Para revista Super, impeachment deve ser anulado por deputados não serem ateus
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Quase todo mundo que viveu a infância ou adolescência na virada dos anos 80 para os 90 se encantou com as reportagens com alguma popularização de temas de fundo científico na revista Superinteressante, da editora Abril, a mesma de Veja. Praticamente todas as pessoas hoje riem do sensacionalismo e das reportagens toscas da revista. Se é fraca falando sempre de nazismo e teorias conspiratórias sobre Jesus a cada 3 capas, a coisa se afundou no lodo quando inventou de falar sobre o impeachment.
Imitando o fanatismo histérico e as reportagens cheias de platitudes tomadas como grande revelação mundial da concorrente Galileu, a Super entrou na onda de fazer propaganda política disfarçada de reportagem. Tragédia anunciada.
Um certo Denis Russo Burgierman assina a reportagem Cuspir a esmo na Câmara dos Deputados tem boas chances de acertar, cujo título já é auto-explicativo e está em destaque no site da revista. Sem nenhum apuro jornalístico, repete a narrativa do PSOL sobre o cuspe de Jean Wyllys em Jair Bolsonaro, afirmando que este último “segundo relatos” teria o chamado de boiola, o que as câmeras mostram que é mentira. Nem ver um vídeo foi trabalho investigativo suficiente para Burgierman.
E seguem-se platitudes sobre Ustra ser “um assassino sanguinário que gostava especialmente de espancar mulheres, mesmo as grávidas”, sem prova nenhuma, mas é o que qualquer mal informado hoje acredita ser fato confirmadíssimo, tendo quase o mesmo número de testemunhas do suposto xingamento de Bolsonaro.
O mesmo Denis Russo Burgierman assina outra pérola, também em destaque no site da revista: Impeachment não pode mesmo ser de qualquer jeito. Desde a decisão do STF, este Senso Incomum informou sobre qual seria o argumento da defesa a ser repetido: de que os parlamentares que comentassem algo além do estritamente definido por decisão monocrática de Ricardo Lewandowski no STF teriam seu voto anulado.
Por alguma coincidência metafísica e mágica que merecia uma investigação da antiga Super, exatamente a tese jurídica da defesa de Dilma está no artigo – tão escrito para seus amigos num bar que tem frases como “Mas não”. Obviamente que qualquer aplicação de Antonio Gramsci discordando do pensador italiano que deu bases ao PT através de Ênio Silveira é mera teoria da conspiração.
De acordo com Russo Burgierman, a votação pelo impeachment
foi um show de horrores, com direito a deputados oferecendo o voto a sua própria família, um sem-número de menções ao divino causando confusão num estado supostamente laico, um gângster comandando tudo e até um zé mané que achou legal homenagear um torturador safado.
Esse zé mané Burgierman que nem se deu ao trabalho de verificar se o homenageado é mesmo um torturador e se é safado não deu faniquitos de indignação, com dorso da mão à cintura e pézinho a fustigar violentamente o assoalho, sobre deputados também oferecerem seu voto a Marighella, Lamarca e Che Guevara, além do próprio maior ditador do Brasil, Getúlio Vargas.
Afinal, todos estes votos homenageando assassinos verdadeiros, que se pavoneiam de fuzilar e continuar fuzilando, que até escrevem manuais de guerrilha, não estão no horizonte de consciência de meninos de DCE, cujas referências do que é mau são reduzidas a ditadura militar e nazismo (ambas, juram, no mesmo espectro político, com os abençoados libertadores do PSOL do outro lado). São contra ditadura, mas só se for ditadura inimiga.
Além das defesas de terroristas, torturadores e totalitários de esquerda não causar arrepio na tez de Burgierman, será que a cusparada do parlamentar Jean Wyllys é elencada como elemento do “show de horrores”? A resposta é óbvia.
Mas o pior mesmo é a introdução de seu texto: homenagear a família é algo desabonador (“um show de hor-ror-es”), já que um deputado querer ter honra e ver os filhos com olhar de certo e errado é um absurdo – correto mesmo, afinal, só xingar os brasileiro de “canalhas!” e homenagear ditaduras socialistas e enaltecer o partido acima das organizações naturais. Pouco interessante para a Superinteressante.
E pior ainda: não se pode fazer “menções ao divino”, pois elas “causam confusão num Estado supostamente laico”. Ou seja: se alguém possui alguma fé além da matéria bruta e do PSOL, esta pessoa está ferindo o Estado laico e causa um show de horrores se faz referência a um bem e mal transcendental – aquilo que Nassim Nicholas Taleb chama de sistemas baseados em alma, e não apenas em pele.
Regimes que materializam o pensamento do zé mané Denis Russo Burgierman são regimes como a Coréia do Norte da família Kim, a China de Mao Tsé-Tung, o Camboja de Pol-Pot, a Romênia de Ceaușescu. Talvez estes regimes, para o zé mané, não sejam “shows de horrores”.
O super interesse da Superinteressante
Segundo conta da revista, as expressões “responsabilidade fiscal”, “improbidade administrativa” e “lei orçamentária”, que, segundo tese de Lewandowski e Cardozo, deveriam ser as únicas coisas a serem citadas pelos deputados, apareceram apenas três, duas e uma vez, respectivamente, enquanto a palavra “família” aparece (oh, horror!) na boca de 133 deputados. Devemos estar à beira do genocídio armênio, certamente. Oh, não, espere: este foi contra os cristãos armênios. Será que a revista Super não topa uma capa?
O verdadeiro show de horrores é a gramática do zé mané Denis Russo Burgierman. Como as passagens “mais de 60% da população são (sic) a favor de lhe tirar o cargo” e (esta é boa) “não é mesmo o caso de lhe caçar o mandato logo” (sic²). “Caçar” o mandato?! Com uma espingarda e vestido de Ted Roosevelt? O que andam pedindo na prova de redação para se escrever na Super, além de compactuar com Jean Wyllys?! Alguém tentando dar pitos de moralidade e de o que falar ou não não consegue nem descobrir que cassação de mandato é com dois ésses? Como será que essas pessoas fazem para escrever, digamos, “Wyllys”?!
Segue ainda uma tentativa de dar autoridade aos achismos de Vila Madalena do garoto, como citar o cientista político Larry Diamond, da Universidade Stanford, “um dos maiores especialistas em democracia do mundo” (“democracia”, em seu texto, como em voto de petista, aparece como substantivo, adjetivo, advérbio, verbo e logo chega a artigo, conjunção e numeral), para afirmar que ele inventou o conceito de checks and balances, coisa com séculos de idade na república (e não “democracia”, como erroneamente é chamada pela direita e esquerda) americana. E também acha que foi Diamond, pelo visto o único autor que leu, que lidou com a famosa accountability americana. Superinteressante!
Não seria o caso de pedir um pouco do modelo indireto americano, com capitalismo e Constituição que impede que o Estado se meta além da sua existência restrita?
Claro que há concessões, como “Ao que tudo indica, o crime foi mesmo cometido”. Seus conceitos é que são risíveis: “Dilma realizou pedaladas fiscais, que nada mais são do que gastar mais do que tem para cobrir o rombo depois”. Pedaladas não são apenas adiar o pagamento dos gastos: é forçar empréstimos (caríssimos como empréstimos sempre são), e ainda por cima com dinheiro dos clientes de bancos. Pela “lógica” de Denis Russo Burgierman (a essa altura, tratá-lo como “zé mané” é uma ofensa aos zés manés), se um ladrão assalta alguém, está “nada mais” do que gastando mais para cobrir o rombo depois.
E não falta a mesma tese de outro psolista no Senado: “Temer, nos curtos períodos em que substituiu a presidente em sua ausência, pedalou três vezes mais que ela [Dilma]”. Temer, como vice, é apenas um ajudante de Dilma, e não alguém que tomou as decisões. Apenas assina o que a presidente exige, e não tem todo o poder para estar nas mesmas salas fechadas onde Dilma decidiu tudo (sem nunca consultar seu vice) e decidir. Burgierman talvez devesse pedir para sua querida presidente viajar menos. Seria um argumento menos tosco.
Para uma revista que tem como slogan “Quem sabe é Super”, além do triste fim de seu conteúdo outrora ao menos com referências reais e científicas, a transformação de seu espaço em propaganda política do PSOL por alguém que nem pesquisa algo antes de escrever e nem sabe como se escreve “cassar um mandato” merece apenas uma palavra: nojo. Como se a revista cuspisse em nós.
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