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Ideologia

O plano do PT sempre foi ser a versão “limpinha” da ditadura venezueluana

Por que a surpresa com o apoio do PT à ditadura de Maduro? Surpresa seria o PT defender o capitalismo, restrições no governo, a liberdade.

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Maduro e Dilma com foto de Chávez

Um fato chocante sacudiu as redes nesta semana: veículos de mídia noticiaram surpresos que o PT, o PSOL, o PCdoB emitiram notas de apoio ao governo Maduro, o ditador que instaurou um totalitarismo socialista de molde bolivariano na Venezuela. O chocante foram os esgares de surpresa fingida dos jornais, e não o apoio do PT e demais partidos socialistas justamente ao governo de esquerda non plus ultra no continente.

Qualquer um que se aventure a conhecer minimamente a história do PT sabe que este foi sempre o objetivo do partido. E não um objetivo escondido, secreto, disfarçado, só discernível ao estudioso após décadas escamoteando enfadonhos documentos técnicos, sob camadas de teorias da conspiração.

Pelo contrário: em toda a história do partido, por anos seguidos, desabridamente, sem nenhum disfarce, o PT não apenas apoiou o socialismo bolivariano na Venezuela de Chávez e Maduro, como mesmo o totalitarismo com mais de 70 mil mortes de Fidel Castro, há quase 60 anos no cargo sem nenhuma eleição, e com o poder sendo passado para o irmão de Fidel, Raúl. A família Castro, hoje, tem a segunda maior propriedade privada do mundo, depois da família Kim, tratando o povo como escravos.

Para os jornalistas, é como se de repente descobrissem que o PT tinha um amigo que, não mais do que de repente, sem nunca ter dado sinais estranhos de comportamento, começasse a aparecer em casa bêbado, batendo na mulher e nos filhos. E o PT, mal informado e crendo em boas intenções e no valor da longa e antiga amizade antes de tudo, continuasse a tratá-lo como amigo.

O PT inteiro é formado por intelectuais socialistas da USP, por ex-guerrilheiros que pegaram em armas para implantar o socialismo no Brasil (como José Dirceu e Dilma Rousseff, que fala que “lutou pela democracia”), por sindicalistas maoístas, trotskystas e stalinistas, que se oponham ao trabalhismo do PDT do ditador Getúlio Vargas e viam com ceticismo o comunismo revolucionário do PCB/PCdoB.

Não é um segredo de Estado, nenhuma biografia que afirmasse tal coisa sobre qualquer petista poderia ser vendida com letras garrafais vociferando: “REVELAÇÕES BOMBÁSTICAS!!!”. É simplesmente o que é o PT e o que são os petistas, e todos sabem disso. Apenas parece haver uma amnésia seletiva na imprensa quando se fala da ligação do PT com socialismo, já que brincar de ditadura do proletariado no século XXI soa um pouquinho atrasado e às vezes até um pouquinho ditatorial. E assassino.

Basta lembrar de Lula debatendo com Collor em 1989, dois meses após a queda do Muro de Berlim, defendendo a implantação de um suposto “socialismo democrático”. É como se todo o programa do PT, radical a ponto de pretender nos transformar em um satélite da miséria ditatorial de Cuba, tivesse sido “esquecido” pela intelligentsia brasileira: se a maioria não está falando do que aconteceu, é melhor fingir que não aconteceu, para não ser pechado de “extremista”.

Apesar de uma repaginação com Duda Mendonça, ex-marqueteiro de Paulo Maluf, que fez Lula usar ternos alinhados e polir seu discurso (o bordão “a luta continua” foi limado, já que luta lembra bagunça, como Mendonça ensinou), o PT, internamente, nunca deixou de se auto-declarar um partido socialista.

Já em 2007, no segundo mandato de Lula, o 3. Congresso do Partido dos Trabalhadores traçou como programa a implantação do socialismo petista (sic), feito não via revolução, mas através da implantação de “programas sociais” e lutas por “direitos” novos, que só poderiam ser realizados às expensas de altos impostos que transferissem o poder econômico da livre iniciativa para um Estado controlado por petistas (com o corolário não dito de que aqueles que não eram petistas, mas fossem do “centrão”, poderiam ser comprados).

Não apenas o ideário, o norte moral e pragmático do petismo, estava declaro ali: até mesmo o modelo de propinocracia com grandes empreiteiras pode ser entrevisto no que dizia o PT. Empreiteiras estas que, a mando do PT, também fizeram grandes obras nos países socialistas da América Latina, como Venezuela e Cuba, e mesmo em Angola. Até a Petrobras entregou uma refinaria à Bolívia de Evo Morales, sem nenhuma lembrança da imprensa por anos posteriores a fio.

O vídeo foi retirado do ar quando descoberto por não-petistas, já que a declaração de objetivos socialistas do PT não deveria vir à público, mas seu conteúdo ainda pode ser visto no YouTube.

Lula e Fidel Castro, que são muito mais parecidos do que Lula e David Cameron, ou Lula e Konrad Adenauer, fundaram o Foro de São Paulo em 1990 juntos, como reunião das organizações de esquerda e extrema-esquerda na América Latina como o maior think tank do mundo, para traçar estratégias para tomada de poder após a crise do socialismo com a queda do Muro de Berlim e o esfacelamento da União Soviética no ano seguinte.

Não se trata de uma mera reunião de discordantes, como se Lula repudiasse com horror a ditadura castrista em Cuba, e ambos apenas concordassem com marcas de charuto e educação universal. Era e é um plano conjunto: o Foro de São Paulo, em suas atas, sempre se propôs a criar a “Pátria Grande Socialista”. Em outras palavras, tomar o poder em diversos países para que todos formassem um gigantesco bloco socialista, instrumentalizando órgãos como Mercosul e UNASUL para a planificação de governos.

Na linha sucessória original do petismo, José Dirceu sucederia Lula. José Dirceu é membro do Serviço Secreto de Cuba, além de ex-guerrilheiro, como vários dos petistas. É um dos maiores ideólogos do PT, e como um dos fundadores do PT, nunca teve problema nenhum em falar que a “integração da América Latina” era o objetivo do Foro de São Paulo para construir a “grande pátria socialista”.

O Foro de São Paulo, desde a sua fundação, conquistou 11 países na América Latina, além de Cuba. Apenas o Brasil e a Argentina se livraram de governos ligados ao Foro de São Paulo.

Do Uruguai de Mujica e Tabaré Vázquez à Nicarágua de Daniel Ortega há diferenças substanciais de cultura, economia e política. A estratégia do Foro de São Paulo sempre foi tratar países com mais projeção internacional, como o Brasil e o Chile, como “versões light” do socialismo mais tanque-na-rua da Venezuela de Cháves e Maduro ou do Equador de Rafael Correa.

O PT era o socialismo gourmet onde ao invés de uma centralização declarada da economia, fazia-se “programas sociais” para inglês ver (que dirá a Economist), capitalizando recursos de empreiteiras, frigoríficos e empresas tão grandes que conseguem lucros ainda mais fenomenais mancomunadas com o Estado, repassando para agentes partidários parte da soma amealhada. O investimento, no velho molde socialista, foi feito para obras faraônicas, como o Porto de Mariel em Cuba ou o metrô de Caracas, empregando a maior parte das pessoas em trabalhos braçais para bafejar sobre a “igualdade”, o “desenvolvimento social” e os “direitos dos trabalhadores” conquistados.

Já países de socialismo em fase mais avançada, de coturno e racionamento de alimentos, como a Venezuela de Maduro ou a República Dominicana de Danilo Medina, recebem a transferência do capital investido em países “limpinhos” e implantam a ditadura do proletariado do século XXI.

Não se pode ter surpresa nenhuma, portanto, ao se ver o PT apoiando com palavras dóceis a ditadura socialista da Venezuela sob Maduro. Porque simplesmente foi o que PT fez desde sempre, desde antes de os bolivarianos chegarem ao poder na Venezuela. Era o próprio objetivo do PT instaurar o totalitarismo socialista na Venezuela e onde mais conseguisse. Nunca houve nenhuma manifestação petista contra o socialismo (propondo abertura de mercado e eleições livres em Cuba, por exemplo). O objetivo do partido é o socialismo. Basta ouvir os próprios petistas.

Por que o fingimento da grande e velha mídia ao falar que o PT apóia a ditadura de Maduro, que o PT é um partido alinhado ao socialismo, e não ao capitalismo liberal? Só falta o choque ao dizer que o PT é composto por guerrilheiros.

Ademais, Maduro e Fidel não são os únicos ditadores com os quais o PT se alinhou. Sua política externa sul-sul, que crê que países pobres devem fazer relações entre si ao invés de negociar com países ricos (herança da crença na ideologia do “anticolonialismo”), se aliou não apenas a totalitários socialistas com genocídios nas costas, como Robert Mugabe do Zimbábue (inflação trilionária após expulsar brancos das fazendas para fazer “reforma agrária”), Teodorín Mangue da Guiné Equatorial, que tem até uma ilha no Brasil, ou Nguema da Guiné Bissau, que se auto-declarou “deus” do país. Para não lembrar da Nigéria de Goodluck Jonhatan, cuja filha deu uma festa de casamento onde os convidados recebiam iPhones de ouro.

Ninguém lembra de que Lula chamou até Muammar Kadafi de “meu amigo, meu irmão, meu líder”? Ninguém cobra o PT por ter aberto uma embaixada… na Coréia do Norte?!

Afinal, por que a surpresa? O PT, de Putin a Ahmadinejad, de  Maduro, só se entende com ditadores, preferencialmente socialistas. Surpresa seria o PT fazer uma notinha dizendo para Maduro pegar leve, sin perder la ternura. Surpresa seria o PT defender a liberdade, o mercado, o capitalismo. Surpresa seria o PT ser admirável por alguém além de sua militância lobotomizada.

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Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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