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Boris Jonhson vence as eleições no Reino Unido e promete sair da União Europeia

Com 66% dos votos, Johnson substitui May na liderança do Partido Conservador e é confirmado como novo primeiro-ministro do Reino Unido

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Boris Johnson, eleições, Reino Unido, Brexit

O presidente Jair Bolsonaro já cumprimentou Johnson e disse que o conservador pode “contar com o Brasil. Bolsonaro citou o compromisso em “respeitar os desígnios do povo britânico”, referindo-se ao cumprimento do Brexit – saída do Reino Unido da União Europeia – marcado para prazo máximo do próximo dia 31 de outubro.

A situação, aliás, como até os mais desatentos com relação à política internacional devem saber, coloca Johnson em posição delicada e importantíssima. Ele próprio descreveu a situação como um “do or die” (cumprir ou morrer) para os tories – seu partido – mas não apenas, também para o bipartidarismo britânico e a política britânica como um todo tal como se conhece desde muito tempo. Além de cumprir o Brexit, conforme destacado no seu discurso de vitória (a seguir), outra meta indispensável de Johnson é derrotar o líder trabalhista Jeremy Corbyn nas próximas eleições gerais (marcadas para 2022, mas que devem ser antecipadas).

 

 

Boris Johnson, antes de mais nada, é preciso destacar, não é um político comum. Com a onda de líderes carismáticos e soberanistas, mais atinados aos sentimentos do homem comum, Boris não é como a maioria dos políticos de carreira, que em suas aparições públicas se assemelham a bonecos de cera impassíveis. Johnson é extremamente erudito, possui treino jornalístico e tem todos os trejeitos do inglês típico, possui o característico wit inglês e não faz um discurso sequer sem arrancar risos da plateia – tudo isso regado a sua aparência peculiar, cabelos loiros e muitas vezes desgrenhados e voz grave. Tal como Churchill, Johnson é escritor e escreveu uma biografia (O Fator Churchill) do político que lhe serve como modelo.

Johnson também é capaz de citar a Ilíada, em grego, de memória:

Johnson foi prefeito da (sic) “multicultural”, cosmopolita e de fortes tendências esquerdistas Londres de 2008 a 2016, inclusive durante os jogos olímpicos de 2012 – que posteriormente se confirmaram como um sucesso. Foi também secretário para assuntos externos de Theresa May.

Para, talvez, desagrado de alguns conservadores mais linha-dura, Johnson se filia, em alguns aspectos, ao legado de David Cameron (primeiro-ministro conservador antes de Theresa May que convocou o referendo do Brexit), que poderia ser chamado de “progressista”. Em alguns dos debates pela liderança, por exemplo, Johnson se disse favorável ao casamento gay e disse ter tido satisfação em colocar a bandeira do “orgulho LGBT” nas embaixadas britânicas ao redor do mundo (inclusive nas sediadas em países islâmicos).

Alguns dizem que Johnson cedeu ao establishment, já que costumava dar declarações incendiárias, como dizer que Hillary Clinton se parece com “uma enfermeira sádica num hospital psiquiátrico” ou que “mulheres islâmicas de burqa parecem caixas de correio”, ainda que ele tenha dito que mantém o que disse. O mainstream esquerdista, evidentemente, vê em Johnson mais do “populismo de direita”, extremismo e “fascismo” que veem em todos os políticos de direita vitoriosos em anos recentes – alcunhas que recaem sobre absolutamente todo mundo 2 milímetros à direita de Stalin.

A revista The Atlantic fez um perfil bastante extenso de Johnson, tratando de detalhes de sua história, carreira e até mesmo seu gosto por bons vinhos.

Por ora, é necessário enfatizar que, embora durante a campanha a enfase foram questões relacionadas a economia, saúde, segurança (o sucessor de Johnson na prefeitura de Londres, o trabalhista muçulmano Sadiq Khan tem como legado até agora o aumento vertiginoso nos crimes com facas), habitação etc., o tópico central foi, de fato, o Brexit.

Johnson também é um brexiteer (políticos publicamente convictos em sua favorabilidade ao Brexit). Fez campanha pela saída do Reino Unido da União Europeia desde o princípio dessa discussão, ainda que tenha dado voto favorável ao ruim acordo de Theresa May uma das três vezes que o texto foi submetido ao parlamento – o texto foi rejeitado as três vezes, a hecatombe definitiva do governo da remainer May.

O impasse sobre o Brexit também rendeu derrotas estratosféricos ao partidos conservador e trabalhista nas últimas eleições europeias, o que deixou um recado claro da população: o impasse precisa ser resolvido. É questão – literalmente – de vida ou morte para qualquer político e seu partido. Do contrário, o The Brexit Party, do ainda mais carismático Nigel Farage, pode chegar ao poder como alternativa ao errante establishment político inglês.

E a vida de Johnson não é nada fácil. O prazo final acordado entre Parlamento inglês e União Europeia é, como já citado, 31 de outubro – pouco mais de 3 meses. O caminho é mais ou menos o que se segue:

1- tentar aprovar novo acordo, em tempo recorde, que preveja as regras da saída do país do bloco, enfrentando as dificuldades no parlamento já enfrentadas por May;

2- sair sem acordo e operar pelas regras comerciais globais comuns (WTO), ainda mais difícil, considerando que a maioria do parlamento sequer é a favor da saída, ainda mais sem acordo.

3- hipótese virtualmente impossível, porém aventada, que é “prorogue” o Parlamento e sair do bloco por decisão monocrática do primeiro-ministro. Esse é o desafio de Johnson nos próximos meses. O sucesso pode significar a glória, nova derrota pode significar eleições gerais e o fantasma de Jeremy Corbyn reencarnando.

Para quem perdeu, o podcast OliverTalk teve um episódio especial sobre Boris Johnson e a inevitável comparação com Donald Trump, onde foi comentado também sobre a disputa pela liderança do Partido Conservador como um todo. Apesar do equívoco quanto ao adversário (acreditávamos em Gove e não em Hunt), confirmando as expectativas, acertamos a vitória de Johnson:

 

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Assuntos:
Andre Assi Barreto

Professor de Filosofia e História das redes pública e privada de São Paulo. Aluno do professor Olavo de Carvalho. Mestre em Filosofia pela Universidade de São Paulo. Também trabalha com revisão, tradução e palestras. Autor de "Saul Alinsky e a Anatomia do Mal" (ed. Armada, 2019)

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