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A esquerda defende mulheres, negros e gays… de esquerda

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janaina paschoal não sou criança

Nossa colunista, a doutora Janaína Paschoal, autora do pedido de impeachment contra Dilma Rousseff, fez um belíssimo discurso ontem na frente da faculdade de Direito da USP. Após sua defesa técnica do impeachment perante à Câmara dos Deputados, em Brasília, que ganhou ainda mais admiração pelo país, desta feita a jurista falou com o coração para todos os brasileiros que, diante da Justiça e dos operadores do Direito no Brasil, apenas pranteiam sua impotência.

Os petistas e a esquerda (que, ao fim e ao cabo, prefere perder bilhões e bilhões em dinheiro e toda a sua liberdade com o PT do que enxugar o Estado), obviamente, não gostaram.

Um discurso que fala ao coração não pode ser muito passível de “contra-argumentação”, então a esquerda reclamou, justamente, da emoção demonstrada por Janaína. Justamente a emoção que provocou o arrepio na alma de quem assistiu o discurso da doutora. Ele pode ser visto na íntegra pelo link disponibilizado pela Reaçonaria:

Sem conseguir ir contra uma única linha de um discurso que vai do filósofo germanista Tobias Barreto à imagem mítica de Deus punindo a cobra a fazendo rastejar (Gn 3,14-15), restou reclamar justamente do melhor do discurso: seu pathos, sua paixão, o que fala ao peito, de coração a coração.

Naturalmente, quem quer defender o PT, de maneira, justamente, apaixonada, não tem como nem mesmo suportar a idéia de que o que move corações no país hoje não é o sentimento de pertencimento e apoio ao Partido dos Trabalhadores, mas justamente o desejo de libertação do partido de Celso Daniel, do mensalão, do petrolão, da falência da Petrobras, das extremas pedaladas, de Lula ministro, da pior crise econômica já criada no país com moeda estável.

Mas o já consabido assassinato de reputações promovido pelo PT, sobretudo quando usa o Estado como órgão do partido, se não tinha como encontrar falhas na bela fala de Janaína Paschoal, furtou-se a criticar sua paixão. E sua pessoa.

Mas não apenas afirmando que discordam de sua argumentação (por si, irrefutável), nem usando alguma palavra neutra, o que poderia variar de “desinformada” a “feia, boba e cara de melão”. Atacaram-na como só se ataca uma mulher.

janaína antonio gordo

A jornalista Cynara Menezes, a “Socialista Morena” (já inventaram a Nacional-Socialista Loira?), foi uma das campeãs de ataques. Para evitar pegar mal, afirmou que é feio xingar uma mulher de “louca”, repetindo o que já havia criticado quando a revista Istoé revelou o fato de que Dilma Rousseff, a presidente, está tomando remédios para esquizofrenia (o que é um fato, e não um xingamento).

https://twitter.com/cynaramenezes/status/716047398812913664

https://twitter.com/cynaramenezes/status/716047398812913664

A Istoé não chamou Dilma de “louca”, apenas comentou o fato, de interesse da nação, de a presidente estar tendo surtos com seus subordinados, em avançadíssimo desequilíbrio emocional e tomando olanzapina, pesadíssima medicação para esquizofrenia. As únicas referências a “louca” em sua reportagem são a Maria I, “A Louca”, rainha de Portugal no século XVIII. Caso Cynara acredite que Maria I seja presidente do Brasil atual, ou que Dilma Rousseff seja rainha de Portugal no século XVIII, precisamos redistribuir os adjetivos entre as três personagens deste parágrafo.

Mas, apesar de ter criticado a Istoé pelo que a Istoé não fez, Cynara Menezes acusa Janaína Paschoal do mesmo, três dias depois:

https://twitter.com/cynaramenezes/status/717330697879425026

https://twitter.com/cynaramenezes/status/717330697879425026

Após esta demonstração de “jornalismo fuleiro”, Cynara (famosa no Twitter com três letras antes de seu nome) passou a se justificar, dizendo que não chamou Janaína Paschoal de louca, que é “machismo” tratá-la desta forma, mas descrevendo seu “surto” e suas falas como loucura. Algo curioso para quem criticou a Istoé pelo que não fez, e praticou algo bem pior do que a revista fez.

cynara louca 3

Até mesmo uma expressão como “me chamavam de louca” é retransmitida por Cynara, logo após afirmar que onde já se viu chamar uma mulher de louca, isto é machismo e não se pode fazer.

Nada mal para uma jornalista capaz de escrever uma matéria de capa para a Carta Capital (antes de ser demitida e ter de se refugiar na ainda mais vergonhosa Caros Amigos) que conseguiu se provar falha em cada linha. Na época, afirmava que é “inegável” a “intimidade” entre Carlinhos Cachoeira, o lobista que derrubou Demóstenes Torres com o mesmo tipo de grampo hoje usado contra Luiz Inácio, o ex-presidente, e um diretor da sucursal de Brasília de Veja. Dizia até que o editor da sucursal de Brasília da Veja ganhou “apelido íntimo” de Cachoeira, quando as gravações que usa como “prova” mostram que Cachoeira nem entendia a quem o tal apelido se referia. Ou seja, exatamente o contrário do que a “jornalista investigadora” afirmava.

Não se pode nunca imputar loucura a alguém, muito menos confundi-la com analfabetismo.

Resta sempre criticar o chamado “discurso de ódio”, como se Janaína citando alguém que se considera uma “cobra” fossem palavras comparáveis às de Adolf Hitler.

Ora, qualquer um sabe que se Janaína Paschoal tivesse dito que 2 e 2 são 4, teria sido perseguida da mesma forma. Porque a esquerda não está interessada em definições sólidas (o que é a pedra basilar de um pensamento conservador), e sim de inflamação de ânimos da massa, esta que nunca raciocina.

Acusações as mais “machistas” são sempre relativizadas pela esquerda. Se Lula, o ex-presidente, chama “mulheres de grelo duro” para serem um enxame irracional de abelhas assassinas contra um adversário político, ele está sendo até feminista. Até Cynara Menezes vai nos informar sobre o estado civil e físico de seu próprio clítoris. Se uma revista informa ao país que a presidente está tomando remédio controlado para esquizofrenia, shoot the messengererrada é a revista, que expôs uma mulher “por ser mulher” (sic). Se alguém afirma que Janaína tem um “surto”, nada de errado, é só por acaso que é uma mulher ali, com “tom religioso” (sic).

Apenas citando os ataques à Janaína que dão pouco nojo em qualquer ser humano sem o cabresto da ideologia – há vitupérios impublicáveis. Para não lembrar de feministas que defendem estupradores, espancadores de mulheres e afins – desde que sejam de esquerda e possam atacar conservadores.

Foi mais ou menos o que o PT fez com Joaquim Barbosa, quando este votou favorável à prisão de mensaleiros. Petistas em peso o chamaram de “capitão do mato” (o negro que perseguia negros fugidos da senzala) para baixo (num tom que ultrapassava “Joaquim Barbosa é um negro vadio que só está lá por acusa do Lula”).

Negros, mulheres e gays – o chamado “tripé raça-gênero-sexualidade” definido por Roger Kimball como o eixo da esquerda hedonista pós-Marcuse – não são defendidos pela esquerda. Apenas a esquerda percebeu o falhanço do seu apelo econômico voltado aos pobres, quando os pobres conseguiam enriquecer rapidamente com um capitalismo cada vez mais avançado e empobreciam tão miseravelmente a cada nova experiência socialista.

Pensadores como Marcuse, Alinsky, Deleuze, Foucault e Reich perceberam que o apelo da revolução viria dos sexualmente frustrados e dos marginalizados no capitalismo, que não estavam na zona economicamente ativa. Ao invés de soldados “proletários”, o lumpesinato urbano: prostitutas, proxenetas, traficantes, ladrões e pessoas que não eram os trabalhadores que Marx considerava merecedores de instaurar a “ditadura do proletariado” por serem os supostos produtores.

Hoje, ainda a esquerda acredita que é a única defensora de mulheres, de gays, de negros, de índios – ou de muçulmanos, a última moda entre círculos progressistas. Só nunca percebe que seu objetivo não é “empoderar” mulheres, negros e gays, e sim mulheres, negros e gays de esquerda, usando esta própria tática como propaganda para que estes três grupos recaiam na esquerda.

Uma mulher forte, auto-suficiente, batalhadora e respeitada pelo que é, e não por sua declaração de pertencimento a um coletivo como a dra. Janaína Paschoal pode ser atacada brutalmente pela esquerda com as coisas mais horrendas – sempre outros esquerdistas irão justificar e relativizar os ataques. Afinal, sua paixão e, muito mais perigosa, a paixão que inflama nos corações de quem a assiste (o que a esquerda não pode suportar, ao saber que as pessoas preferem a honestidade do que a igualdade social) são “loucas”.

Já um esquerdista, sobretudo um líder partidário como Lula, pode chamar Pelotas de pólo “exportador de viado”, dizer que sem um dedo, fez mais do que Bill Gates e Steve Jobsse comparar Tiradentes e Jesus Cristo, convocar um exército paramilitar, maltratar pobres e botar “peão” pra bater nos coxinha (“coxinha vão tomar tanta porrada que eles nem sabem o que vai acontecer”) que isso não é “discurso de ódio”, não é alguém tresloucado, não é exagero, nada. Aliás, quem merece punição é quem ouve e vê. Como no caso dos remédios para esquizofrenia da Dilma.

Todo o “argumento” e a definição de qual lado está certo vem a priori: o progressista pode tudo, usando qualquer coisa como instrumento, enquanto se pode criticar do sentimento de indignação e impotência a traços físicos de alguém contrário a seu projeto de poder justamente apelando á própria moral rígida da direita.

Tudo isto justamente para fugir do desafio que a própria dra. Janaína Paschoal propõe: debater idéias. Ou alguém consegue imaginar Cynara Menezes defendendo a permanência de Dilma Rousseff no cargo e as pedaladas dilmistas com a mesma profundidade técnica de Janaína Paschoal, sem apelar para a repetição autômata de três frases como “todo mundo pedalou”, “não vai ter golpe” e “não há prova”?

É por isso que é tão difícil sair da esquerda. Mesmo diante de uma obviedade dessas, o pensamento é: “Mas isto é um direitista se defendendo”. A esquerda só larga o osso do Estado que jura que tomará para si e usará contra seus inimigos quando um esquerdista chega primeiro e usa contra ele próprio.

Toda a nossa admiração pela dra. Janaína Paschoal fique registrada, ainda mais com seu belíssimo  e forte discurso, não importando como esquerdistas a ataquem e se justifiquem com as desculpelas mais amarelas logo a seguir.

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Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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