O que fazem os intelectuais que apóiam o PT?
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Não, sério, pergunta honesta. O que são esses intelectuais? O que fazem? Qual o seu trabalho? O que estes intelectuais são intelectualmente? Qual o seu papel no grande drama intelectual universal? O que estamos perdendo sem suas idéias? Por que não teremos essas perguntas respondidas sexta, no Globo Repórter?
Veja lá a lista dos intelectuais que defendem Dilma. Dá uma olhada por cima. Rapidamente se tem a sensação de que se você não assistir novela as 7 da Globo, não fumar bagulho, não ouvir MPB, não ler colunista da Folha de S. Paulo, não ter sido emo e não assistir MTV e GNT você não vai conhecer quase que intelectual nenhum. E estas são as coisas menos intelectuais que um ser humano pode fazer.
Você lê o peso da manchete <trombetas do Apocalipse> Intelectuais dão apoio à presidente Dilma Rousseff </trombetas do Apocalipse> e rapidamente pensa que estarão os mais doutos, cultos e futuros nomes da inteligência nacional, ombreando e ultrapassando a internacional, envidando as suas melhores sinapses para explicar que, finalmente, ao contrário do desejo do povo, ao contrário do Ives Gandra Martins, ao contrário desses juízes coxinhas que viram autoridade federal com 22 anos, tadaaaaaaa, aqui está a argumentação caralhosa para manter Dilma onde está, essa linda.
Necas de pitibira.
Metade ali é ator da Globo, que só o PT acreditava que era “golpista”, até cavar a própria cova invadindo a emissora. A outra metade, se não é, já fumou uma pontinha da emissora. Se você não se preocupa em saber os nomes dos atores de Malhação ou da roteirista daqueles diálogos em que duas pessoas conseguem conversar por 5 minutos, com close e trilha sonora, sem nunca responder o que a outra disse, esqueça a lista que você não vai entender nada, parceiro.
Tem cineasta do cinema ratoeira, aquele cinema alternativo que só fala de favela, empregada doméstica e gente que chia o S em suas diversas matizes pelo Brasil profundo. Invariavelmente, é gente que viu favela a primeira vez minutos antes de ter a idéia pro filme (daí a surpresa em querer “apresentar o Brasil aos brasileiros”, quando só ele próprio nunca tinha sido pedestre numa calçada por mais do que 5 segundos consecutivos) e agora viu que pode enriquecer vendendo pobrismo. Ele jura que alguém no sertão nordestino ou numa Cohab em Sapopemba está interessadíssimo no seu filme, e não em Chuck Norris.
Tem um monte de músico. Músico assim, tipo maestro ou compositor de ópera? Não, é tipo Beth Carvalho, aparentemente a melhorzinha ali. São aqueles músicos de canção popular que você aprende a tocar integralmente em 4 aulas preguiçosas de violão.
Gente que, vai lá, tem voz poderosa e aprendeu a cantar afinado (mais, digamos, um mês de treino). E acabou o segredo. O resto é pura genética no gogó. Não é estudo, não é ser mestre do contraponto ou da harmonia schoenbergiana. Você põe um Bach ou um Mahler pros intelectuais músicos pró-PT ouvirem e aposto que todos confundem um com outro.
Fora que tem cara de banda emo apoiando loucamente. Banda emo, meu. Banda emo. E o cara logo vai fazer meio século de idade. Ou então a Pitty. Pitty, minha gente. A mulher não tem nem nome. Se você nunca se cortou com gilete no banheiro usando franja tingida de laranja e postou no orkut minutos depois, catapimba, você não conhece o “intelectual que apóia o PT”.
Pergunte pra seu furão de estimação a opinião dele sobre embargos infringentes e se uso de fundo previdenciário utilizado pela própria instituição financeira para aumentar o superávit primário constitui uma pedalada fiscal ou não, mas não pergunte pros caras das bandas emo se há provas contra Dilma.
Aliás, não pergunte nada pros caras das bandas emo.
Pior que é uma turma com discurso pobrista, dizendo que somos uma elite loira de olhos azuis burguesa classe média defensora dos próprios privilégios nazitucana, mas fora um ou outro sambista, você não vê um pobre ali. Pobre está interessado em pagar a faculdade e subir na vida, não em defender pobreza.
Não tem nem o esforço original de ter subido na vida, nada: é tudo mauricinho ou gente que a porcaria da Globo descobriu o “””talento””” quando tinha 10 anos e nunca pegou um busão pra Guaianases na vida. Mas estão lá, nos xingando de privilegiados do alto de suas Rouanets. Talento que, é claro, é 100% baseado em carisma ou ser galeroso, nunca em esforço e superação – a única vitória da vida desse povo foi no Big Brother Brasil.
Há grandes questões reinando no mundo intelectual contemporâneo. Depois do século da física subatômica (alguém aí já conseguiu equacionar mecânica quântica e teoria da relatividade sem pancadaria?), temos hoje, por exemplo, o problema mente-corpo. O livre arbítrio contra o fisicalismo. O bóson de Higgs. A matemática transinfinitesimal. Só escolher.
Algum intelectual petista está mostrando como nosso avanço científico está nos fazendo rever todo o constructo teórico, como precisamos revisar até o conceito de número pós-Frege, que o quantuum mostrou que a dualidade onda-partícula já estava presente em Aristóteles, e como fomos tontos em não ler os Analíticos Posteriores até agora (olha essa, Carl Sagan!), o que seria difícil sem o intelectual ter lido também algo anterior de Aristóteles, e até mostrado que entende algo de sua Política, analisando a influência dessa obra em grandes cientistas políticos da modernidade, como Tocqueville, Jouvenel, Ortega y Gasset, Voegelin, A. N. Whitehead ou Santayana, o que poderia nos levar a crer que o intelectual em questão estudou “um pouco” de política antes de defender o PT e…
Não, nada, zero absoluto, vácuo perfeito. A profundidade intelectual petista é a de um buraco negro.
Chega-se então ao nível revista Cult, já que todos os outros estão no nível revista Caras. É quando o cara fala difícil. Pronto, aí não é só intelectual, é líder de manada intelectual. Claro, há Marilena Chaui, aquela que supostamente sabe um ou outro dos autores do parágrafo de cima. Você tem a sensação de que pode colocar todos os intelectuais pró-PT num corredor gigante, perguntar: “Quem aí leu mais de um livro na vida?!”, então vai andar pelo corredor e todos os intelectuais vão começar a apontar pra trás, pra trás, pra trás, até que no fim do corredor você dá de cara com o trono de Marilena Chaui. Não porque Chaui diga algo mais do que os três slogans aos quais se resumiu todo o pensamento de um petista (“não vai ter golpe!”, “coxinha!” e algum outro), mas só por ela falar a mesma coisa de maneira embolada. Como chamar a classe média de “abominação cognitiva”. Tia, você já viu entrevista com o povo da CUT?! Mas vá chamar a “filósofa” de surtada e possuída e pomba-gira pra ver o que te acontece.
É esperar demais que a Vila Madalena nos dê nosso primeiro Nobel.
É uma patuléia que vai defender o PT sem nem saber do que está falando, de como funcionam grampos de telefone a lei de responsabilidade fiscal. É intelectual Saia Justa. É filósofo “E o Cunha?”. É guerrilheiro de 140 caracteres. É sociólogo porta-de-cadeia. É especialista de Globo News. É defensor de avanços sociais da rouanetosfera.
Nesse oceano de superficialidade, o curioso é que não conhecem nem suas próprias teorias, já que falamos de intelectuais (a prática das conseqüências de swap cambial reverso, meu amigo, nem pergunte). Algum que saiba explicar o que é, sei lá, uma liminar suspensiva de nomeação, como funciona, quem propõe etc. Se for para algo mais abstrato como por que Marx chamava seu sistema de “ditadura do proletariado” e por que países com liberdade econômica são invariavelmente mais ricos do que países com mais controle estatal, não tem sociólogo FFLCH que não tenha um AVC. Quem busca conhecer os dois lados da moeda invariavelmente sai da esquerda para a direita, nunca o contrário. Tanto é que livros de direitistas analisam o pensamento de esquerdistas – a comunada só pode dizer “Não leia esse cara de jeito nenhum!”
Por fim, no meio de tanta celebridade relativa (“Quem é Chico Diaz? Ah, é aquele que…”), verdadeiras nulidades no cenário intelectual e artístico (arte, não novela e curso de artes performáticas), poderiam ao menos contratar um designer que presta pra fazer as propagandas de intelectuais defendendo Dilma.
Que mal pergunte, entre presidiários e os atores da mostra Macaquinhos, alguém tem dúvida se não há unanimidade #13confirma?
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