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Protesto de esquerda

Eu entendo a mulher que depilou a macaca pra defender a Dilma

Uma mulher depilou suas vergonhas na frente do Museu de Arte Contemporânea de Niterói. Estranho seria algo sério a favor de Dilma Rousseff.

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Uma manifestante tirou a roupa e depilou a patareca diante do Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Niterói. O Museu, sendo de arte contemporânea, passa bem, sem nenhum trauma. As pessoas, famílias e inclusive crianças que assistiram o espetáculo encontram-se em estado grave, mas dada a situação do país, estável.

A grande verdade sobre a performance é que ela é perfeitamente compreensível. Exatamente por isso não ganhou lá muito destaque.

Numa era em que arte não tem mais a ver com O Lago de Corot ou L’Education de la Vierge de Georges la Tour, e sim com chocar a platéia que esperava ver arte e acaba vendo qualquer merda que não seja arte, ganha aquele que choca mais. Como uma fracassada exibindo a caranguejeira em público é algo já rotineiro e bocejante perto de bilhões e bilhões que podem ter sido superfaturados de nosso dinheiro através do Museu ali atrás, o público estava bem é pouco se cagando.

Bem, alguns podem ter pensado em cagar ali do lado em sinal de apoio, mas já fizeram isso no MASP, em São Paulo, então até pessoas de esquerda levaram ao literalismo a pouco-defecação.

Os parcos jornais a darem notitia criminis do atentado violento aos nossos olhos avalizaram que não se tinha ciência perfeita da razão do protesto, que parece ter sido em defesa de Dilma Rousseff, a presidente afastada, e algo sobre “cultura de estupro”. A prova da motivação da depilação do bombril do ninho de cobra em público é que se teria ouvido “Fora Temer” durante a apresentação.

Ora, nada pode ser mais claro: se uma coisa em formato de ser humano fica pelada em público, acha que escorregar o moreno, tirar uma bandeira brasileira da cachota ou comer uns 200 g de berdamerda em público é algo próximo de arte, só pode ser um esquerdista eleitor de Dilma Rousseff. Qual a dúvida?!

Ou alguém imagina um protesto a favor do impeachment com um ser a la Pablo Capilé entubando uma garrafa de Sangue de Boi no oritimbó, cagalhando até entupi-la de novo através de um funil, dizendo ser uma crítica à hipocrisia da sociedade e à compra eleitoral através de Bolsa Família e afiançando: “Olha, eu acho o blog da Socialista Morena ruim, prefiro ler sobre filósofos conservadores e Escola Austríaca de economia”?

Não: gente que caga no meio da rua, introduz objetos sagrados e profanos na mantegueira e em orifícios circunvizinhos, gente que não liga para a proteção de crianças e idosos (para não falar em fetos), gente que fede e acha que foi o capitalismo que inventou o banho e o perfume, gente que acha que suas frustrações sexuais são a causa motriz para escolher candidato e ideologia política, essa gente é única e exclusivamente eleitora do PT. Gente que estuda desconstrução, estruturalismo e psicanálise lacaniana na faculdade, lê Xico Sá e Eliane Brum, assiste Porta dos Fundos e fala em homofobia e islamofobia como os males do mundo, sem nunca ligar o óbvio com o ululante.

Gente normal, que acorda cedo pra trabalhar, botar comida na mesa de uma família inteira e pagar a educação dos filhos que nunca sonhou em abortar, gente que sabe que pra conseguir coisas legais, grandes esforços com coisas chatas precisam ser feitos, gente que tem como vocação tornar o mundo mais agradável, rico e belo do que encontrou, ora, esse tipo de gente nunca sai por aí cagalhando em nome de Dilma Rousseff. Eles consideram que a original já fez cagada o subejante.

A novidade foi apenas a forma de tentar se destacar. Para evitar a repetição daquilo que qualquer um faz todo santo dia alçado a categoria de “arte” ou “revolução”, caindo no marasmo da repetição, a tresloucada da vez depilou a mijeira, ao invés de, como as suas coleguinhas revolucionárias, ignorar qualquer noção básica de higiene, conseguida por milênios de visão científica e de progresso cético, e cultivar a buçanha verdejando toda a sorte de flora, fauna, fungos e súditos dos reinos Monera e Protista em uma mataria mais malcheirosa e insalubre do que uma prova de natação no rio Tietê.

capela-sistinaSe repetisse a nojeira de todas as outras “artistas”, em seu ardor revolucionário para que o país continue exatamente na mesma latrina em que se encontra, seria apenas mais da mesma. Sua única tentativa para mudar um pouco a nivelação por baixo e a ânsia da esquerda para reduzir toda a complexidade humana às suas funções fisiológicas foi se depilar, mostrando que a direita, além do milagre da fartura do capitalismo e da Capela Sistina ou do Concerto de Brandenburgo e do Noturno em Si Bemol Menor, ainda é capaz de realizar o milagre de fazer uma feminista depilar a xavasca, desde que confunda público e privado e o faça diante de velhinhas e crianças. Assim Dilma Rousseff entenderia que é em sua defesa.

Afinal, que outro argumento há a favor de Dilma Rousseff? Defender que é inocente, conforme cauciona o eminente jurista Tomás Turbando Bustamante? Defender sua política econômica? O brio de seu cérebro? Suas palavras edulcoradas? A gloriosa compra de Pasadena? Que os decretos não autorizados para liberar empréstimos ilegais e disfarçados sem superávit atingido é algo bom para o trabalhador que acorda 5:30 da manhã para cuidar da mulher e 5 filhos?

Não: para defender Dilma, só mesmo cagando, mijando, enfiando coisas no ás-de-copas, retirando bandeira nacional da precheca. Só gente que tem isso como o máximo de argumento é capaz de defender Dilma Rousseff, além de Gleisi Hoffmann e José Eduardo Cardozo. Só gente que acha que isso é produção cerebral pode ter cérebro para acreditar que o PT é bom, ou um partido como todos os outros. Só gente que precisa de Gardenal pra acordar pode se rebaixar a tanto.

Estranho seria se a esquerdista leitora de Lola Aronovich e Jout-Jout em questão fosse alguém em perfeito domínio de suas habilidades sinápticas e com uma vida com responsabilidades, e ainda assim defendesse Dilma Rousseff.

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Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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