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Por que adoram Jean Wyllys?

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jean wyllys bbb

O deputado e ex-BBB Jean Wyllys (PSOL-RJ) foi eleito pela revista The Economist uma das “50 personalidades que defende a diversidade”. Mesmo estando em 13.º a uma semana da eleição, o prêmio do Congresso em Foco mudou sua metodologia de última hora e ele sagrou-se o melhor deputado de 2015, vencendo antigos primeiros lugares, como Eduardo Bolsonaro, sendo seguido por uma farândola de deputados do PSOL e PCdoB (Tiririca ficou em 14.º).

Algumas pessoas estão tentando entender o fenômeno do BBB Jean Wyllys. Se, como o mito Lula, tão bem trabalhado por Duda Mendonça, haveria algo em sua história, sua luta desde a pobreza da infância até a fama no reality show, que garantisse seu lugar ao sol. Alguns também tentam entender sua atuação no Congresso, suas lutas contra bastiões da política contrários à agenda progressista. Ou mesmo se busca compreender o furacão Wyllys através de sua produção intelectual, como sua entrevista na revista Cult.

Podemos chutar que estão tentando compreender o sucesso de Jean Wyllys no lugar errado.

Não se conhece muito de sua atuação na Câmara além de defender as causas LGBT. Não é preciso perguntar a opinião de Jean Wyllys a respeito de tema nenhum: basta-se pensar em um assunto e saber qual é a resposta pronta que a esquerda tem para aquele assunto.

Qual a opinião de Jean Wyllys sobre qualquer tema, de demarcação de terras indígenas ao islamismo, de aborto ao UFC? Simples: a opinião mais recente da esquerda. Jean Wyllys não é um indivíduo, não é alguém com um histórico próprio como Lula ou Frei Betto, não é alguém com quem se possa se surpreender por um único segundo.

Jean Wyllys já veio pronto de fábrica. Jean Wyllys é o deputado óbvio. Jean Wyllys é o previsível non plus ultra. Jean Wyllys é o deputado clichê de adolescência. Jean Wyllys é o deputado-DCE. O que quer que seja a nova modinha pós-adolescente em uma faculdade de artes cênicas ou ciências sociais, catapimba, é exatamente isto o que Jean Wyllys defende.

Para se analisar por que Jean Wyllys é tão adorado, então, é preciso olhar para fora de Wyllys: para qualquer Universidade de pensamento único, para qualquer pós-adolescente recém-saído do ensino médio eivado de idéias prontas tiradas do seu estudo para o ENEM.

JeanWyllys-bbb-globo-altashorasJean Wyllys é só a reprodução deste discurso instantâneo – quanto mais hormônios e mais frustração, principalmente sexual, melhor. Qualquer conflito familiar ou dificuldade de aceitação social torna o jovem um wyllysista ainda mais ortodoxo. Retire os votos de Wyllys dos universitários com poucas habilidades sociais e muita vontade de encontrar sua turma de ex-excluídos e nosso herói Big Brother não terá votos o suficiente nem para entrar de rabeira no Congresso, como foi na sua primeira eleição.

Ou seja: não se deve buscar os louros de Wyllys em Wyllys. Deve-se buscar exatamente no que constrói Wyllys, em sua exterioridade pura. A esquerda adolescente não possui grandes nomes em quem votar – um Mauro Iasi soa antiquado, nenhum outro moderninho é moderninho de todo, nem planificado e integralmente concordante o suficiente. Sem outros nomes, toda a esquerda adolescente vota em Jean Wyllys, tornando-o na segunda eleição um campeão de votos. Não por alguma característica sua, não por algo em seu interior, mas pelo seu clichê cabal.

Não é a pessoa de Jean Wyllys que garante seu sucesso – não fosse ele, seria qualquer outro que aceitasse o DCE. Jean Wyllys é integralmente substituível. É o deputado que envida seus melhores esforços para ser uma engrenagem. Jovens, que costumam achar o oposto de si próprios, mas costumam ser radicalmente autoritários, como notou Hugh Laurie, sentem que podem “controlar” Wyllys por ele sempre pensar e agir da mesma forma do que eles. Nada melhor para o sentimento de “representação”, ou mesmo “participação” política, do que ter alguém sempre tão previsível no comando.

Basta-se pensar mesmo na idéia do prêmio da Economist, tão comemorado e alardeado por seus seguidores fiéis, todos indistingüíveis entre si numa massa homogênea.

Não é um prêmio para as grandes personalidades fazendo a diferença no mundo, como foi o caso de Kim Kataguiri, considerado um dos 30 jovens mais influentes do mundo pela revista Time. A Time considera a influência de todos os jovens do planeta. Pelo contrário: a Economist deu um prêmio de consolação: para aqueles que “defendem a diversidade”. Ou seja: apenas para os já esquerdistas, para quem já faz parte de algum coletivo, partido ou movimento gay. Para quem tem uma agenda pronta, mesmo sem fazer nada além de repeti-la.

Não é, por exemplo, um prêmio entre quem “defende direitos humanos”, e dentre todos do mundo (quase sempre considerando-se apenas esquerdistas, com ocasionais laureamentos a alguém que lute contra a opressão socialista/islâmica), de repente aparece Jean Wyllys. Pelo contrário, é um prêmio apenas para as grandes personalidades do mundo que tenham a sua agenda integral. Dentre esses, pensam em alguma personalidade da agenda LGBT no Brasil, dão de cara com um deputado com este discurso repetido ad nauseam voilà, está escolhido por obviedade quem será o agraciado no país de 200 milhões de habitantes da América do Sul. Novamente: não fosse ele, seria qualquer outro repetindo o mesmo.

Jean Wyllys Che GuevaraÓbvio que quem luta mesmo pela desigualdade no mundo são os soldados lutando contra jihadistas que mutilam mulheres e enforcam gays ou os atiram de prédio porque aplicam a shari’ah muçulmana. Ou a direita americana, empenhando-se para que estes totalitários genocidas e fanáticos religiosos não tenham uma bomba atômica no Irã. Ou Israel, o único país no Oriente Médio em que gays têm livres direitos, em que mulheres não são cidadãs de segunda classe, em que árabes podem ocupar postos na Suprema Corte e em que ateus, cristãos, judeus e outros religiosos não são hereges a sofrerem punições jurídicas. Ou os que se posicionam contra regimes como o russo ou o cubano, com suas perseguições a homossexuais (Jean Wyllys, por outro lado, é o deputado que se veste como o guerrilheiro Che Guevara, que perseguia gays e cabeludos no curto período em que cuidou de destruir a economia cubana após a Revolução).

Mas estes não importam para tais pesquisas de “defensores da diversidade”. O que Jean Wyllys fez pelos homossexuais que possa ombreá-lo com personalidades do porte de Bill Gates ou Angelina Jolie? Absolutamente nada, além de lobby contra a “bancada evangélica” (como se chama a sua bancada?), gastando dinheiro do pagador de impostos brasileiro (Wyllys acha que o salário de deputado de R$ 26.723,13, fora todos os benefícios que assomam mais de R$ 100 mil/mês, é “igual ao de professor”) para que meses de trabalho de Comissão dos Direitos Humanos fossem inutilizados.

Fora criticar evangélicos e alguns atos performáticos, Wyllys parece ter feito mais pelos gays (ou qualquer outro que não ele mesmo e alguns deputados do PSOL ganhando votos na rabeira de sua fama na Rede Globo) como participante do Big Brother do que como congressista.

Claro que “diversidade”, na lista da Economist, é apenas eufemismo para “diversidade de opções sexuais”, o que naturalmente ignora qualquer um que faça realmente algo pelos gays, como o juiz conservador Anthony Kennedy, da Suprema Corte americana. Ou Humphrey Berkeley, conservador do parlamento britânico assumidamente gay, que fez com que a lei descriminalizando sexo homossexual masculino passasse pela Câmara dos Lordes, este aristocrático órgão que tanto defende direitos de minorias – os direitos dos gays foram apaixonadamente defendidos pelo também conservador Arthur Gore, enfrentando resistência daquela esquerda ainda tão enfeitiçada por casernas e fardas. O próprio primeiro ministro britânico, David Cameron, declarou recentemente que defende o casamento gay justamente por ser um conservador – e defender, portanto, direitos individuais, e não planos coletivistas.

eros civilizaçãoTais pessoas tampouco entrariam numa lista como esta. Qualquer estudioso de História que não se fie pela interpretação única sabe que os únicos países do mundo em que os direitos de minorias prevaleceram, por óbvio, foram as aristocracias e repúblicas com tradição conservadora. Os progressistas chegaram a considerar a homossexualidade até mesmo a uma “perversão capitalista”, que seria eliminada no advento do socialismo, como definiu William Reich. Apenas após livros como Eros e a Civilização, de Herbert Marcuse, ou a obra de Michel Foucault, que a esquerda inverteu o seu discurso e percebeu que, com a felicidade que o capitalismo dava aos pobres, a revolução só poderia vir dos sexualmente frustrados – e então eles passaram a ser utilizados como massa de manobra e propaganda anti-cristã.

Fazer tais coisas por gays nunca renderá louvores e muito menos reconhecimento de quem já está buscando quem “luta pela diversidade”. Basta ter um discurso de aversão e belicosidade, o mais vitimista possível, para estar nesta lista, mesmo sem fazer nada, ou enaltecendo quem faz algo contra gays (seja se vestir de Che Guevara e apoiar projetos exigindo o estudo do islamismo no Brasil ou até o bom e velho “Quem é este Kassab? É casado? Tem filhos?”).

“Diversidade”, neste caso, é apenas este discurso aguerrido, não algo factual. Diversidade, afinal, é uma causa da direita, não da esquerda (esta presa pela igualdade, o seu exato oposto). É o tema de muitas obras tanto à esquerda quanto à direita, de Direita e Esquerda, do progressista Norberto Bobbio, a Liberty or Equality: The Challenge of Our Times, do reacionário Erik von Kuehnelt-Leddihn. Wyllys luta pelo contrário da diversidade, fora a sexual: luta pelo que Leddihn chama de the cult of sameness: pela igualdade, pela homogeneidade, pela uniformidade, pela mesmice, pela planificação, pelo nivelamento por baixo. É, enfim, alguém de esquerda.

wyllys umbanda

Basta ver em sua página, em seus posts e em tudo o que diz como para ele existe um centro homogêneo de posições que “valem ser discutidas”, desde que já com a conclusão pronta (aborto, casamento gay, perseguição a religiosos, pautas socialistas) e outra massa, em sua imaginação igualmente homogênea, de “fascistas”. Ao se ler o que Wyllys escreve, sente-se que é impossível sair nas ruas do Brasil sem dar de cara com camisas negras e exaltações a um grande Estado plenipotenciário que deva dirigir a sociedade. Bem, no segundo caso, até há alguma verdade, mas as camisas que defendem tal modelo são vermelhas. Ou de um amarelo-envergonhado-peidei-na-festa como o do seu partido.

natalia-jean-wyllys-bbbChamar a todos os discordantes de um adjetivo meramente metafórico, tomado como descrição pura, com forte carga sentimental, é justamente a técnica dos fascistas para excluir os “não-merecedores de atenção” do debate público. A diferença agora é que a palavra que ficou negativa foi, justamente, “fascista” – associada justamente a quem odeia o fascismo a ponto de se calar ao ser xingado disso.

O BBB Jean Wyllys, portanto, não tem méritos próprios, não é alguém que seja aplaudido por onde passe como seu arqui-rival Bolsonaro (seu partido, o PSOL, garantiu que Bolsonaro “não é bem vindo” em Pernambuco horas antes de ele ser praticamente carregado nos braços do povo no aeroporto). É alguém que causa gargalhadas no povo ao afirmar que “faz oposição ao governo Dilma” (e depois ameaça usar seguranças para expulsar o povo da Câmara), em uma CPI inventada por ele para perseguir adversários políticos, e da qual ele próprio preferiu fugir depois de perceber que apenas ele mesmo ficava mal visto aos olhos do povo.

Jean Wyllys é ainda alguém que acredita no Big Brother. Não só no da Globo, a quem deve tudo o que tem, mas no de George Orwell, o “Grande Irmão” que vigia todos para que estes “sejam felizes” através de sua benevolência centralista estatal.

Que fique com seus prêmios de consolação, tudo o que consegue, além do riquíssimo salário de deputado tirado de nosso suor. Uma pena que use pessoas marginalizadas, como os gays, como massa de manobra para seus projetos pessoais.

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Assuntos:
Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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