“Not in my backyard!”: o significado do Brexit
Da Magna Carta ao Brexit, os ingleses estão sempre dando ao mundo uma lição e tanto sobre representatividade política.
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O fato de quase todos os grandes jornais do mundo terem errado suas previsões quanto ao Brexit – a saída da Inglaterra da União Européia (UE) – é muito significativo. Tendo deixado há muito de fazer jornalismo independente, esses veículos passaram a adotar uma pauta mais ou menos única, que é aquela ditada pelos interesses de um dos três grandes projetos contemporâneos de governo mundial, a saber: o globalismo ocidental. Este, formado pela elite financeira do Ocidente, está materialmente representado em organismos internacionais ou supra-nacionais – tais como a UE, a ONU, a Unesco, a OCDE etc. – e em governos pós-nacionais tais como os de Obama, Hollande e Merkel.
A espantosa unificação político-ideológica do establishment midiático nas últimas décadas é um reflexo daquele projeto, do qual a mídia mundial passou a ser nada menos que a agência de propaganda. Portanto, os grandes veículos de imprensa só aparentemente vinham noticiando sobre o referendo do Brexit. O que eles faziam de fato era tentar influir em seu resultado.
Sabendo que, através do mecanismo da “espiral do silêncio” (leiam Elisabeth Noelle-Neumann), muitas pessoas tendem a votar em quem ou no quê elas acreditam sagrar-se-á vencedor, por um desejo de participação na vitória e concomitante medo do isolamento da derrota, a imprensa mundial não parou de anunciar como certa a vitória do “remain”, às vezes por uma margem de mais de 10%. Ou seja, não é que, como muitos têm dito, a imprensa mundial tenha se limitado a torcer, da arquibancada, pela permanência da Inglaterra na UE. Não, a imprensa simplesmente entrou em campo e jogou junto com os “permanencistas”.
Logo, a vitória do Brexit tem um significado muito maior do que à primeira vista pode aparentar. Trata-se de uma derrota fragorosa do monumental mecanismo de homogeneização das consciências montado pelas forças globalistas já ao fim da Segunda Guerra, fortalecido, por adquirir uma invisibilidade protetora, após o fim da Guerra Fria.
A Inglaterra, o país da gloriosa Carta Magna de 1215, dá nova lição ao mundo, qual seja a de que o hiato entre “governantes” e “governados”, jamais tão abissal quanto neste nosso tempo, precisa ser reduzido. De que o poder precisa ser descentralizado, as tradições e as cores locais, respeitadas, e a arrogância do “moralismo político” (leiam Kenneth Minogue) em nível global, contestada.
Como gostava de dizer Nicholas Ridley, político conservador amigo de Margaret Thatcher, outra que também deve estar celebrando no além: “Not in my backyard!” Eis a mensagem que os ilhéus bretões fazem chegar ao mundo com o Brexit. A nós, brasileiros, não seria nada mal introjetá-la na consciência.
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