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Verdade elástica

Já datafolhizaram os números de Lula e do PT antes da sentença de Moro

Com precisão cirúrgica, o Datafolha força números para colocar Lula como favorito, por mera coincidência antes de Moro dar a sua sentença.

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ula contando nos dedos das mãos

O Datafolha, aquele instituto de pesquisa que garantia que João Doria não chegaria ao segundo turno, novamente soltou uma pesquisa dizendo que Lula é o “preferido” do eleitorado, naquele puro número, ciência exata, completamente irrefutável e auto-probante.

Nos próximos meses, a internet estará abarrotada de comentários sobre como Lula e o PT são os grandes políticos amados pelo povo, sobre como Lula é o preferido nas pesquisas para 2018… Todos se esquecendo de como o Datafolha apenas datafolhizou em todas as pesquisas recentes.

Como caudatário da Teoria da Mera Coincidência, a pesquisa é publicada exatamente na mesma semana em que o juiz Sérgio Moro pode decretar a sentença sobre Lula a respeito do triplex no Guarujá, da propina da Odebrecht em Angola, da compra dos caças suecos beneficiando a MMC Automóveis, do terreno do Instituto Lula (também da Odebrecht) e de um apartamento vizinho ao seu em São Bernardo do Campo, de obstrução da Justiça ao tentar comprar o silêncio de Nestor Cerveró e também no caso do sítio de Atibaia, além de desvios na Petrobras e no BNDES.

Sem ter como responder objetivamente a tais acusações e fazendo tergiversões jurídicas para desviar a atenção do público como prestidigitadores, a narrativa do PT é a de que os fatos objetivos não importam (como nunca importaram), e tudo o que a lei descobriu de desabonador sobre o ex-presidente seria “perseguição política” e “medo” do poder onipotente de Lula vencer eleições em 2018. Pela Teoria da Mera Coincidência, a pesquisa vem confirmar a narrativa petista-lulista, claro, por mera coincidência.

Há algumas coisas a notar na datafolhização. A mais chocante: Lula é o candidato com maior rejeição no eleitorado: 46% do povo não votaria em Lula em nenhuma hipótese. Como os petistas votam positivamente no partido, enquanto todo o resto do povo vota negativamente no menos pior, a rejeição conta indescritivelmente mais do que algum desejo de uma militância lobotomizada (Sérgio Moro, que nem pode ser candidato, tem rejeição de 22%, para se notar como 22% de petistas não quer de forma alguma que um juiz julgue alguém, caso este alguém seja um petista, mormente Lula).

Como sai a manchete datafolhizadora da Folha? PT atinge maior popularidade desde a segunda posse de Dilma. Qual a imensa popularidade soltando fogos que a Folha alardeia? O invejabilíssimo patamar de… 18%. Enquanto 59% da população não tem preferência por partido nenhum. Basta ler a notícia além da manchete para entender como funciona a datafolhização: a aposta certa de que ninguém lerá algo além do título.

O Datafolha também datafolhiza em relação a Michel Temer: sua aprovação cai a 7%, a menor em 28 anos. Ao invés de lembrar que Michel Temer não é ninguém menos do que o vice de Dilma Rousseff, cujo número para ser eleito era o 13. Pelo contrário: com o fim do casamento PT-PMDB, a narrativa agora é tratar Temer como inimigo público número 1 do PT. Quase como se fosse um Jair Bolsonaro ou Olavo de Carvalho.

https://twitter.com/mvsmotta/status/879355242407710720

A aprovação de Temer é tão baixa justamente porque o povo sabe que ele é culpa dos petistas. E os petistas que votaram em Temer se sentem traídos. A segunda menor aprovação é justamente a de Dilma Rousseff, que chegou a 9%. E quem, por acaso, quer Temer no poder, se foi um inimigo figadal justamente dos anti-petistas desde sempre, e dos petistas apenas desde anteontem?

https://twitter.com/mvsmotta/status/879418064038744068

De resto, a datafolhização segue o mesmo script de todas as outras vezes em que errou (noves fora jurar que é impossível ter 1 milhão de pessoas em uma Avenida Paulista apinhadíssima a favor do impeachment, por ser gente demais, calculando meros 200 mil, para calcular 1,5 milhão em uma Parada Gay que não ocupou 40% do espaço).

Está lá todo o esperado: “calcular”, a título de rigor estatístico e científico, gente que nem pode se eleger, como Sérgio Moro, para rachar os votos anti-PT em vários, e manter o PT como “preferido do povo”. Fazer projeção baseando-se em cenários completamente diferentes das configurações que terão em 2018 (se Joaquim Barbosa estiver na disputa, estará apartado de Marina Silva? João Doria e Bolsonaro não somam votos no segundo turno? etc). E, sobretudo, favorecer qualquer manchete para o PT.

Não é apenas que o Datafolha sempre datafolhiza – verbo que já é sinônimo de “mentir descaradamente com números”, e nunca “ter uma precisão praticamente científica na antevisão político-eleitoral”. É que a datafolhização sempre erra violentamente para o mesmo lado.

Será um bom ensejo para lembrar que Lula já sabia o resultado de uma pesquisa do Datafolha antes de ela ser divulgada, como se revelou, e que áudios dão a entender que na esbórnia do PT, comprava-se com freqüência pesquisas eleitorais para deixar o PT de Lula na frente de todos?

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Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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