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As ameaças a (e de) Tico Santa Cruz

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tico santa cruz ameaça

Tico Santa Cruz, o vocalista do CPM 22 (ou NX Zero, ou Fresno, ou Pitty, ou Detonautas, ou alguma coisa emo brega que surgiu nos anos 2000, enfim) sofreu ameaças virtuais. O vocalista é famoso por suas opiniões favoráveis ao PT. Não se conhece muitos seres humanos que conhecem a sua banda (sobretudo entre quem tem mais de 12 anos, ou tinha na década passada).

Ameaças à vida são coisa até razoavelmente freqüente na internet, onde todos se sentem um Deus ex machina atrás de um monitor, no conforto do seu quarto. Mas nunca se sabe quando um maluco psicótico estará do nosso lado – ameaças, portanto, devem ser levadas a sério. Sobretudo quando envolve ameaças à família de Tico Santa Cruz, como foi o caso: algum facínora ameaçou seu casal de filhos, que não tem nada a ver com as opiniões do pai.

O curioso do caso envolve a pessoa e a substância de seu pensamento – hominem et rem.

Muitas pessoas são ameaçadas na internet por muito menos. Ou sofrem de injúrias, calúnias, difamações, perfis fakes e boataria – o rolo compressor do assassinato de reputações que hoje é arma corrente na guerra virtual, a netwar.

Poucas, entretanto, já sofreram ameaças de morte in loco, ao vivo e em cores. Ainda mais raras são aquelas que sofreram ameaças de morte usando-se uma turba enfurecida pronta para concretizá-la.

Uma dessas ameaças já envolveu Tico Santa Cruz. Não como ameaçado, mas como ameaçador. Basta ver o vídeo:

https://www.youtube.com/watch?v=Exe0IDzgTGc&feature=youtu.be

Numa reportagem do G1, justamente os trechos mais ameaçadores, injuriosos e violentos são transcritos como “(…)”. O foco maior, fora a primeira ameaça, é a, digamos, “argumentação” de Tico para dizer que o técnico de PA ameaçado de morte por ele estava “errado”. Nada de falar de 10 mil pessoas contra uma, de dizer que pedirá para as pessoas o trazerem para o palco.

Tico ainda se “justificou” posteriormente, dizendo que não foi uma ameaça, foi apenas um “desabafo”, que já tinha pedido desculpas e tudo ficado por isso mesmo. No vídeo, o “desabafo” envolve conclamar que 10 mil pessoas o matem ali mesmo.

Ainda assim, a manchete do G1 nada fala sobre as reiteradas ameaças de morte, apenas sobre Tico Santa Cruz “se irritar”. E que foi um “desabafo” após uma “confusão”. Imagine-se como seria a reportagem se o cantor ameaçador fosse Roger, do Ultraje a Rigor, ou Lobão, ou qualquer um contrário ao PT. Tudo é tão atenuado que até explicações sobre a qualidade de som são dadas, como se o problema mesmo fosse o som estar ruim.

Não foi o único caso de Tico usando uma turba violenta, e in loco, para ameaçar a integridade de uma pessoa (e, no caso, a vida). Tico já interrompeu um show para ameaçar um rapaz que cuspira nele.

Algo terrível, mas pelo qual vários músicos profissionais já passaram (de Steve Harris a Lobão, ou como Dave Grohl, do Foo Fighters, que interrompeu um show para expulsar um rapaz brigando), mas, apesar do nervoso de todas as cenas, é difícil encontrar alguma com uma ameaça tão séria envolvendo uma turba enfurecida para matar alguém como é a de Tico Santa Cruz.

O mesmo vocalista do Cine (ou Dance of Days, ou Aditive, ou Jota Quest ou whatever) é o típico novo “intelectual” brasileiro a defender o governo enquanto capta recursos para sua banda através da Lei Rouanet.

Enquanto consegue dinheiro para um projeto “cultural” para o qual as pessoas não dariam dinheiro se não fossem obrigadas, troca elogios ao PT, controlando a verba. É o típico cenário que seria considerado corrupção ou mesmo totalitarismo em qualquer lugar civilizado, mas, transformado em lei, é dado como a maior das normalidades em nosso país.

Não parece à toa, portanto, que o vocalista também defenda a ditadura cubana dos irmãos Castro, afirmando que lá, pelo menos, ninguém é analfabeto (não se sabe quais livros são livres para ler).

É por isto que Tico Santa Cruz integra o rol de “intelectuais” e celebridades e sub-celebridades que defendem o PT e, justamente por isso, são ainda lembrados e ganham alguma espécie de relevância (alguém sabe o que Pablo Villaça faz? Alguém levaria a sério alguém que se auto-declara “socialista morena” em tempos não-doentios?).
tico santa cruz cabeça
É uma turma que sempre tem um discurso pronto: precisamos de cotas, ou negros não chegarão à Universidade. Precisamos legalizar o aborto. Diminuir a maioridade penal é um absurdo e não resolve nada. Lei Rouanet é bom. Aumentar o Estado na economia vai resolver nossos problemas (total deles que leu um livro de Economia: zero). Deve-se tirar a possibilidade de o cidadão se defender com armas. Quanto mais branda a pena para bandido, melhor. A sociedade é machista, misógina, transfóbica e racista. A polícia é fascista. E qualquer coisa que pareça horrível para o moralismo fanático de esquerda é associado imediatamente a fascismo e nazismo (mesmo quando estas coisas são contra a concentração de poder no Estado, como privatizações). Todo o pensamento em bloco.

Nenhum se diz abertamente comunista (com a leve exceção da Cynara Menezes), mas tudo o que dizem e o que o genocidíssimo Partido Bolchevique (ou Mao, ou Pol-Pot, ou Kim Il-sung, ou Ceaușescu, ou Walter Ulbricht ou similares) é rigorosamente idêntico, com leves sinônimos atualizando termos fora de moda (como “propriedade estatal dos meios de produção”).

Não deixa de ser irônico (ou seja, de ser um ato que, para quem pensa direito, deveria gerar conclusões opostas) que Tico Santa Cruz, ao se ver ameaçado, corre para a polícia, a “fascista” de sempre.

Fossem pessoas que olham para a realidade com anamnese, o “esquecimento” das nossas idéias atuais, assentadas e tão pré-concebidas que esquecemos de sua origem e tratamos como “naturais” ou “verdadeiras”, seria um passo simples para Tico Santa Cruz usar seu apelo como vocalista da banda Planet Hemp (ou Tihuana, ou Cachorro Grande, ou Skank, ou O Rappa, não importa a droga) e pregar para adolescentes abobados como a polícia protege vidas em risco, como a sua própria – e rever suas idéias para algumas mais adultas.

Aos 40 anos ainda dá tempo.

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Assuntos:
Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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