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Fake news

#NãoFoiAcidente: Homem sofre tentativa de assassinato em frente ao Instituto Lula e mídia trata como “incidente”

Um homem sofreu tentativa de assassinato por petistas incentivados por Lindbergh Farias. A mídia tratou o caso como "incidente", dizendo que a vítima "bateu a cabeça" num caminhão.

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Um homem se manifestou contra o ex-presidente Lula na frente do Instituto Lula, no tradicional bairro do Ipiranga, em São Paulo. Foi cercado por leões-de-chácara petistas, que não toleram a liberdade de expressão e crêem que qualquer pessoa que diga algo contra o PT deva ser espancada. Após sofrer vários golpes em massa, saiu do meio da turba atordoado. Um militante petista terminou por empurrá-lo duas vezes para a rua. A última delas, empurrando sua cabeça para baixo de um caminhão que passava.

Ao ver que o cidadão estava inconsciente no chão, com um fio de sangue correndo de sua cabeça, ainda se pôde ouvir um sonoro “Filha da puta, vai morrer” (sic). Por longos instantes, nenhum dos petistas presentes se preocupou em prestar socorro, após agredi-lo em manada.

A mídia, aquela grande e velha mídia que quer caçar “fake news”, ao invés da indignação de dias e dias que fez com o assassinato de Marielle Franco, politizando o caso, fazendo propaganda partidária, narrou o caso em uníssono: seria uma “briga” (como se ambos os lados estivessem errados, se um se manifesta contrariamente e o outro cerca em bando agredindo), em que ocorreu um “incidente”.

Logo apelaram para o sujeito inexistente: além da “briga”, como se discordância e cercar de bando com violência fossem equivalentes, também escreveram apenas que o homem “foi atropelado”, como se não tivesse sido empurrado por um ser humano que, por ventura, é petista.

As informações até agora dão conta de que seria não menos do que Maninho, vereador por Diadema. Ainda não se sabe se a polícia investiga o caso para confirmar sua identidade.

A grande e velha mídia, que dá nó em pingo d’água para favorecer a narrativa de que Lula, o PT e a esquerda são sacrossantos “atacados” por “discurso de ódio”, narrou o fato apenas comentando que o homem “acabou atropelado”, sem citar o empurrão que poderia ter causado sua morte (além de criticar o “xingamento” a um condenado por propinas que destruíram um país).

Note como o Jornal do SBT simplesmente “some” com o momento da agressão.

As manchetes e texto dos principais jornais do Brasil, que tanto destaque deram para Marielle Franco sem nunca dizer que a vereadora carioca era de um dos partidos que mais defendem bandidos do país, preferiram dessa vez ignorar completamente o PT, já que desta feita, a esquerda foi a agressora (e quase assassina0.

O Estadão teve o disparate de chamar a tentativa de homicídio de incidente.

Estadão descreve tentativa de assassinato em frente ao Instituto Lula como "incidente"

Incidente ser algo de somenos importância, sem grandes danos, como alguém quase bater o carro ou um incidente diplomático. Uma batida de carro mais grave que uma manobra na garagem é sempre um acidente, mesmo que o único ferido seja o carro. Como o ferido com traumatismo craniano não era um petista, mereceu apenas ser lembrado como um “incidente”, como derrubar açúcar na roupa do convidado.

O texto, reproduzido por vários jornais, diz que o homem “bateu a cabeça” (sic) contra um caminhão que passava no local. Como se estivesse simplesmente se afastando e de repente, talvez por um tropeço, “batesse a cabeça” na roda de um caminhão. A jornalista Letícia Fucuchima aparentemente apagou o a sua conta no Twitter.

Como o Jornal do Brasil reproduziu:

Jornal do Brasil diz que "discussão" fez homem "bater a cabeça" em caminhão

Tome-se mais sujeito inexistente e destaque para ter sido levado “consciente” (sem dizer que ficou inconsciente antes) e para a vítima ter “xingado” Lula, este pecado tão grave.

O texto foi ainda para o R7 da Rede Record:

R7 da Rede Record sobre tentativa de homicídio no Instituto Lula

O mesmo na Istoé:

Istoé fala que homem foi atropelado em frente ao Instituto Lula

A Veja também apelou para os eufemismos e sujeitos ocultos, como “tumulto” e “é atropelado”. Ao menos tem um texto mais honesto, dizendo que o manifestante “ficou ferido após ter sido empurrado e batido a cabeça em um caminhão”.

Veja fala que homem foi atropelado na frente do Instituto Lula

A Zero Hora confunde o leitor desavisado, que pode até achar que foi um petista que foi agredido.

Zero Hora comenta sobre "homem envolvido em briga" no Instituto Lula

Seu texto ainda trata a vítima quase como culpada:

O homem fazia parte de um pequeno grupo de pessoas que se manifestava a favor da prisão de Lula na noite de quinta. Segundo relatos, ele gritou palavrões quando o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) e Márcio Macedo, um dos vice-presidentes do partido, entraram no Instituto Lula.

A provocação deu início a uma confusão com manifestantes pró-Lula e, em meio a isso, ele bateu a cabeça na caçamba de um caminhão, ficou um tempo desacordado e depois se dirigiu ao hospital em frente ao prédio.

Curiosamente, um dos textos mais honestos e detalhados é o da Folha, que começa comentando que o homem interrompeu o discurso de Lindbergh Farias o chamando de “viado” e “filho da puta”, mas comenta que o senador com síndrome de puer aeternus se dirigiu ao homem o desafiando a falar na sua cara (protegido por estes jagunços, obviamente).

E narra claramente: “Um apoiador de Lula deu um chute no manifestante, que bateu com a cabeça no para-choque de um caminhão e caiu no meio da rua.”

Nestas horas, não tem “lamentavelmente” ou outros advérbios e eufemismos aliviativos pelos petistas:

O senador, ao comentar o episódio, disse que a iniciativa foi do manifestante. “Eu estava passando, o cara foi no meio começar a xingar todo mundo. Isso é provocação”, disse Lindbergh.

Questionado pela Folha se a violência não era uma via de mão dupla, o petista afirmou: “Não nos confunda com esses fascistas. Não sei onde esse pessoal quer chegar. Parece um plano orquestrado para acabar com a paz no país”.

Como sempre é bom frisar, e se fosse um militante de esquerda que tivesse levado empurrões mesmo sem ser contra um caminhão que passava, e mesmo se nenhum fã de Bolsonaro tivesse gritado “Filha da puta, vai morrer” comemorando o resultado de uma tentativa de homicídio?

Será que os jornais teriam noticiado igual? Será que não teria um mês de chamadas no Jornal Nacional, com especial, com ruas trocando de nome, com fundos milionários com o nome da vítima? Será que alguém que só se informa pela velha mídia tradicional está sabendo disso, para avaliar como devem ser seus sentimentos sobre o PT, Lula e a esquerda?

A hashtag #NaoFoiAcidente já está sendo usada no Twitter. E é esta velha mídia que quer censurar a mídia alternativa a considerando “fake news”.

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Assuntos:
Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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