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Vaquinha

A vaquinha de Dilma foi para o brejo

Dilma Rousseff fez uma vaquinha para viajar com aviões da FAB. Seu plano de pagar as próprias contas com dinheiro alheio ruma para um atoleiro (outro).

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Dilma Rousseff vive época de vacas magras. Apesar de ainda poder receber, usufruir do Palácio do Planalto e ter como advogado próprio aquele que foi alçado a tal função por ser Advogado Geral da União (quando Dilma é acusada de cometer crimes contra a União), sua sorte parece irremediavelmente ir para o brejo.

Dilma tinha o privilégio de poder usufruir dos aviões da FAB a seu dispor. Como presidente afastada, não possuía mais nenhum evento “oficial”, o que a deixava na confortável e discutível posição de poder usar aviões oficiais do país (além de toda a tripulação) para projetos pessoais. A mamata foi questionada e a mamada acabou.

Após afirmar então que não é uma pessoa normal que possa pegar um vôo de carreira como pessoas normais fazem – o que inclui o Primeiro Ministro britânico David Cameron, que voa em companhias de baixo custo na classe econômica, o presidente argentino liberal Maurício Macri e, claro, o juiz Sérgio Moro –, e sem poder agir tão livremente usando o dinheiro do trabalhador brasileiro para seus anseios pessoais de poder e escapar da Justiça, duas amigas suas de época de guerrilha terrorista de esquerda saíram-se com a iluminação de que poderia fazer uma vaquinha para seus gastos.

Guiomar Silva Lopes e Maria Celeste Martins conseguiram, na primeira meia hora, arrecadar R$ 2.410. Em quatro horas, já havia R$ 66 mil nas mãos de Dilma Rousseff. O objetivo era arrecadar R$ 500 mil até agosto. Em 21 horas, mais de 50% da meta havia sido atingida.

Algo estranho? Bem, os números fazem alguns levantar os sobrolhos em sinal de saudável suspicácia:

https://twitter.com/mafiasummers/status/748837501964587008

Se a idéia é ser popular, povão, partido dos trabalhadores, sindicalista que fala cuspindo, a periferia contra os coxinhas da elite, os números soam um pouco hiperfaturados. Para um partido que está justamente enfrentando acusações de lavagem de dinheiro, talvez tudo soe por demais familiar.

De acordo com o iG,

Quem contribuir com mais de R$ 10 receberá uma foto oficial autografada em versão digital, um vídeo de agradecimento, além de citação no site da presidenta afastada.

Foto autografada em versão digital. Aparentemente, este é o jpg mais caro do mundo. Sugerimos uma forma mais barata de conseguir imagens de Dilma Rousseff. Neste link, por exemplo.

Guiomar se justifica:

“As medidas coercitivas em relação à presidenta Dilma são absurdas, ilegais. Como é que um governo como esse tira qualquer direito, inclusive de mobilidade, da presidenta?

Por alguma causa que nos escapa, parece que o governo Temer também nos tirou o direito de mobilidade por não nos disponibilizar os jatos da FAB para nossos projetos pessoais de poder. Não entendemos como essa quizomba com o Uber contra os taxistas não foi resolvida de maneira mais simples: com o governo garantindo nosso “direito de mobilidade” com aviões da FAB.

Dilma poderia ter menos nojinho de povo e andar em aviões de carreira, junto com as pessoas que quer governar – a idéia de crowdfunding, por definição, pressupõe apoio popular (embalado em urros primitivos de “Fora Temer!” e “Golpista! coxinha! fascista!”). Poderia fazer um teste, numa primeira classe que fosse, para ver o resultado. Seus assessores (Guiomar e Celeste a tiracolo) estariam de celulares em punho mostrando o alto apoio popular dos pobres – que antes não podiam viajar de avião, e agora estão indo passar férias em Miami, com o mesmo perfume da patroa, graças ao PT, de acordo com outro ex-presidente e ex-ministro da Casa Civil do mesmo partido – à presidente.

Igualzinho ocorre com Sérgio Moro, com David Cameron, com Maurício Macri – e com Janaína Paschoal, quando não é cercada pelos esbirros e beleguins da presidente afastada, sem nenhum apoio de feministas que ajuramentam que feminismo é “defender mulheres”.

O problema surge no Tribunal Superior Eleitoral. Sem ter mais controle sobre o dinheiro das estatais – e em risco de perder até mesmo boa parte da bolada dos sindicatos, graças a projeto do deputado Paulo Eduardo Martins (PSDB/PR) que extingue a “contribuição” obrigatória, este oxímoro –, o plano de Dilma era usar a vaquinha tão bem sucedida para algo além de pagar aviões de luxo com o dinheiro de, digamos, pobres.

Tal idéia de “financiamento de campanha por crowdfundingfoi rejeitada pelo TSE, após questionamento dos deputados Alessandro Molon (Rede-RJ) e Daniel Coêlho (PSDB-PE).

Fator óbvio: se as despesas de Dilma com luxos inacessíveis aos comuns mortais (e juízes, e presidentes, e Primeiros Ministros de países absurdamente mais ricos do que o Brasil) consegue ser paga com dinheiro do brasileiro (sempre com dinheiro do brasileiro) sem muito problema no caso de viagens, uma campanha eleitoral feita por “vaquinha” seria uma vaca atolada no brejo por si.

O partido que criou o maior esquema de caixa 2, de lavagem de dinheiro e de financiamento ilegal para eleições ganhas de maneira ilegal de todo o planeta levantaria ainda mais suspeitas ganhando dinheiro para eleições, digamos, via vaquinhas. E isso porque os donos da Odebrecht, JBS, Andrade Gutierrez e outros proletários estão presos.

O plano B de Dilma e do PT é uma vaca atolada. Sua primeira vaquinha só não vai pro brejo junto por pura omissão jurídica.

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Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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