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Mariana Godoy e Lenhador da Federal: pode ou não pode elogiar?

Quando Crivella elogia a beleza de Mariana Godoy, é machismo. Horas depois, elogiam a beleza do "Lenhador da Federal" (sic). Tá liberado?

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Mariana Godoy e Lenhador da PF

Mariana Godoy figurou entre os Trending Topics do Twitter na manhã de ontem graças à sua “resposta” a Marcelo Crivella, candidato à prefeitura do Rio. Crivella terminou o debate dizendo que o sucesso era devido a Mariana e a beleza das mulheres ali presentes. Mariana Godoy respondeu dando um tchauzinho amarelo.

A descrição do gesto de Mariana Godoy ultrapassou todos os limites do que é uma verdadeira torcida pouco disfarçada por seu concorrente, o candidato socialista Marcelo Freixo. O Estadão noticiou o buzz não como um fato, mas parecendo uma mulher que foi beijada pela primeira vez aos 45 anos de idade:

Algo como “Tomou bonito!” não é a primeira frase da manchete do Estadão ao noticiar que Dilma Rousseff sofreu o impeachment, que o traficante Fat Family foi morto, que a cidade de Aleppo foi reconquistada do Estado Islâmico, que Fidel Castro passou o poder total de sua ilha particular a seu próprio irmão por complicações de saúde, quando o Brasil levou de 7 x 1. Apenas o “comentário machista” de Crivella merece um gritinho afetado no lugar da descrição, como alguém que finalmente conseguiu entrar numa calça.

Much ado about nothing: foi, mesmo, só um tchauzinho com sorriso amarelo. Não uma super paulada, uma resposta que solta faísca ao ser pronunciada mesmo em relato, uma, digamos, lacrada, para usar a linguagem da mongoloidosfera moderna.

A reportagem, inclusive, sem ter muito o que dizer além disso, tem até de explicar por que o comentário é machista: porque mede a mulher pela beleza, o que é machismo. Afinal, é elogio a uma mulher sem fazer menção a seu conteúdo (na verdade fez, mas e daí?), portanto, é objetificação machista. Portanto, sendo machismo, é machismo.

Quem, afinal, esse Marcelo Crivella pensa que é, para retirar o sucesso do debate de si próprio e, humildemente, colocá-lo na conta da apresentadora?! Que roubo de protagonismo ao atribuir protagonismo a uma mulher!

É claro que não sendo Marcelo Crivella um legalizador da maconha e do casamento gay como Marcelo Freixo, basta dizer que é machista e pronto: é machista. E, naturalmente, homofóbico, patriarcal, racista e fascista.

Isso tudo pela manhã. Logo após a prisão de Eduardo Cunha roubar o protagonismo de novo de Mariana Godoy (!), e sem o japonês da Federal, quem apareceu na timeline de todos foi o novo personagem, já chamado de o lenhador da Federal (sic) – o policial de barba e coque samurai que conduziu Eduardo Cunha à viatura da Polícia Federal, papel anteriormente desempenhado pelo famoso japonês.

Infrenes a qualquer demarcação, tudo aquilo que foi criticado pela manhã, que fez Mariana Godoy aparecer como heroína do dia, que foi acusado de “machismo” por ser apenas uma reação fisiológica à aparência sem atentar para o conteúdo, virou do avesso. O policial federal virou muso imediato: e, para completar o coquetel politicamente incorreto, até sua profissão inventada foi a de “lenhador da Federal”, uma profissão meio “pedreiro nórdico”, conseguindo reunir numa só tacada tudo aquilo que a esquerda mais critica.

Nenhum comentário sobre, digamos, o mérito do policial.

Para quem quer obedecer as proibições moralistas e a vida pública ultra-regrada do progressismo, da esquerda 2.0, do feminismo, da mimimicracia, da eterna busca por algo que possa nos ofender, as regras se tornam nebulosas. Afinal, nunca sabemos quando devemos estar ofendidos e quando uma resposta é uma “lacrada” ou quando tá tudo relax, normal, meninxs empoderadxs exercendo sua sexualidade livremente, sem os grilhões da sociedade patriarcal machista e objetificadora a nos tolher com seu moralismo religioso.

Alguém aí já conseguiu o manual do que pode e do que não pode?

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Assuntos:
Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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