada pela mídia e gente com o desconfiômetro ligado.

E a tentativa de chamar de fake news tudo o que não seja chancelado pela grande e velha mídia – mas sem que a mentira esteja escancarada no seu jornal, só vale defender o jornalista mentiroso no jornal alheio.

A quizomba entre Danilo Gentili e um jornalista da Folha qualquer que foi tentar resenhar seu filme é auspiciosa ao Brasil sobre uma possível mudança pendular no fenômeno do jornalismo de lacração, quando jornalistas escrevem panfletos partidários, textões de recalque e fanfics de esquerda mimada em forma de matéria de jornal, mormente na grande e velha mídia.

É o que faz com que universitários lobotomizados gritem “lacrou!” sem se preocupar com lógica, ou digamos, a verdade dos fatos. A mídia hoje é completamente fake news, e alguém dizer que não acredita no que sai no jornal é quase um atestado de sanidade.

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Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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