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Dilma diz que ninguém viu o tamanho da crise. E o “Pessimildo”?

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Na primeira entrevista coletiva do ano, a presidente Dilma Rousseff foi instada a falar sobre os erros e acertos do governo.

Durante os debates para a sua reeleição, quando foi convidada a fazer alguma auto-crítica pelo candidato tucano Aécio Neves, que lhe perguntou qual era o erro do seu governo, Dilma respondeu revertendo a negatividade: “O lado bom do meu governo…”

Desta feita, com aprovação em um dígito, Dilma preferiu um discurso mais comezinho: “O maior erro foi não ter visto que a crise era tão grande em 2014, não ter visto o tamanho da desaceleração em decorrência de problemas internos e externos”.

A auto-vênia de Dilma se coaduna cirurgicamente com as análises dos economistas selecionados a dedo pela Folha de S. Paulo para afiançar que “economistas não previram a crise de 2015”. Estando aglutinados sob um rótulo genérico, tal manchete pode ser entendida, numa leitura apressada, como todos os economistas do país ou do mundo. As “análises” do jornal acabam bastante parecidas com a propaganda partidária do PT.

economistEntretanto, a imodesta absolvição colide meteoricamente com o próprio discurso de Dilma tanto para se reeleger quanto para avaliar o seu governo antes do resultado da destruidora crise econômica que assola o Brasil, podendo deixar os brasileiros mais pobres do que há 20 anos.

Isto significa que tudo o que trabalharam e construíram de riqueza nas últimas décadas foi efêmero e pode evaporar, para que todo o trabalho, estudo e empenho deste tempo retorne aos índices da desastrosa gestão José Sarney (1985-1990), legando à próxima geração uma situação econômica muito pior do que a que tiveram os bem nascidos antes dos resultados da gestão PT.

Na verdade, quando Dilma e Aécio faziam prognósticos para o futuro, os marqueteiros da atual presidente colaram o apelido de “Pessimildo” no candidato tucano, por antever um futuro menos marqueteiro para o Brasil.

Pode-se acusar Aécio Neves de qualquer coisa, exceto de ser lá um grande adversário. Mas até mesmo o candidato social-democrata (considerado um dos tucanos mais à esquerda dentro de um partido de ideologia já focada em um Estado fortemente atuante na economia) sabia muito bem que os gastos do governo PT gerariam crise.

Isto para não lembrar da superintendente do Santander Sinara Polycarpo, que enviou uma carta aos clientes do banco em julho de 2014 alertando que a economia tenderia a ter uma pior situação em caso de reeleição de Dilma. Passado mais de um ano, não há petista que possa afirmar que Sinara estava errada.

santander sinara policarpoContudo, quando Sinara enviou sua carta aos clientes do banco, que queriam uma avaliação de riscos econômicos conforme o resultado das eleições, Dilma classificou sua carta como “lamentável” e o ex-(?)-presidente Lula preferiu um linguajar mais Lula: “Essa moça que falou [isso] não entende porra nenhuma de Brasil e de governo Dilma Rousseff. Manter uma mulher dessas em cargo de chefia é sinceramente… Pode mandar embora e dar o bônus dela pra mim, que eu sei como é que eu falo”, ainda pedindo que o dinheiro do trabalho de Sinara (ou mais do dinheiro) fosse para o seu bolso.

Como a palavra do ex-presidente possui qualidades mágicas de gênio árabe, seu desejo foi considerado uma ordem e a analista foi demitida, mesmo tendo feito justamente o trabalho que seus clientes esperam dela (felizmente, Cinara Polycarpo posteriormente ganhou em primeira instância direito a indenização pela Justiça, embora tenha sua própria indenização evaporada pelos planos econômicos petistas).

A economista Renata Barreto, em post no Facebook, também lembra outros casos, falando diretamente à presidente:

Quando a Empiricus lançou a tese “O fim do Brasil”, o PT os processou (perdeu é claro) e disse que estavam em conluio com o Aécio Neves e o Google (oi?). Quando o Credit Suisse estimou o PIB menor, seu queridinho ex ministro Mantega disse que era uma piada. Acontece que a piada agora somos nós.

Eu sou uma economista que tem ainda pequena voz perto de um mar de gente que tem visibilidade, mas falo dos erros de vocês há pelo menos dois anos. Vi artigos de diversos economistas mais renomados falarem o mesmo e, inclusive, o próprio TCU emitiu um parecer em 2014 avisando dos problemas de ordem fiscal que vocês insistiram em colocar para debaixo do tapete com as pedaladas. Você mentiu descaradamente na campanha eleitoral, sabendo SIM que as coisas iriam piorar em 2015, porém se fossem ditas poderiam custar sua reeleição. Com a perda do Investment Grade, Lula novamente disse que isso não tinha importância. Em abril de 2015 a senhora ainda chegou a dizer em uma entrevista na Bélgica que o Brasil não tinha problemas estruturais e nem faltaria dinheiro para nada. Ninguém é tão estúpido assim, nem mesmo a senhora que é a protagonista dos discursos mais sem pé nem cabeça da história. Vir com esse papinho agora é só mais uma prova da sua grande falta de caráter, que é também presente em todo o partido e na maior parte da política brasileira.

Dilma, lhe digo de economista para economista, que a senhora é uma VERGONHA como profissional, como mulher, como presidente, como qualquer coisa que se proponha a fazer. Quem ainda acredita nos seus discursos furados ou é muito idiota ou realmente só pensa em si próprio ao ganhar algo com este governo desonesto.

Cansa ser brasileira, cansa querer ver o país melhor, cansa querer abrir os olhos dos incautos, cansa muito ouvir esses absurdos e não saber explicar como esta coisa é a presidente do Brasil. Que fase.

Com efeito, a política do PT é facilmente assimilável para seu curral eleitoral, dividido entre a baixa instrução, a tirania das boas intenções, os acadêmicos da manipulação social e a rouanetosfera: forçar uma situação econômica ou social através de um plano estatal. Por exemplo: há poucos negros nas Universidades? Basta dar cotas. Há pouco dinheiro para alguns pobres? Basta dar bolsas. Etc etc.

Do Ministério da Pesca às ciclofaixas do prefeito paulistano Fernando Haddad, todo o modelo petista de gestão cabe neste esquematismo. Podemos partir dele para mais uma aula de #EconomiaForDummies.

protesto copa vão livre maspComo já analisamos aqui, é o chamado Estado de Bem-Estar Social, uma espécie de prêmio de consolação após a consciência do falhanço global do socialismo. Não à toa, quase todos os “sociais-democratas” modernos têm um passado desabridamente socialista, quando não continuam sendo, embora não usem mais o termo ominoso. Por que alguém não concordaria com o Estado “dando” dinheiro para os pobres?

Porque, na verdade, o Estado não produz nada para ser “dado”, apenas toma à força o fruto do trabalho de outrem. Dilma Rousseff, Lula ou qualquer político social-democrata nunca carpiu um lote, inventou um remédio ou transformou algodão em roupas para dar aos pobres. Apenas usaram do poder de mando do Estado para tomar o que alguns criaram e controlarem este butim.

Não à toa, quanto maior a parcela do dinheiro do povo estiver controlado por políticos, maior será a corrupção – o dinheiro que já está no seu bolso é mais difícil de ser tomado por políticos. É por isto que partidos de forte empenho estatal na economia, como o PT, têm um número maior de casos de corrupção do que seus adversários menos estatais.

Quando “dão” dinheiro aos pobres, pode parecer uma ajuda humanitária dada a urgência da situação, mas também significa retirar as conseqüências das ações econômicas da população. Trabalhar e criar têm resultados cada vez mais próximos de não trabalhar ou viver pelo rent seeking, a busca de rendas que não produzem riqueza, apenas manipulam o ambiente econômico e político ao seu redor.

Naturalmente, os incentivos para profissões que não produzem riqueza diretamente, como o funcionarismo público, aumentam exponencialmente em “governos sociais” – a própria burocracia estatal exige repartições públicas abarrotadas de cargos para gerenciar a riqueza alheia. É isto o que acontece quando governos dizem buscar “diminuir a desigualdade social”, ao invés de incentivar a liberdade de trabalho, comércio e poupança das pessoas.

getulio vargasO resultado sempre foi o mesmo, em toda a história: crises. Inevitavelmente, haverá cada vez mais burocratas, funcionários públicos, políticos e não-produtores com cada vez menos produção, e uma parcela cada vez maior da produção ficará com os não-produtores. Em pouco tempo, a produção deixa de existir e o governo declara “crise” – ou seja, não tem mais de quem tomar dinheiro. Os preços sobem, as empresas fecham, os empregos viram fumaça, a população trabalha, mas não tem riqueza. Os políticos, obviamente, continuam muito bem, obrigado. Não sem razão, é o modelo de sindicalismo alçado à política, tanto de Getúlio Vargas inspirado no fascismo quanto de Luís Inácio Lula da Silva (que, para difamar a analista do Santander, invocou a memória de Getúlio como seu mentor, também criador de crises e que foi atacado por supostos “golpistas” por isso e pelo sua violenta concentração de poder).

Portanto, não é por terem um buraco negro no lugar do coração que alguns desacreditam das políticas de Dilma Rousseff, do PT e demais partidos socialistas ou sociais-democratas. Muito menos por serem ricaços querendo proteger seus “privilégios” tomando riqueza dos outros.

Pelo contrário: é o modelo de “política social” que toma a riqueza do trabalhador. O liberalismo, por definição, é a defesa da liberdade de se trabalhar e manter os frutos do próprio trabalho para si (apenas burocracias modelo “mal necessário”, como a Justiça, podem precisar do poder de monopólio e trabalho não-produtor do Estado).

O problema de Dilma, do PT, de toda a esquerda política ou dos economistas declarantes de sua própria incompetência na Folha de S. Paulo não é a dificuldade em prever eventos futuros imprevisíveis: é criticarem o liberalismo (que chamam apenas de “neoliberalismo”, um quase oposto) sem conhecê-lo. Se Aécio era o “Pessimildo”, os liberais são um poço schopenhauriano de incredulidade diante dos poderes mágicos de criação de riqueza por um político.

Afinal, o liberalismo defende o que defende, e critica a apenas aparente “transferência de renda” das “políticas sociais” de um PT da vida (sempre falando em “conquistas sociais”, nunca em avanços éticos ou em enriquecimento legal), justamente porque toda a argumentação liberal é esta: o PT e seu modelo de Estado geram crise. E o próximo passo é sempre gerar o totalitarismo modelo bolivariano.

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Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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