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Eu odeio pobre!

Não tem problema celebridade aglomerar, você é que é pobre

Felipe Neto joga futebol, mas é dono do campo. Bruna Marquezine e BBBs vão pra ilhas privadas. O que não pode é você que pega ônibus e espalha germes

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Já avisamos: fique em casa – as celebridades querem sair e você está atrapalhando! Se tem um problema nesse país pior do que a criminalidade, a novela das 9, as palmas na missa e filho da empregada pagando faculdade pro rico de camiseta do Che é gente que atrapalha celebridade.

Logo as celebridades, que são a razão de ser do país. Esses dias, um neonazista de nome Rica Perrone filmou extrema-direitamente Felipe Neto, o homem, a lenda, a foca, jogando futebol com seus amigos.

https://twitter.com/RicaPerrone/status/1343758415806476296

Após o ataque covarde e homofóbico, São Felipe Neto se explicou, afirmando que (atenção para altíssimas doses sobrehumanas de heroísmo!) atuou como goleiro (a culpa foi só do resto dos jogadores, portanto!!), que estava de máscara, que não teve contato com ninguém (repetindo: a culpa foi desses genocidas no resto do campo!!) e… PASSANDO ÁLCOOL GEL EM TUDO, o que nos faz questionar o que raios o Alysson tá fazendo na seleção (duvido ele segurar bola cheia de álcool gel!).

Este mesmo Felipe Neto aqui:

Ou, mais especificamente, este Felipe Neto aqui, que apagou o tweet após seu departamento de Relações Públicas perceber o que dá deixar o lado humano de Felipe Neto mexer na conta sozinho, e todos os prints desaparecerem por mágica do Twitter, milagre que só um santo já canonizável em vida como Felipe Neto é capaz de realizar:

Dias depois, estavam lá Dilma Rousseff, Patrícia Pillar e outras celebridades sendo divulgadas no seu Twitter, para mostrar que o problema do Brasil, de fato, é o brasileiro – o brasileiro que atrapalha com seus germes a existência dessas celebridades que querem salvar o Brasil de nós. Por que vocês  ainda respiram e expiram vírus perto de Felipe Neto e seus amiguinhos?!

https://twitter.com/LucasHer80/status/1345466712351776768

Bruna Marquezine, que descobrimos ser a ex de Neymar, também foi fascistamente criticada – ou melhor, atacada, que é como jornais de celebridades chamam essa escumalha da humanidade que insiste em ousar discordar do comportamento angelical de celebridades.

Afinal, Bruna Marquezine defendeu tanto o lockdown para nos salvar, enquanto nós, os genocidas, insistíamos em sermos motoboys, atendentes de supermercado, faxineiros, pedreiros e, afinal, pessoas normais, ao invés de fazer isso tudo de home office, pedindo iFood.

Mas a crítica é que Bruna Marquezine também foi festejar no Natal. Ué, ela é uma celebridade! E veja bem: foi festejar numa ilha privada! Espalhou germes para você? Não, te protegeu! Você é que pega busão lotado, vai aglomerar com mais 30 pessoas no barraco de 78 m² da sua tia com um monte de primos piolhentos além de duas vós e uma bisavó e vai ser um genocida! Não viu o cuidado e o trabalho que Bruna Marquezine teve para se cuidar?!

Ela pode. Quem também pode é a ex-BBB Thelma Assis, que além de tudo é médica. Médica e BBB, quer combinação mais científica e anti-desinformação e fake news?! Ela também estava na ilha com Bruna Marquezine, Manu Galvassi e Rafa Kalimann (não sabemos se é homem ou mulher, deu certa preguiça de abrir mais uma aba).

Thelma ganhou dinheiro da prefeitura de São Paulo para fazer a campanha Fique Em Casa, que salvou vidas impedindo que os pobres compartilhassem micróbios com nossas celebridades. E foi para uma ilha! Entendeu? Uma I-L-H-A, não foi aglomerar em metrô fedendo a suvaco e peste chinesa como você.

Entenda: você é o problema. Você que aglomera, enquanto Gregório Duvivier “desopila”. Você que vai na Praia Grande (pobre!) e grita “Mito!” pro Bolsonaro, ao invés de ir celebrar a legalização do aborto na Argentina, no caminho do fim de ano em Bariloche. Você que não obedece o Atila, e causou os 3 milhões de mortes até agosto. Você que “fura quarentena”, enquanto celebridades “abandonam isolamento”.

Você que não é o Luciano Huck, que é do “fica em casa”, e extremistas de direita divulgadores de fake news acusaram de ter feito uma festa sem máscara. Ora, mas estava em casa! E as outras dezenas de pessoas também estavam na casa. O problema é a sua casa, que não cabe nem você e um micróbio sem já saírem se esfregando. Essa extrema direita é genocídio puro. E não é feita de jornalistas profissionais como as celebridades.


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Assuntos:
Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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