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Morte do menino de 10 anos: sem surpresas

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Vi-me estarrecido, porém nem um pouco surpreso com a notícia do menino de 10 anos que acabou morto baleado num confronto com a PM de São Paulo na última quinta-feira. Digo que não fiquei surpreso porque a violência no Brasil é epidêmica e bem “democrática”. Ela não poupa ninguém e não seria diferente com um menino tão novo.

O que me surpreendeu foi a falta de análises corretas da morte de um menino de 10 anos. De um lado do espectro ideológico pessoas culpando o jovem morto e do outro pessoas culpando a polícia. Ao meu ver, ambos atiram fora do alvo.

Eu entendo aqueles que, cansados de verem a esquerda livrando a cara de marginais por conta de sua idade, tendam a ter uma reação automática de praticamente celebrar a morte do menino que cometia esse crime grave. Entendo mas não concordo.

Uma criança de dez anos que rouba um carro e atira na polícia certamente não se envolveu com a criminalidade ontem. Existem relatos de encontros dele com a polícia de um ano atrás, quando tinha somente nove anos de idade. Ele já passou pelas delegacias de São Paulo três vezes só esse ano.

Ao invés de estar aprendendo os valores corretos, de estar sendo ensinado o que é certo e o que é errado, ele estava largado no mundo, à própria sorte, no meio de bandidos mais velhos, aprendendo tudo o que não presta.

Uma criança de 6 ou 7 anos de idade não é capaz de tomar decisões racionais de um adulto de 16, 20 ou 30 anos. Suas escolhas são baseadas principalmente em imitação daquilo que a cerca. Do outro lado, a esquerda não perde a oportunidade de usar o ocorrido pra culpar um de seus maiores inimigos: A polícia militar.

A polícia é vista desse lado do espectro ideológico como uma organização opressora, um obstáculo à sua “justiça social”. A lei e a ordem são pedras no caminho que os novos revolucionários precisam remover pra continuarem sua marcha rumo ao “paraíso” prometido pelo socialismo.

Crianças mortas em situações trágicas como essa não são nada além de uma oportunidade de avançar sua agenda. Os veículos de imprensa, cujas redações estão infestadas por esse tipo de gente, não estão preocupados em reportar a realidade e nem identificar as causas do problema mas em construir uma narrativa favorável à sua tara ideológica. O que lhes interessa é a agenda política e eles não vão hesitar em usar o garoto morto como ferramenta.

Quem seriam então os maiores culpados nessa história? Basta perguntar pra mãe da criança, essa mesma que apareceu chorando em todas as capas de jornais, onde ela achou que seu filho de dez anos estava em meados de 2015 quando ele foi preso pela primeira vez. Onde ela assumiu que a criança estava todas as vezes que andava com traficantes, aprendendo a atirar e roubar? Onde ela imaginou que seu filho pequeno poderia estar no momento em que roubava um carro e atirava na polícia? Ela sequer se fazia essas perguntas?

Os adultos responsáveis pelas morte do menino de 10 anos são seus pais. Vejo com preocupação o fato de repetidas vezes o brasileiro comum não delegar responsabilidade pela criação dos filhos aos pais. E por conhecer um número suficiente de pessoas muito pobres que cuidam de seus filhos com amor e responsabilidade, eu não consigo achar na dificuldade financeira uma desculpa pra esse tipo de negligência.

Se o Brasil fosse um país sério, cujos políticos e a elite intelectual estivessem realmente interessadas em salvar a vidas de jovens que morrerão no futuro se nada for feito, estaríamos nesse momento nos fazendo todas essas perguntas e discutindo uma forma efetiva de punir adultos responsáveis por abandono de menores incapazes. Não podemos nos dar ao luxo de continuar atirando fora do alvo por mais tempo, ou inocentes continuarão morrendo.

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Assuntos:
Marcelo Ribeiro

Médico formado na Universidade Federal Fluminense, com residência médica em medicina interna na Universidade de Connecticut e especialização em geriatria na Universidade de Miami. Com título pela American Board of internal Medicine em Medicina interna e geriatria, exerce carreira como médico hospitalista no Centro Médico do Estado do Maine nos Estados Unidos da América.

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