Gay virou modinha
Não há outro assunto na mídia: as celebridades e formadores de opinião só falam da causa gay, o que pode ser prejudicial justamente aos gays.
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É impossível alçar sucesso midiático na era da mídia total sem defender o que chamam de “causa gay”. Você pode pintar como El Greco, compor como Shostakovich, escrever como Thomas Mann: sem começar as entrevistas que der para a Folha ou a Globo com “Eu defendo a causa gay e sou contra políticos que não legalizem o casamento gay”, bye bye, você será tratado como um traidor da humanidade pior do que Hitler. Porque gay virou modinha.
E uma modinha tão premente que é preciso sempre parar para explicar o óbvio ululante dos óbvios ululantes: que admitir que gay virou modinha não tem nada de “homofóbico” e “destilação de preconceitos” (cf. a caixa de comentários daqui a alguns minutos).
Que não há nada contra gays em admitir que eles atualmente são a moda a ser copiada, como não há nada contra o iPhone, o cupcake, as gírias e o Nightwish ao se admitir cabalmente que todos são ou já foram modinha em algum momento. Um gay pode admitir que gay virou modinha sem nenhum problema para seu ser e seu ego – ainda que saibamos que quem mais vai reclamar da afirmação óbvia é quem, no minuto seguinte, vai dizer que Pabllo Vittar lacrou ao berrar como um peru sendo estrangulado e chamar o resultado de música.
Esta pausa que se tornou mandatória para se falar do óbvio revela justamente por que urge falar com clareza: a modinha, imposta de cima por poderosos para ser copiada por nós, a plebe rude rés-do-chão, a imitação que é controle, a uniformização que dá poder, também pode incluir comportamentos. E numa sociedade hipersexualizada, em que sexo é moeda de troca, marketing e produto final, nada mais óbvio que o comportamento sexual também seja afetado por modinhas. Seja incentivado, louvado, defendido, glorificado: independentemente de qualquer juízo de valor, gay virou modinha.
Bem ao contrário do que é normalmente aventado como “normal”, a sexualidade não é uma questão individual, envolvendo tão somente “direitos” que caberiam a apenas entes atomizados – “indivíduos” – sem nenhuma ligação e relação com a sociedade em que nasce e da qual faz parte – não exatamente a coletividade, que pouco ou nada tem a ver com nossa privacidade, mas com a abstrata construção cultural, da língua aos valores comuns, da qual todos nós comungamos, em oposição a outras sociedades.
Mircea Eliade, o maior historiador das religiões do mundo, nota como todas as sociedades, por razões óbvias até a quem ainda não fez sexo na vida (focas de redação de jornal, por exemplo), possuem regras morais que tentam organizar, sobretudo, a alimentação, a morte e a sexualidade. Com efeito, o estranho é tentar pensar no sexo como algo que não afete ninguém além dos atuantes.
O gênio supremo da antropologia, René Girard, foi cirúrgico ao notar que o desejo humano não é linear como se costuma pensar, mas sim triangular. Não desejamos algo (ou alguém) tão somente porque nosso desejo (e que filósofo entendeu o que é o desejo ou a vontade?) partiu de um eu para um tu, e sim tendemos muito a desejar o que outros também desejam.
É o que Girard chamou de desejo triangular, e posteriormente de desejo mimético. Mimetizamos a manada, no mito da caverna ou nos julgamentos de Sócrates e Jesus, ao achar o Bono Vox um cantor suportável ou ao usar uma marca de roupa considerada boa, ao escolher quem são os intelectuais públicos (!) que irão pautar nossas idéias ou ao assistir propaganda, tanto de comida quanto de politica (e sobretudo a propaganda que não se auto-declara propaganda). Seja a disciplina militar ou a peer pressure acadêmica para se adequar ao que seus pares querem, pensam e exigem de você, o mundo gira ao redor do desejo mimético. Sociedades são construídas para tentar controlá-lo.
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Nada mais normal, portanto, que a sociedade moderna, que dessacralizou e retirou todos os tabus do sexo, tenha o usado e abusado como um novo dogma, uma nova pedra fundante. O sexo, mais visceralmente do que qualquer coisa, também é afetado – dominado – pelo desejo mimético.
Sexo é desejo mimético: a grande graça de “pegar” a Angelina Jolie é contar para todo mundo no dia seguinte. Ao menos socialmente, e, para desespero das feministas e progressistas, isto se acentua por causa da modernidade (líquida, pós-, progressista e prafrentex), e não por causa daquela “ultrapassada e obscurantista” sociedade baseada em amor.
Nada convence mais alguém a adotar posturas progressistas do que a promessa de sexo fácil – quem não sabe disso, precisa descobrir o que foi 1968 (“estudar história”, como mimeticamente repetem sem consciência de nada). Não à toa que a Escola de Frankfurt, ou mais exatamente Herbert Marcuse e seu Eros e a Civilização, viu no sexo um turning point para a esquerda triunfar: não mais um aborrecido papo de desigualdades, exploração e casernas num Ocidente no qual o capitalismo ia muito bem, obrigado, mas um novo mito fundante de uma sociedade sem religião, família e outros “obscurantismos” que atrapalhassem o sexo livre e sem culpas.
Foi quando o Lumpenproletariat, o lumpesinato urbano “economicamente inativo” (prostitutas, cafetões, criminosos, gângsters, traficantes afins) foram alistados para as hostes marxistas.
As ideologias modernosas, dessacralizadoras e gnósticas, acabaram quase todas servindo ao marxismo repaginado de Marcuse, sobretudo a psicanálise – mesmo que o próprio “idealizador” de maio de 68, o psicanalista Wilhelm Reich, achasse que gays fossem uma “perversão do capitalismo”, que deixariam de existir tão logo o socialismo se realizasse. A esquerda, como se vê, não estuda história.
Reich e sua “homofobia” logo seriam esquecidos pela esquerda, e mesmo que Herbert Marcuse fosse fortemente criticado por outros filósofos da Escola de Frankfurt, como Erich Fromm, que considerou sua obra um embuste de conseqüências perigosas, os gays logo seriam alçados a revolucionários par excellence sem precisarem virar guerrilheiros como Che Guevara. O alvo era a família, não a propriedade. Era o tempo de Michel Foucault, não mais de manuais de guerrilha, que só acumularam derrotas na esquerda.
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É claro (e nem seria preciso ser frisado, em tempos normais) que ser gay nada tem a ver com ser caudatário do marxismo frankfurtiano, tal como ser russo nada tem a ver com ser comunista. A questão é que a New Left de Marcuse, Foucault e afins foi useira e vezeira do caráter “periférico” e “excluído” dos gays para sua propaganda atual.
Se gays falam qualquer coisa gay, mesmo que seja “sou gay” na TV, a militância já grita que o gay “lacrou”, “deu um tapa na família patriarcal”. Jornais tratam qualquer um que seja gay como um deus a ser louvado, alguém de neo-santidade dogmática que não tem nenhum defeito que possa ser criticado – mesmo que a crítica seja à sua defesa de ditaduras ou à sua inexistente técnica vocal, tudo é pechado como “homofobia” e “preconceito”.
Tal como o blusão xadrez e a calça fuseaux no estilo heroin chic nos anos 80, gay virou a modinha da década de 10. O gay é usado em cada vez mais propagandas, na política – e bem ao contrário de Prince, Freddie Mercury, Elton John ou Rob Halford, basta se declarar gay sem nenhum talento para ser considerado artista, músico, cantor ou o que seja hoje.
Não há nada de errado em ser modinha: queremos mesmo que muitas de nossas características, a começar por padrões políticos e morais, se tornem modinhas. Mas, sendo modinha, vemos que muitos “novos gays”, sobretudo jovens (um fenômeno que afeta raras pessoas maduras fora do reino das celebridades decadentes), por puro desejo mimético, têm tentado ser como os ídolos gays, o caminho da “causa gay” da mídia total. Têm seguido um padrão imposto.
Não são apenas gays: são gays ideólogos. São propagandistas gays, e não há maior prova de desejo mimético e de como ele afeta o sexo do que isso. Na verdade, são menos do que gays: parece mesmo que usam o ressentimento, as frustrações típicas da puberdade, os conflitos de poder que marcam a relação com a família na adolescência e o transformam em um comportamento sexual “do momento”. Castidade e promiscuidade, gosto por loiras ou por ancas largas, afinal, já foram moda.
Se hoje só é possível ser ator, cantor ou celebridade midiática falando sobre gay em 90% do tempo em que fala em público, se homens poderosos e políticos caem da graça sob qualquer acusação de não serem gay-friendly o suficiente, se até as bases fundantes da civilização são erodidas deliberadamente todo dia simplesmente por não terem incluído gays como epicentro, como se a base civilizacional fosse o Encontro com Fátima Bernardes – bem, se este é todo o cenário, é natural que jovens com sexualidade em crise (como mais ou menos 102% dos jovens) encontrem um refugium peccatorum com a única forma garantida de chamar atenção hoje: tornando-se gays.
Qualquer pessoa que já visitou algum museu e prestou atenção na representação de deusas da beleza como Afrodite e Ishtar sabe que o que se deseja, inclusive sexualmente, é sempre moldado pela cultura.
Admitir que gay virou modinha é o primeiro passo necessário para uma sexualidade mais sadia, e não mais controlada como querem dizer (a TV, queridinhos, controla muito mais do que os pais há mais de meio século).
Na era da hipersexualidade, em que todos têm problemas de sexualidade (e não “soluções”), é urgente lidar com tantos “gays” que não seriam gays sem altas doses de DCE e música ruim. Tal como héteros hipersexualizados, dando valor ao que, muitas vezes, não são senão hormônios desregulados.
Porque modinhas, afinal, podem ter suas vantagens e desvantagens. E é curioso notar como, assim que deixam de ser modinhas, todas parecem apenas desvantajosas, verdadeiras vergonhas de si mesmo no passado. E nem falamos da pochete e do Kichute.
Essa vergonha é o que os antigos chamavam de maturidade, culpa, pecado original etc. E não deveria haver ninguém mais do que os gays de sempre a estarem preocupados com o uso e abuso que fazem da sexualidade com propósitos políticos-midiáticos, mormente quando inventam uma “causa gay” que tem a ver com poder, e não com sexo, e a fazem ser a última modinha do momento.
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