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Ho, ho, ho!

Não existe “Boas Festas”, só “Feliz Natal”

Por que desejar "Feliz Natal" pode ofender alguém? Uma sociedade sem símbolos é uma sociedade mais frágil. E o que une mais do que o Natal?

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Papai Noel preso

No mundo de hoje, um mundo em que não é preciso ter mais do que 15 anos de idade para já ter saudade dos bons tempos que não voltam mais, é proibido dizer “Feliz Natal”. A moda é apenas falar “Boas festas”, para não ofender aqueles que não acreditam no que o Natal significa.

É uma mania bastante estranha. Poucos se preocupam em perguntar se as pessoas realmente acreditam na vantagem do modelo republicano sobre nossa admirável monarquia ao comemorar o 15 de novembro, ou o feriado mais disputado de todos: se ninguém se ofende com a existência do carnaval e propõe que nossa individualidade não seja tomada por gente drogada dançando uma batida horrorosa que chamam de música enquanto trocam fluídos corporais com desconhecidos nas ruas.

Mas no Natal, tiro e queda, todas as lojas, canais de TV, sites e empresas que antes se enfeitavam e embelezavam a cidade com o espírito do Natal, não mais que de repente, pararam de brilhar, de usar árvore, algodão em formato de neve, Papai Noel e presentes. Porque isso “ofende” quem não gosta de Natal. Então, é melhor, pela famosa ditadura da minoria democrática, não comemorar o Natal.

Prédio na Avenida Paulista apenas com uma guirlanda de NatalQuem reparou nas grandes cidades neste ano deve ter notado a mudança. Em São Paulo, pode-se andar por qualquer avenida gigante e famosa, como a Paulista ou a Brigadeiro Faria Lima, e ao invés de ver prédios embalados como presente do térreo ao 50.º andar, no máximo há uma pudibunda guirlanda solitária para tentar ser democrática. Alguma referência ao Natal além de Papai Noel, então, parece que será punida pela Polícia Política, e o dono do estabelecimento sairá em todos os jornais sendo conduzido coercitivamente pelo japonês da Federal. Presépios são garantia de ser chamado de extrema-direita racista xenofóbica homofóbica e sem escolaridade pela Globo, pelo Estadão, pela Istoé e pelo novo herói Social Justice Warrior da Marvel. Para não falar da Superinteressante e da Capricho, essas gêmeas-siamesas feminazis. Nenhum cartão de Natal aparece com os dizeres “Feliz Natal”, e sim com um anódino “Boas Festas”, para não ofender.

Por que a palavra “Natal” virou um anátema, Aquela-Que-Não-Deve-Ser-Nomeada, algo a se temer, a se envergonhar, quase como ser pego com uma revista Sexy no banheiro, uma felicidade que só pode ser compartilhada às escondidas, como adolescente indo comprar cigarro escondido e surrupiando e acobertando o conteúdo dos pais e professores? Por que o nascimento de Jesus ofende tanto, mas eventos que não fazem bem, mas enaltecem o mal, não ofendem nada?

Crítica social foda: NatalÉ algo que só gera buzz e vira questão política para quem se surpreende facilmente com palavras, sem auscultar-lhe o seu conceito. Afinal, por que o “Natal” de Jesus Cristo ofende, mas o Ano Novo, de 2017, não ofende? Afinal, 2017 marca o 2017 anos do nascimento de Jesus, estabelecido pelo calendário gregoriano, pelo papa Gregório XIII em 1582. Para alguém ser 100% laico, teria de abolir alguns pressupostos mais básicos e comungados (!) por toda a sociedade.

Foi o que tentou fazer a Revolução Francesa, instaurando à marra um calendário mais “racional”, com 12 meses de trinta dias, com 5 ou 6 dias adicionais (a Natureza e a realidade, afinal, não estava muito interessada nos esquematismos “racionais” dos iluministas, e a Terra continuou seu curso não-decimal). Os dias, oh, horror, foram divididos em 10 horas com cem partes (como minutos) divididas em outros cem (como segundos). Alguns não entendem por que os povos anglo-saxões, amantes da liberdade, sempre odiaram o sistema métrico: admirar à distância a maluquice dos revolucionários iluministas tentando implantar suas “luzes” pela Europa fazia qualquer inglês abraçar polegadas, milhas e galões.

Qualquer estudante de antropologia sabe que os símbolos religiosos, os objetos de culto, são anteriores a algo como um Estado ou um sistema político. Pensamos em sumérios ou vikings e já lembramos de seus deuses, não de sua forma de organização política. Mircea Eliade, o maior estudioso das religiões no mundo, em seu clássico O Sagrado e o Profano, já explicou que a visão de mundo religiosa, que divide o mundo entre sagrado e profano (e não “religioso” e “laico”), permanece mesmo no mais secular dos pensamentos modernos/istas. Mas o homem da multidão da era das massas consegue muito bem entender o sentido de um conto taoísta chinês com 23 séculos sem abandonar seu ateísmo, mas é incapaz de apreciar seu próprio calendário e a salvação que deve ao Ocidente, e ao que ele próprio pensa, ocidentalmente. É capaz de admirar o festival de auto-imolação com navalhas de Ashura, mas odiar o Natal.

Tal dessacralização, cujo mau exemplo da Revolução Francesa deveria ser o sobejante para quem “estudou História”, decapita a sociedade daquilo que Philip Rieff chamava de “ordem sacra”: a coleção de símbolos da sociedade que demandam uma obediência imediata, pré e pós-racional, que é compartilhada por todo o coletivo, seja o vermelho de um sinal de trânsito até o código de vestimenta em um fórum.

Uma sociedade sem tal hierarquia e ordenamento é presa fácil para uma sociedade com ordenamentos mais rígidos, e não mais brandos, como os seculares anti-Natal podem parecer crer. A invasão islâmica na Europa é capaz de islamizar de fato o continente caso ele todo seja “secular” e ponha em xeque cada um de seus símbolos com medo de ofender “minorias”, até mesmo o então universal Natal, ou se simplesmente afirmar que o Natal é bom, que o celebramos devido ao nascimento de Jesus no dia 25 de dezembro, calendário gregoriano, amém, nosso Salvador se sacrificou por nós para que encerrássemos o ciclo de mitos antigos que exigiam sacrifícios humanos, o que até quem não é cristão pode agradecer a Cristo? E como, afinal, ao menos entender o mundo e seus símbolos se tais símbolos é que não podem ser nomeados, com medo de hipersensibilidades seletivas?

Pense-se na Hégira islâmica, a migração que marca o início do calendário muçulmano como forma de conquista, e é copiada hoje com a imigração de populações masculinas islâmicas para a Europa. Quando muçulmanos comemoram seu calendário, não entendido por ocidentais que o defendem e relativizam, alguém se preocupa em saber se tal visão de mundo “ofende” alguém, ou mesmo se ela não representa algo malévolo –  bem ao contrário do Natal, que só pode ofender quem busca se ofender com um bebê em uma manjedoura? Alguém sabe ao menos o que está acontecendo, ou ainda cairemos na esparrela de “crise migratória”? No maior clássico da filosofia política, Ordem & História, Eric Voegelin identifica justamente a abolição e descrédito dos símbolos como a crise que derruba impérios.

O Facebook, por exemplo, parece ter sido um dos primeiros (e mais significativos) empreendimentos ocidentais a abolir o Natal e, no lugar, em nome da “não ofensa” e do “multiculturalismo” e do “secularismo”, enfiou justamente uma torre que é um nítido minarete de mesquita para as pessoas comemorarem o Natal que devem a Jesus Cristo:

Cartão de Natal islâmico do Facebook

Não é um caminho muito diferente do traçado pelo Google, que prefere crer que nosso calendário apenas marcou o começo do verão, a época de ir pra praia e ouvir funk e pagode, sem nenhum significado além de nossa incidência de raios de sol, já que o Natal “ofende”:

https://twitter.com/TonhoDrinks/status/812295819147837440

Tal decapitação de nossa ordem sagrada com o medo de se desejar “Feliz Natal” só pode mesmo ser substituída pela infiltração islâmica, apoiada justamente pela esquerda mais secular, atéia e “científica”, como o provam textos de ateus com horror ao “Feliz Natal” e usando como exemplos de pessoas que podem se ofender imagens de muçulmanos. Não há muitos textos de esquerdistas e progressistas se perguntando se ocidentais não gostam de burca, de proibição de álcool e jejum no Ramadã ou se ficam razoavelmente ofendidos em serem mortos por serem infiéis segundo o Corão em atentados terroristas. Para estes, tão somente tolerância.

O Natal (e a Páscoa) é o que o Ocidente tem de mais sagrado. É o que faz as pessoas felizes, lembrando que o tempo caminha para frente, mas também em eventos cíclicos, e podemos ao menos lembrar e nos esforçar para sermos melhores lembrando destas datas.

Afinal de contas, quem, além de algum psicopata, poderia se ofender ao se desejar “Feliz Natal”?

Um feliz Natal a todos os nossos leitores e que Deus nos abençoe neste 2017, com paz e sem sangue de inocentes imolados!

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Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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