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Folha transforma o Facebook em uma rede Folha-free

A Folha de S. Paulo abandona o Facebook e culpa vocês, leitores pernósticos que preferem outro conteúdo ao "jornalismo profissional" do jornal do Datafolha e das colunas do Duvivier.

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Folha deixa de publicar conteúdo no Facebook

Os sentimentos da maioria dos usuários de redes sociais se dividiu com o anúncio feito pela Folha de S. Paulo: o jornal não mais publicará conteúdo em sua página do Facebook, que conta com 5,9 milhões de curtidas. Afinal, não é de hoje que o Facebook e Mark Zuckerberg são vistos com desconfiança por seus usuários, que notam uma intensa patrulha e partidarização da rede social mais utilizada do mundo, que parece privilegiar conteúdos com os quais Zuckerberg concorda. Por outro lado, é ótimo ver o Facebook sem a Folha de S. Paulo.

De acordo com a declaração da Folha, tal decisão se deu por conta da “diminuição da visibilidade do jornalismo profissional pela rede social”.

É difícil definir o que é “jornalismo profissional”, pois a Folha fala corretamente do fato da diminuição do alcance de páginas de profissionais de jornalismo, aqueles que são objetivamente destacados na sociedade, mas logo a seguir trata pelo termo uma espécie excelsa de jornalismo, um “jornalismo verdade” que, pelas premissas da Folha, só existe na Folha de S. Paulo, e em nenhum lugar mais.

Como é consabido, o algoritmo do Facebook recentemente diminuiu enormemente o alcance do conteúdo postado em páginas (como a do nosso Senso Incomum) para dar preferência a conteúdos postados por perfis de usuários, favorecendo assim relações mais pessoais, até mesmo na distribuição de notícias.

A Folha, então, considera que o usuário apenas terá acesso a “conteúdo com o qual tenha afinidade” – o que já era a regra no Facebook – o que então favorecerá a “criação de bolhas de opiniões e convenções” – o que é exatamente o que já acontece no Facebook.

Mas, claro, tal sistema, para a Folha, favoreceria a propagação de “fake news”, algo que a Folha nunca faria, onde já se viu.

Dá como exemplo a propagação de fake news nas eleições americanas de 2016 (clichê dos clichês), o que é em si uma fake news: como já lembrou Marlos Apyus neste Senso Incomum, até renomado FiveThirtyEight, de Nate Silver, considerou que a eleição de Donald Trump se deveu a uma notícia verdadeira: o retorno da investigação dos e-mails de Hillary Clinton, o que, misteriosamente, mal apareceu no jornalismo brasileiro, que dirá nas páginas e blogs da Folha.

Graças ao novo algoritmo do Facebook, o usuário não “terá acesso a uma posição contraditória” quando ler algo, embora a Folha não pareça se importar com isso com suas reportagens tentando igualar auxílio-moradia ao petrolão, ou dá uma perfumadinha ao dar espaço para um ou dois colunistas menos esquerdistas (como Coutinho ou Narloch) e uma miríade interminável de colunistas de extremíssima-esquerda, como Guilherme Boulos, Gregório Duvivier, André Singer, Jânio de Freitas, Elio Gaspari, Juca Kfouri, Antonio Prata, Clóvis Rossi, Mario Sérgio Conti, Paul Krugman, Drauzio Varella, Ilona Szabó e Vladimir Safatle.

O que a Folha faz, na prática, é cair atirando. Não foi a mudança do algoritmo do Facebook, embora ela tenha vindo bem a calhar: a Folha mesmo confessa que perdeu 32% dos seus leitores em um ano, e para não admitir que as pessoas se cansaram de um jornalismo panfletário, ideológico e francamente molóide como o seu próprio ao compará-lo com outros analistas que não têm espaço na grande mídia, mas fazem um trabalho de formiguinha de maneira independente (como nós), prefere dizer que as pessoas estão acreditando em “fake news”.

Já dissemos e repetimos: bastaria a Folha utilizar o Datafolha para pesquisar se as pessoas têm alguma confiança no próprio instituto de pesquisa para descobrir que anda com índices Guilherme Boulos de aprovação popular.

Chega a ser cômico ver o jornal falando que o Facebook cria um “condomínio fechado das convicções autorreferentes”. O jornalista Rolf Kuntz denuncia a autofagia jornalística há décadas: o fenômeno que faz com que jornalistas só leiam outros jornalistas. Assim, algo só é chancelado como “verdadeiro” se outro jornalista o disse, e todo o resto é como se fosse falso. Ou pior: como se não fosse encontrado no Google. Daí para acreditar que Hillary Clinton tem 99% de chance de vitória, que Lula é favorito a presidente mesmo preso, que alguém de carne e osso tem as mesmas preocupações de Leblon das coluninhas mais sem graça do que caganeira de neném do Gregório Duvivier é um passo.

Ademais, será que a Folha está realmente preocupada com fake news? Novamente, nosso grande colunista Apyus fez uma análise detalhada no Twitter, que vale a pena ser citada integralmente:

https://twitter.com/apyus/status/961569543054340096

Quantas vezes você viu a Folha reclamando das mentiras da blogosfera progressista, que já foi muito alimentada com dinheiro do pagador de impostos brasileiro que era forçado a pagar para jornalistas mentirem para nós mesmo que não quiséssemos dar público a eles? A resposta é óbvia.

Páginas como a do Senso Incomum precisam de todo o apoio com este novo algoritmo do Facebook (curtam, e além disso, no botão “Seguindo”, deixem marcado a sub-opção “Ver primeiro / See first”, para garantir que sempre verá as nossas atualizações). O tragicômico é ver o choro da Folha ao ver sua própria estratégia, copiada do New York Times, naufragar, e culpar esses broncos que não acreditam na Verdade Revelada da Folha, no seu “jornalismo profissional”, e preferem, vejam que pecado, duvidar das páginas do jornal.

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Assuntos:
Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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