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Cuba

Mais Médicos: o velho dilema

Cuba decide tomar de volta profissionais do programa Mais Médicos. O dilema para a esquerda defender o programa persiste intacto.

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Mais Médicos Cuba

O programa do governo petista Mais Médicos corre o risco de ser papel passado, como foi o “Fome Zero”, esquecido ainda no primeiro mandato de Lula (mas que quase lhe rendeu o Prêmio Nobel da Paz por isso).

Cynara Menezes, a “Socialista Morena”, noticia que o ditador Raúl Castro convocou 1.672 médicos de volta ao totalitarismo socialista até novembro, devido a “razões políticas”.

O programa Mais Médicos foi a resposta de Dilma Rousseff aos apelos genéricos da população em junho de 2013, lotando ruas sob brados abstratos e genéricos como “saúde” e “educação”. Mas o programa foi sempre um dilema: o uso de médicos cubanos, vigiados marcialmente pelos beleguins da ditadura dos irmãos Castro, fere qualquer noção básica de trabalho, direitos humanos e nossa própria noção de civilidade e participação política.

Os médicos do programa são tratados como propriedade privada do ditador de Cuba – os irmãos Castro já tratam toda a ilha de Cuba como a maior propriedade particular do mundo.

A esquerda usou o discurso de que os médicos do programa “aceitam” atender áreas mais afastadas, onde os médicos brasileiros não iriam de bom grado, criando uma cisão com os profissionais de saúde brasileiros.

Uma lição de economia básica  – oferta e procura – explicaria o caso: médicos treinados não aceitam abandonar família, amigos e vida para trabalhar em áreas de risco. O que o PT de Dilma Rousseff fez com o Mais Médicos foi apenas usar médicos cubanos que trabalhariam quase como escravos, ficando com apenas 30% do salário de um médico (os outros 70% ficam nas mãos do ditador cubano), e, sem perspectivas no miserável socialismo da ilha, acabam aceitando um trabalho inóspito, muitas vezes insalubre, por não terem melhores perspectivas de vida sob o totalitarismo castrista.

A mesma esquerda que quer tanto usar o Estado para aumentar o salário dos pobres passa a defender um péssimo salário e horrendas condições de trabalho no caso do Mais Médicos. Supostamente porque isso ajudaria os pobres desassistidos de saúde de qualidade, longe dos grandes centros.

A mesma moral do Mais Médicos poderia ser apresentada por uma empresa empregando mão de obra escrava chinesa ou boliviana para vender produtos mais baratos para a população. Mão-de-obra escrava que, naturalmente, só vem de países socialistas: melhor ser escravo no capitalismo do que ser “normal” no socialismo.

O programa, então, só pode ser defendido com um padrão moral duplo ou escorregadio. Os profissionais do Mais Médicos não podem nem sequer conversar com brasileiros fora do horário de expediente, sendo vigiados por agentes cubanos de perto. É a revogação da Lei Áurea. A própria Cynara Menezes, fonte fidedigna por sua adoração endeusada ao PT e defesa de corpo e alma do totalitarismo socialista, cita a nota do Ministério da Saúde cubano:

“Ficam terminantemente proibidos comentários na presença do pessoal brasileiro. Esclarecemos que o Brasil esteve na melhor disposição de prorrogar o contrato com os mesmos médicos, mas devido a estratégias de trabalho, o Ministério da Saúde de Cuba não aprovou que a renovação do contrato fosse com os mesmos médicos.”

Ainda há normas para os médicos:

O governo cubano também estabelece regras para que os médicos retornem à ilha: devolver os tablets cedidos pelo ministério da Saúde brasileiro e que os profissionais deixem o Brasil sem nenhuma dívida. Também se refere ao limite de peso para as compras de cada um dos médicos cubanos: eles podem levar, no máximo, 45 quilos de bagagem nos vôos da Cubana de Aviación.

A esquerda critica a direita afirmando que graças a Michel Temer (o vice de Dilma poderia ser acusado de qualquer coisa, exceto direitismo) o Mais Médicos vai acabar. A própria nota do Ministério da Saúde de Cuba só faz referências a pedir mais dinheiro (nenhuma informação sobre se os médicos também terão aumento), graças ao câmbio – aumento causado pela própria política de Dilma Rousseff.

Contudo, como seria defender o Mais Médicos no caso de outras profissões? Que tal usar pedreiros mal pagos e deixar 70% do dinheiro nas mãos do ditador de um país que a esquerda deteste para construir casas para os pobres no Nordeste? Alguém defenderia o uso de israelenses miseráveis para usar suas tecnologias surpreendentes trabalhando como escravos para conter a criminalidade brasileira, financiando o ditador de Israel no processo? Ou o mesmo com americanos e suas Universidades de ponta, trabalhando como escravos para conter a crise brasileira?

O problema óbvio é que nem Israel e nem a América são ditaduras. Nenhum país que a esquerda repudie é um totalitarismo brutal. Exatamente ao contrário de seu discurso, para defender ditaduras brutais e assassinas, a esquerda defende até mesmo a escravidão.

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Assuntos:
Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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