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Tico Santa Cruz debocha do Estado Islâmico

Tico Santa Cruz fez troça da Polícia procurar terroristas em redes sociais. Mas a novidade do Estado Islâmico é justamente o uso das redes.

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Tico Santa Cruz fez troça da Polícia Federal – não a respeito de algo que envolva o PT ou a esquerda, como são as críticas do músico, mas em relação à Operação Hashtag, que prendeu 10 pessoas ligadas ao Estado Islâmico usando redes sociais.

Tico Santa Cruz no Facebook debocha do Estado Islâmico

https://www.facebook.com/ticosantacruz/posts/925322930933681

Tico Santa Cruz crê estar fazendo um grande deboche, como se o governo da chapa em que ele votou, mas que não gosta mais, estivesse apenas de brincadeira procurando terroristas perigosíssimos através de redes sociais.

O problema é que o diferencial de grupos como o Estado Islâmico é, justamente, o uso de redes sociais. Sem Twitter, Facebook, WhatsApp e Telegram, diga-se, o Estado Islâmico provavelmente não teria 50% da força que possui. Até seu método histriônico de matança, com decapitações divulgadas pelo Youtube (prática comum em todos os países efetivamente islâmicos), usa a internet para chocar os kafir, os “infiéis” ocidentais que nada conhecem do método shari’ah de lidar com elementos indesejados. Entre eles, Tico Santa Cruz, que de islamismo até hoje não estudou nada.

O método é conhecido como Jihad 2.0. É inclusive o nome de um documentário francês. Janis Just, do Times of Israel, é autor do livro Jihad 2.0: The Impact of Social Media on the Salafist Scene and the Nature of Terrorism. O tema é considerado, na verdade, quase a única diferença de grupos como o Estado Islâmico em relação a seus irmãos mais velhos, como al-Qaeda, Hamas, al-Aqsa, Jihad Islâmica, Hezbollah ou os Mujahideen.

Em português, podemos ler o relato Na pele de uma jihadista: A história real de uma jornalista recrutada pelo Estado Islâmico, de Anna Erelle, que conta como funciona o aliciamento por redes sociais do califado. Isto, claro, são os livros que só conseguimos ler se um projeto como o Escola Sem Partido passar, já que o Partido da atual Escola Com Partido considera todas estas leituras apostasia.

Jihad 2.0 é um conceito que está em todos os veículos do mundo. Do ex-blogueiro mais lido da América e preferido de Barack Obama, Andrew Sullivan, a palestras do Homeland Security. No DN português ou na progressista Atlantic americana. No Hindustan Times (!) ou mesmo no El País. A Vogue – repetindo: a Vogue – escreveu sobre como o Estado Islâmico recruta jovens pela internet. E o imprescindível PJ Media mostrou documentos em inglês sobre como os terroristas devem pegar vôos para chegar à Síria via Turquia, com toda a linguagem ocidental, incluindo piadinhas machistas e ironias típicas da língua inglesa.

A repórter Jenan Moussa, da Arabic Al Aan TV de Dubai, é grande especialista em obter dados obtidos por serviços de inteligência sobre o Estado Islâmico, sobretudo por seus canais no Telegram, e traduzi-los para o inglês. Uma especialista que deve ser seguida, no Twitter @jenanmoussa. Sua grande colaboração é mostrar dados de serviços de inteligência ao redor do mundo que fazem exatamente o que permitiu que a Polícia Federal prendesse os terroristas. Basta pesquisar fora das fontes que os partidários que Tico Santa Cruz segue permitem.

Jihad 2.0 também faz parte do que o famoso dissidente bielo-russo Evgeny Morozov narra em The Net Delusion: The dark side of the internet – how not to liberate the world. O curioso é que os terroristas grassam justamente através da tolerância ocidental com o islamismo através do medo da propaganda “islamofóbica”: aquela mesma que Tico Santa Cruz tanto leva adiante.

Para se tornar mesmo engraçado, o desenho animado politicamente incorretíssimo South Park narrou, em sua última temporada, a transformação da cidade em um totalitarismo politicamente correto, com todas as normas da cartilha da esquerda sendo aplicadas. Os meninos, para se livrarem da loucura, se vestem de “ninjas” e buscam outros “ninjas” cobrindo o corpo de preto pela internet. Quem tem um pouquinho a mais de QI do que Tico Santa Cruz já pode imaginar quem eles encontram.

Terroristas do Estado Islâmico em South Park

Tico Santa Cruz é a própria esquerda que se fez carne: não sabe nada sobre o que fala, faz troça de coisa séria e acredita estar detonando tudo, seguindo a modinha. Sempre com uma empáfia de quem sabe tudo – mas que na verdade não leu nem a primeira página do Google a respeito do tema de que fala (será que Tico Santa Cruz sabe o que é jihad?).

A esquerda cada vez mais está divorciada da realidade: o que diz simplesmente não faz sentido com os fatos concretos com que as pessoas normais têm de lidar fora de suas – oh, ironia! – conversinhas de Facebook.

Quando sua cosmovisão ideológica, política e filosófica não resiste a uma piadinha de South Park, é porque você realmente precisa estudar. Não grandes livros, mas talvez um abecedário infantil para ensinar o básico sobre o mundo.South Park "ninjas" do Estado Islâmico - piada homofóbica

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Assuntos:
Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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