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Censura

O Twitter não vai fazer nada quanto ao Mensalinho do Twitter?

Um escândalo tomou as redes: perfis de esquerda pagos por baixo dos panos para elogiar petistas. O Twitter, que já derrubou perfis de direita, não vai derrubá-los?

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Mensalinho do Twitter

O escândalo do momento já tem vários apelidos, mas ontem figurou em primeiro lugar nos Trending Topics do Twitter com o curioso nome de Mensalinho do Twitter. Trata-se do pagamento através de uma agência de publicidade e uma triangulação, ou melhor, uma quadrilaterização com quatro  empresas no mesmo endereço, de “influenciadores digitais” de esquerda para pedirem voto para petistas, sobretudo o governador do Piauí, Wellington Dias.

O caso lembra bastante justamente o mensalão, quando petistas, antes mesmo de chegar ao poder, prometeram pagar os gastos com agências de publicidade para a campanha de Lula com dinheiro público, num esquema de triangulações sobre triangulações para disfarçar a origem do dinheiro.

O que chama a atenção é que o Twitter, recentemente, suspendeu mais de 160 contas de usuários de direita, sem nenhuma explicação. Tudo ficou sob termos vagos como “feriu os termos de uso”, sob rótulos como “discurso de ódio” ou coisas do gênero, que não foram apontadas, explicadas, demonstradas, comprovadas.

Antes mesmo, o Facebook havia derrubado uma série de páginas de direita (por que sempre só de direita?) usando o caso Marielle como desculpa, quando uma desembargadora acreditou em um boato que correu via WhatsApp de que Marielle Franco teria sido amante do traficante Marcinho VP. Apesar de grandes jornais como Folha e O Globo terem também divulgado o post da desembargadora, as páginas de direita foram derrubadas apenas por que as páginas em questão usaram um título contrário a Marielle.

Jornalistas empenhados em censurar a internet para que apenas a narrativa de fatos da esquerda seja lida pelo público, como Leonardo Sakamoto, foram ávidos em dar uma aliviada para a censura. E os termos foram curiosos:

Leonardo Sakamoto defende censura do Twitter

Ou seja, uma suposta “rede de perfis” (na prática, menos de meia dúzia) compartilhava posts entre si (coisa mais do que corriqueira no Facebook) e é censurada. A desculpa, segundo o Facebook, foi a criação de um complexo “sistema voltado à manipulação do debate público – o que é bem mais grave” (sic). Ou seja: perfis pessoais, profissionais, páginas e sites compartilhando o mesmo post entre si (ouço um “oooohh!”?) E, agora as mãos batendo nas bochechas são obrigatórias, faltavam 74 dias para as eleições!!

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Tudo isso de estro próprio. Com conteúdo decidido pelos próprios autores, dos quais Leonardo Sakamoto, ou os administradores brasileiros do Facebook, podem discordar, mas que não foi feito para “manipular” ninguém – a não ser que consideremos todos os posts políticos, incluindo os de Sakamoto, como “manipulação”, mesmo com argumentos e dados. Ou mesmo a mera transmissão de notícias.

Então o Facebook pode censurar, com encômios de jornalistas, com base em mútuos compartilhamentos, porque é um “sistema voltado à manipulação do debate público”. O Twitter pode suspender contas exclusivamente de direita sem nem se dar ao trabalho de uma explicação, uma desculpa, uma prova de algum comportamento errado (e errado para os usuários como um todo, e não para o que os diretores do Twitter pessoalmente pensem).

Mas contas de Twitter, algumas verificadas e com vários milhares de seguidores, podem transmitir fake news como doenças venéreas, numa campanha eleitoral com todo o potencial de ser ilegal, cometendo crimes eleitorais às mancheias, e o Twitter simplesmente não faz nada?

Afinal, se o Twitter censura e suspende contas de direita sem o menor critério objetivo além de serem contas de direita, por que contas com caráter que flerta com a criminalidade, divulgando dados que desconhecem apenas para fazer campanha eleitoral ilegal disfarçada, devem continuar de pé?

Ou censura-se todos, ou não se censura ninguém. Do contrário, o Twitter não poderá mais ser considerado uma rede social em que cada um é responsável pelo que posta, e sim será um serviço com curadoria de conteúdo, em que o Twitter é co-responsável pelo que cada usuário vê em seu feed. E neste segundo caso, os diretores da ex-rede social não poderão simplesmente fingir que nada viram e nada têm a ver com o mensalinho do Twitter.

Ah, a propósito: faltam 41 dias para as eleições.

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Assuntos:
Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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