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De novo: Para G1, tiroteio que matou garçom é culpa de “perseguição policial”

Traficantes armados até os dentes enfrentam a polícia, e um garçom morre no meio do tiroteio. Para o G1, culpa da "perseguição policial".

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No G1, "perseguição policial" deixa garçom morto

É o padrão do G1, o portal da Rede Globo: sempre que houver assassinatos no Rio de Janeiro e um policial estiver por perto, a machete será feita de maneira a dar a entender que um policial matou alguém inocente no meio da rua. Agora, foi uma “perseguição policial” que matou um garçom.

O G1 inicia o texto de uma notícia sobre o fim de semana dizendo que “Um intenso tiroteio próximo à dispersão de um bloco de carnaval resultou na morte de um homem e outras três pessoas baleadas”. A polícia parece ter começado a dispersar um bloco e acabou matando gente.

Jornalistas sabem que 90% das pessoas lêem apenas o título, e a maioria de quem lê o restante pára no primeiro parágrafo para tirar suas conclusões. A explicação do comportamento da polícia ficou escondida num bloco de texto posterior, lido basicamente por quem está interessado na notícia local (provavelmente quem mora na Tijuca). Só lá é que se lê:

Segundo informações da Polícia Militar, traficantes da Favela da Rocinha, em São Conrado, Zona Sul da cidade, fortemente armados, estavam a caminho do Morro da Formiga, na Tijuca.

Acionada, a PM tentou interceptar os criminosos e houve perseguição seguida de uma intensa troca de tiros entre os militares e os bandidos. Tudo ocorreu na Rua Conde de Bonfim, uma das principais vias do bairro.

Título, subtítulo, primeiro parágrafo… nada disso comenta do iniciador do problema: meros traficantes fortemente armados, esse detalhe da vida no Rio que nem merece alguma atenção do G1.

Depois de uma imagem gigantesca, que parece encerrar a quantidade de texto, aí podemos ler o que o título, digamos, “tenta” explicar:

No tiroteio, um garçom que trabalhava no Bar do Pinto foi atingido poruma bala perdida e morreu na hora. Três outras pessoas também foram atingidas: uma passageira num veículo de transporte por aplicativo, que foi baleada no braço; um PM, atingido na perna; e outro militar, que teve ferimentos na perna e no ombro.

Ora, de acordo com o título da reportagem, foi uma “perseguição policial” que causou a morte do garçom. Só depois de muito texto, foto e disfarce, vemos que, na verdade verdadeira, tinha uns certos traficantes armados até os dentes tacando o terror (informação que não pareceu importante), e que a “perseguição policial” foi a tais traficantes, e que ainda por cima não se sabe quem disparou: se a polícia, que não parece que atiraria em um garçom a troco de nada, ou se um dos traficantes, que fizeram com que a polícia precisasse atirar. Hipótese que nem passa pela cabeça de quem só lê o título.

Se quisermos mais umas dicas do que pode ter ocorrido, e da maldade que o G1 parece esconder para só deixar como negativa a atuação da polícia e sua “perseguição”, podemos ler apenas no fim da matéria:

Um dos policiais foi levado para o Hospital Federal do Andaraí, em bairro próximo, e o outro para o Hospital Central da Polícia Militar, no Estácio. Ambos, segundo a corporação, estão fora de perigo. Ainda não há informações sobre a identidade ou o estado de saúde da passageira atingida.

Durante a perseguição, o carro em que estavam duas jovens foi usado como escudo pelos suspeitos e baleado mais de 15 vezes por tiros de fuzil. As duas não sofreram ferimentos. Houve ainda colisões entre os veículos em que estavam os bandidos e dois táxis que estavam na rua.

Por que, de repente, ficamos com uma sensação invertida da que tivemos ao só passar os olhos pelo título da matéria?

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Assuntos:
Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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