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O Brasil está preparado?

Joaquim Barbosa: O presidente “não sou petista, mas…”

O ex-presidente do STF Joaquim Barbosa está em uma encruzilhada: só é admirado por anti-petistas, sendo mais petista do que o próprio PT.

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Joaquim Barbosa

Em entrevista a Mônica Bergamo, o ex-presidente do STF, Joaquim Barbosa, lembrando qual a cor da sua própria pele, disparou: “O Brasil está preparado para ter um presidente negro?”, embora ainda continue na litania de que é mais propenso para não ser candidato, o que é isso, que conversa é essa, onde já se viu etc.

Ao contrário do que pensa o ex-presidente do STF, o Brasil já teve um presidente negro: Nilo Peçanha, como bem lembrou nosso amigo Marlos Apyus no Politicas.Info. Todavia, exatamente ao contrário de sua eterna “não-candidatura”, não há outro motivo para alguém falar em Joaquim Barbosa sem ser questionando se tentará uma vaga no vácuo de poder absoluto que virá com o pós-PT em 2018.

Sua linha “Tendo a não concorrer à presidência” piora quando descobrimos o que Joaquim Barbosa anda fazendo com seu tempo livre. Relata a Veja:

Apesar da hesitação, a jornalista informa que Joaquim Barbosa se reuniu recentemente com um grupo de artistas, entre eles os cantores Marisa Monte e Caetano Veloso, os atores Lázaro Ramos e Thiago Lacerda, a apresentadora Fernanda Lima e a atriz Fernanda Torres, além de políticos, como o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e o deputado Alessandro Molon (Rede-RJ). Segundo a coluna, até o PT, partido que teve políticos importantes condenados por Barbosa no STF, sondou o juiz aposentado.

Se alguém se encontra com Marisa Monte e Caetano Veloso, a última possibilidade de assunto será suas músicas, e a primeira até a 9842398342624.ª será o PT. No caso de Lázaro Ramos, além de nunca se falar em atuar, o assunto será cor de pele, e aí o PT, para mais cor de pele, e PT (volte à manobra número 1). E que tal os queridinhos da Globo Randolfe Rodrigues e Alessandro Molon, que estão tentando ser vendidos como a “esquerda honesta”, a esquerda jovem, a esquerda que ainda não teve tempo de roubar, coibir liberdades e matar milhões? O que alguém faz com tais criaturas, senão aventar o poder?

Tendo seus futuros ministros já arbitrados, Joaquim Barbosa deixa entrever que não tem financiamento, soltando uma frase que parece um letreiro neon em vermelho piscante numa das colunas mais lidas da grande e velha mídia gritando: “Preciso de financiamento!!!” Nós tentamos ser mais sutis (clique aqui ou aqui e nos financie).

Entretanto, chega-se ao momento crítico: a futura campanha. Sendo sondado mais fortemente pela Rede (aquele partido particular de Marina Silva) e pelo próprio PT, no qual Joaquim Barbosa sempre votou, como será sua apresentação ao público?

Joaquim Barbosa galgou o cume da fama no Brasil, como homem salvador da pátria, no julgamento do mensalão. Seu grande heroísmo? Admitir que o mensalão existiu. Só. Only this, and nothing more.

Como o Brasil é um povo leitor de manchete, tirando imensas conclusões complexas e aprofundadas tão somente da leitura mal ajambrada de manchetes de jornal, Joaquim Barbosa passou alguns meses na mídia, sobretudo antes de ser alçado à presidência do STF, como um “anti-petista”, tão somente por seu voto no mensalão. Para os petistas, virou “capitão do mato”, além de outras descrições esquerdistas e cheias de igualdade e direitos humanos, como “negro vadio que só está lá por causa do Lula”.

Racismo contra Joaquim Barbosa no Twitter

Racismo contra Joaquim Barbosa no Twitter

Racismo contra Joaquim Barbosa no Twitter

Racismo contra Joaquim Barbosa no Twitter

Racismo contra Joaquim Barbosa no Twitter

Racismo contra Joaquim Barbosa no Twitter

Se Joaquim Barbosa perguntou retoricamente: Será que o Brasil está preparado para ter um presidente negro?, acusando tudo o que vai mal no país de “conservadorismo”, talvez fosse o caso de o ex-presidente do STF verificar a alça “Mentions” na conta de seu Twitter e checar se recebe xingamentos racistas de petistas ou de conservadores. Não há muitos relatos conhecidos de direitistas que chamem Joaquim Barbosa de “negro” de maneira acintosa, tentando diminuí-lo, como há dos progressistas que ele próprio tanto defende, numa Síndrome de Estocolmo que virou norma entre grandes celebridades e jornalistas.

O cenário deixa Joaquim Barbosa num impasse ainda maior do que o de Marina Silva: se a candidata consegue passar seu esquerdismo, na maioria das vezes mais radical do que o do PT, pintando-o de verde e falando em “povos da floresta” (sic), o ex-presidente do STF só pode mesmo tentar vender o carisma que resta de sua imagem a… anti-petistas ortodoxos, que o enxergam quase como um caçador de corruptos e alguém ideologicamente ligado às posições conservadoras… exatamente o oposto de tudo o que o Joaquim Barbosa de carne e osso é e defende.

Em outras palavras, Joaquim Barbosa não tem apelo entre petistas, por ter julgado culpados alguns petistas. Seu restolho de carisma se dá entre uma população pouco dada a leituras, auto-questionamentos e revisão de certezas, calcada na leitura de manchetes e nos comentários em caps lock – e essa galera trata o PT e a esquerda como o lixo que são, ainda que de maneira francamente manca e anti-estética.

oaquim Barbosa de braços cruzadosMas o que Joaquim Barbosa de fato defende é a antítese perfeita do que o seu possível eleitorado defende. O ex-presidente do STF é a favor da tese do “Direito achado na rua”, além de ser um dos mais ferrenhos praticantes do ativismo judicial, o que quase minou o processo do mensalão. É a favor de cotas, de feminismo, de programas sociais, de ações afirmativas, de economia centralizada e controlada – em suma, de todo o programa do PT, já que, além é petista de ter votado em Lula e também Dilma, ainda que com ressalvas a esta última. Ressalvas, claro, sempre no formato: se Dilma é ruim, logo, é porque virou meio “direitista”.

Até o momento, Joaquim Barbosa pode enganar alguns desavisados, crendo que ele seria um bom presidente porque 1) é negro; 2) julgou culpados alguns petistas. Assim que abrir a boca para tal eleitorado, só terá como conquistar votos da turma “não sou petista, mas…” que hoje tem vergonha de fazer campanha pro PT, mas quer tudo o que o PT é – provavelmente, com ainda mais força e rapidez. Que é justamente quem mais rejeita Joaquim Barbosa hoje.

A um só tempo, assim que seu possível eleitorado atual ouvi-lo berrando contra a direita, o conservadorismo, sendo a favor de todo o programa político/econômico/social da esquerda, a chance de um desapontamento en masse é de 99%.

Estaríamos diante da primeira possível eleição em X? O que ainda agrava o fato para Joaquim Barbosa é que pessoas desapontadas, vide ex-petistas, fazem campanha massiva contra seus antigos ídolos. Não apenas trocam de voto. Como ministro do STF, nosso protagonista já se mostrou uma pessoa irritadiça, pouco dada à fortaleza e ao auto-controle, arrogante e autoritária. A permanecer neste estado, a chance de termos o primeiro suicídio de reputações público no Brasil aproxima-se perigosamente de 100%.

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Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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