Heley Batista: A professora da creche deve ser um símbolo de heroísmo do Brasil
A professora da creche Heley Batista, que se sacrificou para salvar crianças do incêndio, deve ser lembrada como a heroína que foi.
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A professora Heley de Abreu Silva Batista, da creche em Janaúba, no norte de Minas Gerais, deu a própria vida para salvar a de crianças que podem ter se salvado graças a seu heroísmo.
Um vigia noturno que perdeu o emprego e já apresentava transtornos mentais há tempos ateou fogo no Centro Municipal de Educação Infantil Gente Inocente, matando 9 pessoas, a maioria crianças na faixa dos 4 anos.
As tragédias gregas narram atos de homens capazes de ações por demais superiores às dos comuns dos homens, e por isso são vistos como modelos de ação, virtude e grandiosidade para os homens. Não é qualquer morte, portanto, mesmo a mais horrenda, que merece o epíteto de “tragédia”.
A professora Heley de Abreu Batista, em seu último ato de vida, se mostrou uma pessoa muito maior do que nós. Uma verdadeira heroína, que se preocupou mais com a vida da Gente Inocente que cuidava do que consigo própria. Até mesmo para a aristocracia grega, seu ato só pode ser chamado de heróico, e sua morte, uma verdadeira tragédia, capaz de levar às lágrimas até mesmo quem nunca a conheceu.
Heley Batista tinha 43 anos, era casada e deixa 3 filhos, um deles, um bebê de um ano. A professora da creche teve 90% do corpo queimado ao salvar crianças das chamas criminosas.
De acordo com testemunhas, vigia noturno e vendedor de sorvetes Damião Soares Santos, de 50 anos, atraiu as crianças prometendo sorvetes, e as abraçou com o corpo em chamas. A professora Heley Batista protegeu as crianças com o próprio corpo, entrando em luta corporal com o vigia, salvando algumas crianças passando-as por cima da janela.
O Brasil é um país que, infelizmente, não cultiva heróis. Nosso conceito de heroísmo é importado, ou pasteurizado como se dependesse de gincanas de programas televisivos ou reality shows. Não temos estátuas, não estudamos a vida e rendemos homenagens pela história daqueles que lutaram para que estivéssemos vivos, como filhos de sobreviventes de atos horrendos.
Enquanto temos como valores o puro hedonismo, e nos preocupamos com situações comezinhas, como discussões de internet ou aceitação de prazeres alheios, esquecemo-nos das grandes virtudes da vida, que nada têm a ver com ideologias, política ou supostos preconceitos. A virtude de salvar a vida de crianças pequenas, por exemplo, num gesto de amor, paixão e auto-sacrifício que nos justifica como humanos.
A professora da creche Heley Batista não deve ter sua memória esquecida. Deve ser lembrada como uma legítima heroína do Brasil. Não temos mais as figuras dos santos em um ambiente secularizado e materializado até os limites do ridículo, nem louvamos heróis e virtudes como a coragem, a fortaleza, a fé, a caridade e a esperança, tratadas como “obscurantismo” e mesmo “preconceito”: mas são elas que movem atos de tamanha grandeza admirável como o de Heley Batista.
Mesmo sem bardos a cantar as histórias de heróis cujos nomes há muito se perderam nas brumas do tempo, mesmo sem o epos e as poesias cantando lendas de mártires que se sacrificaram para fazer o bem triunfar sobre o mal, mesmo sem romances sobre guerreiros valentes cuja grandiosidade só pôde ser admirada post mortem, devemos lembrar de Heley Batista como uma heroína, e não deixar que sua história seja apenas uma notícia lida como uma fatalidade do arranjo social.
Antes da creche, a professora Heley Batista já havia enfrentado a adversidade da morte de crianças, quando seu filho de 4 anos morreu afogado em um clube da cidade.
É de heróis como a professora Heley Batista que a humanidade precisou para sobreviver com glória e histórias admiráveis para contar.
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