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Olimpíadas

Em quem as pessoas do “Fora Temer” votaram?

Pessoas gritando "Fora Temer!" criticam uma lei de Dilma que impedia manifestações políticas. Mas defendem Dilma. E votaram em Temer. Como?

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"Fora Temer" - manifestação nas Olimpíadas

A Justiça liberou as “manifestações políticas pacíficas” durante as Olimpíadas. Agora os espectadores dos jogos poderão soltar seu berro “Fora Temer!”. É um típico formalismo jurídico: difícil imaginar que alguém que se “manifestasse politicamente” seria censurado pela polícia invadindo o ginásio e quebrando tudo.

A notícia no Brasil passa praticamente despercebida: apenas a militância do PT, que quer gerar notícias negativas para o presidente interino Michel Temer, se preocupou com o fato.

Mas explicá-la para um estrangeiro é muito, muito difícil. Para povos que pensam, agem e defendem idéias com base em coisas como a lógica, a coerência e a noção do ridículo, explicar o que está acontecendo na ópera dos personagens Dilma, Temer e a militância do PT confunde mais do que o roteiro de Inception lido de trás pra frente depois de ser batido no liquidificador.

A militância do PT votou em Dilma. Dilma, sabendo que sua popularidade já naufragava antes da suspeita eleição de 2014, sancionou uma lei proibindo “manifestações políticas pacíficas” em eventos esportivos, justamente com medo da reprise do já antológico “Ei, Dilma, VTNC!” que fez tremer estádios na Copa – e fez com que a presidente da nação entregasse a taça para a Alemanha na Copa com tanta pressa que não ficou por um segundo com o troféu nas mãos.

Dilma, em 2010 e 2014, tinha como vice Michel Temer. Não votamos mais em candidatos separados para presidente e vice, como foi no caso Jânio-João Goulart, que gerou uma tentativa de auto-golpe, um golpe e um contragolpe em menos de 4 anos. Hoje, votamos em chapas únicas para presidente e vice-presidente.

Sem o apoio de Michel Temer, do PMDB, o maior partido do país, Dilma não teria os votos do PMDB na sua chapa (incluindo os dele, Eduardo, o Cunha, que pediu votos para Dilma em 2014).

Dos 54,499 milhões de votos de Dilma (51,64% dos votos válidos, apenas 38% dos votos totais – já um escancarado fator para seu desprezo perante o povo), Dilma dificilmente seria eleita sem os votos do PMDB de Michel Temer, já que seu adversário ficou apenas 3,45 milhões de votos atrás (51.041 milhões, ou 48,36% dos votos válidos).

Percentual quase idêntico foi visto em todas as eleições vencidas por candidatos de partidos do Foro de São Paulo, que usam urnas da empresa venezuelana Smartmatic, recusadas por todo o mundo civilizado.

Imagine-se se o PMDB tivesse candidato próprio nas eleições: apenas 3,5 milhões de votos (algo ínfimo para o maior partido do país) teriam impedido o PT de tomar posse em 2014.

Portanto, sem uma matemática complexa, quem votou 13 confirma votou em Dilma e em Michel Temer, já que Dilma não ganharia sem os votos de Temer.

Agora que a presidente foi afastada, os próprios petistas, que votaram em Dilma e Temer, querem poder xingar Michel Temer. A oposição ao PT, que não votou em Michel Temer, está rindo e considerando novamente do jogo que manifestações populares de repúdio a políticos sejam liberadas (existe oposição ao PT justamente de quem não quer o Estado governando cada micro-aspecto de nossas vidas, até ir ao banheiro).

Como o presidente foi trocado graças às fraudes petistas e o gigantesco repúdio popular a Dilma Rousseff, uma lei sancionada por Dilma para não se ofender e manter sua militância crendo que é o próprio povo agora é criticada por eleitores de Dilma, pois querem gritar “Fora Temer!”.

E quem colocou Michel Temer no poder foram… os eleitores de Dilma. A depender de quem não gosta do PT, de Dilma e de Lula, Michel Temer nunca seria eleito.

Enquanto isso, quem não é eleitor do PT não tem nada a ver com os eleitores de Dilma criticando uma lei de Dilma por não poder xingar o vice de Dilma que os eleitores de Dilma não gostam e consideram agora um ditador censor autoritário e golpista.

Deu para entender? Ok, agora tente explicar isso para um gringo. Se ficar muito difícil, melhor partir logo para uma discussão sobre como instaurar a paz no Oriente Médio.

Será que ninguém lembra que até a FOTO de Michel Temer aparecia logo acima do botão “Confirma” da urna? Para ter possibilidade de Temer presidente o voto era 13.

Urna Michel Temer chapa de Dilma Rousseff

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Assuntos:
Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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