Digite para buscar

#Elenão britânico!?

O maior perigo para o Brexit: o socialista Jeremy Corbyn

Amigo do ditador Hugo Chaves, marxista da velha guarda, líder de extremíssima-esquerda do partido trabalhista, Jeremy Corbyn é ameaça ao Brexit e a todos os valores ocidentais

Compartilhar
Corbyn - Brexit - esquerda
Corbyn - Brexit - esquerda

Jeremy Corbyn

A política britânica está imersa no caos. Desde o Brexit – saída do Reino Unido do bloco político conhecido como União Europeia –, ocorrido no milagroso ano de 2016, que abriu caminho para a eleição de Donald Trump, a política britânica foi tomada por uma série de incertezas, avanços e recuos. O primeiro-ministro David Cameron, que convocou o referendo crente que a opção pela permanência venceria, pediu licença e saiu de mansinho. Ascendeu ao número 10 de Downing Street outra remainer (os partidários da permanência), a segunda mulher a ocupar o cargo, Theresa May. Uma das líderes conservadoras mais fracas de toda a história dos tories.

Theresa May, líder conservadora desde 2016

Acreditava-se que com o resultado selado, o discurso que os eurocéticos chamavam de “project fear”, isto é, o Apocalipse que a saída da União Europeia traria, estaria morto. Não poderiam estar mais equivocados, após prever o caos e falharem miseravelmente, os trombeteiros do Armagedom apenas moveram um pouco mais para frente a instalação da anarquia. A economia britânica ainda vai colapsar, o desemprego vai subir, o Reino Unido vai virar um vassalo dos demais países europeus e um paraíso fiscal e o livre-comércio encontrará seu fim na terra da Rainha, não exatamente após estabelecida a saída, mas quando efetivamente a Ilha deixar o bloco (o que deve ocorrer necessariamente até o próximo dia 29 de março).

 

E nesse contexto, de uma liderança conservadora frágil, que luta não apenas pela simpatia do país e da oposição, mas do próprio partido, é urgente conhecermos – ou rememorarmos – quem é o líder da oposição, o trabalhista de extremíssima-esquerda Jeremy Corbyn.

O Partido Trabalhista, à maneira do Partido Democrata americano, também oscila entre lideranças de extrema-esquerda e outras, mais centro-esquerdistas, sendo o exemplo mais paradigmático e recente o ex-premiê Tony Blair (1997-2007), que topou envolver o Reino Unido na guerra do Iraque, juntamente com George Bush e a América. A significância disso é tão grande que, certa feita, Margaret Thatcher, ao ser perguntada qual era seu grande legado, respondeu “Tony Blair!”. Por isso, a ilustre conservadora e primeira mulher a ocupar a chefia de governo do Reino Unido quis dizer “um líder trabalhista moderadamente simpático às economias de mercado”, caracterização que se estende a todo o movimento “New Labour”, nova tendência moderada do Partido Trabalhista. Ou seja, esquerdistas e centro-esquerdistas que admitiram a existência da roda (i.e., só a economia de mercado funciona).

Por uns bons pares dos anos recentes, essa foi a tendência dominante do partido. Até as eleições de 2015, onde o líder do tradicional partido inglês era o já contestável Ed Milliband, alguém que começava a desenhar o retorno às tradições marxistas do partido, apunhalou o irmão para galgar a posição e perdeu sonoramente para o então reeleito David Cameron. Após sua derrota, muitos analistas descreveram Milliband como “esquerdista demais para o eleitor da Inglaterra”.

Ed Milliband, líder trabalhista de 2010 a 2015

Mas nada é tão ruim que não possa piorar. Com sua retumbante derrota (inesperada para o próprio Cameron) e subsequente renúncia, a liderança trabalhista ficou vaga e, para surpresa assustada de muitos, passou a ser ocupada por Jeremy Corbyn. Ninguém nunca havia dado muita bola para um lunático extremista e excêntrico como Corbyn. O radical proporcionou ao parlamento britânico um dos seus mais engraçados momentos, baseado justamente no seu desconhecimento. Ao descrever sua visita a Bruxelas para um encontro com lideranças de partidos socialistas, começou o relato com um “quando fui até lá, um deles disse a mim…”, ao que, interrompendo sua fala, um não-identificado parlamentar conservador emplacou um “… quem é você?”, ao que o parlamento reagiu com copiosas e longas gargalhadas (nem seus asseclas atrás de si conseguiram segurar o riso):

 

Mas fato é que Jeremy Corbyn é líder do partido que ocupa a oposição no momento mais decisivo da política britânica nas últimas décadas. E quem é, afinal de contas, o sujeito?

Corbyn (69 anos) é um radical. Um marxista da velha guarda, um trabalhista “raiz” muito distante do movimento centrista recebido com entusiasmo por Thatcher (mais parecido com os sindicalistas que colocaram a terra da Rainha em crises e mais crises e foram escorraçados por Thatcher). Associado com o que de pior pode haver na política britânica e mundial. Sob sua liderança, os casos de antissemitismo cresceram vertiginosamente e alguns parlamentares, céticos com relação a Corbyn, já desertaram do partido.

O receio dos parlamentares trabalhistas da ascensão do antissemitismo não se baseia apenas nas dezenas de ocorrências recentes, mas no histórico de sua liderança: Corbyn foi apresentador de TV de um canal estatal da República Islâmica do Irã e em entrevista recente não deu nenhum indicativo de se arrepender dos salários que recebeu de um órgão de imprensa responsável por dar publicidade positiva para a tortura de jornalistas e por alardear conspirações antissemitas. Corbyn também já deu sonoro apoio a boicotes a Israel. Não apenas não condena, como é entusiasta de grupos terroristas como o Hamas e o Hezbollah e ainda há poucas semanas o Partido Trabalhista, sob sua liderança, se negou a classificar o Hezbollah como terrorista, optando por não votar sobre o assunto. Atualmente, Corbyn tem por conselheiro Seumas Milne, que também celebra os grupos citados e foi reconhecidamente um agente russo-soviético.

É notório que Corbyn é a tipificação política perfeita de todos os discursos anti-Ocidentais que normalmente ouvimos dos acadêmicos de esquerda. Em 2016, no aniversário de quinze anos do 11 de setembro, deixou isso claro ao lamentar a morte dos envolvidos no ataque terrorista, mas também das guerras supostamente deflagradas em consequência do ocorrido. E não vê problema em alimentar sua postura anti-Ocidental com teorias da conspiração, visto que, para ele, tudo foi algum tipo de “manipulação” para culpar Osama Bin Laden (figura que ele lamentou a morte). Teoria da conspiração para professor de história fajuto nenhum sentir inveja. Um idiota útil para o radicalismo islâmico à beira de ser plantado num dos principais países do Ocidente, país de Winston Churchill, fundamental para a criação do Estado de Israel.

Corbyn também é entusiasta de Hugo Chavez, autor de um artigo hagiográfico sobre o assecla socialista intitulado “Obrigado, Hugo Chavez”. Não poderia faltar um depósito de esperança para o socialismo do século XXI com cheiro de União Soviética que Corbyn pretende instalar no Reino Unido, certo?

Muito se falou de 2016 para cá de conluio dos políticos soberanistas com a Rússia. Donald Trump e até mesmo Nigel Farage, além do próprio referendo pelo Brexit teria sofrido ingerência russa, o mais novo-velho refúgio da esquerda (“It was the russians!”). Mas pouco se falou na grande mídia do apoio de Corbyn à imperial política externa de Vladimir Putin, azeitada por seu intelectual orgânico Alexander Dugin, mais especificamente do direito russo de anexar a Crimeia a seu território. Corbyn culpou a “beligerância da OTAN” pela ação russa e já se negou a afirmar que ajudaria um aliado membro da OTAN em caso de guerra. O apoio corbynista à política externa putinista é corolário óbvio de suas convicções anti-ocidentais.

Corbyn afirmou que jamais usaria armamento nuclear, em qualquer circunstância, e defende a desnuclearização do Reino Unido e de todo o Ocidente. Não tenho notícias de Corbyn defender o mesmo para as nações islâmicas que adulou por toda a vida ou para a Coreia do Norte, país que o político nunca foi favorável às sanções impostas pelo Ocidente. Corbyn é surpreendentemente claro em admitir que em caso de ataque à Grã-Bretanha, em vez de responder a altura e defender seu país, muito provavelmente capitularia, dizem os especialistas.

O líder trabalhista não se mostrou aberto apenas a radicais do Hamas e do Hezbollah, inclusive disposto a recebê-los no parlamento britânico, mas também já se encontrou pessoalmente com líderes do grupo terrorista IRA (Irish Republican Army), ao passo que, nas últimas semanas, tem se recusado a se encontrar pessoalmente com a primeira-ministra Theresa May para discutir o destino do Brexit.

Além de Chavez, Corbyn esteve a poucos passos de encampar as hashtags #LulaLivre e #EleNao:

E last but not least, Corbyn é um orgulhoso, confesso e autoproclamado socialista que tem por programa econômico de governo a estatização de estradas, universidades e empresas privadas. Coisa de dar arrepios em boa parte dos partidos de esquerda do Commonwealth, e só olhar para os trabalhistas australianos, canadenses e os já citados membros do New Labour, que por mais progressistas que sejam em termos de moralidade, desistiram de negar que a única economia capaz de fazer o bolo crescer para poder dividi-lo com os pobres é a economia de mercado. Corbyn é uma réplica fidedigna de Bernie Sanders em termos econômicos, com a ressalva para o senador do armado estado de Vermont que ele não tem antecedentes colaboracionistas com terroristas. O corbynismo econômico está expresso no atual manifesto do Partido Trabalhista.

 

Corbyn e o Brexit

 

Pode parecer surpresa para alguns, mas o mesmo Corbyn que foi descrito acima é, historicamente, um eurocético. O anti-globalismo assumiu feições relevantes nos últimos anos nas trincheiras da direita soberanista (Trump, Orbán, Salvini, Farage etc.), mas é razoável render esse mérito, ainda que alcançado pelas razões erradas (o bloco seria um grupo capitalista conspiracionista que existe para prevenir o socialismo de ser implementado na Europa), à esquerda “raiz” representada por Corbyn: eles também são anti-globalistas, ainda que por caminhos tortos.

O atual líder trabalhista votou contra a entrada do Reino Unido na Comunidade Econômica Europeia em 1975 e, 40 anos depois, quando o referendo estava sendo batalhado pelo que seus fãs classificam como a “extrema-direita”, quase nenhuma oposição da parte de Corbyn foi vista, embora, em termos formais, Corbyn atualmente engrosse o coro da permanência do Reino Unido na União Europeia (ainda assim, o grupo dissidente do partido, deixou a legenda também pela alegada fraqueza de seu líder em se opor ao Brexit e não exigir um segundo referendo).

O Reino Unido se encontra numa situação inusitada e extremamente peculiar: o país decidiu sair da EU, mas seus parlamentares gostariam de ficar. Coube a uma remainer estabelecer os termos de saída, só que muitos alegam que os termos de saída de seu acordo são muito ruins e não representam uma verdadeira saída do bloco político. É desse contexto que surgem as expressões “good deal”, “bad deal” e “no deal”, um bom acordo, um acordo ruim e acordo nenhum, respectivamente. Brexiteers convictos aceitam um acordo, mas aderem ao lema de que um acordo ruim é pior que acordo nenhum e consideraram a última proposta de May um péssimo acordo, abrindo caminho para acordo nenhum. Contudo, sem apoio no parlamento não há acordo, e o partido Trabalhista inteiro, sob a batuta de Corbyn, também rechaçou o acordo de May, mas ao contrário dos eurocéticos à Boris Johnson e Jacob Rees-Mogg, não toleram uma saída sem acordo, o que, segundo eles, seria ruim para a economia e prejudicaria os mais pobres. E no centro desse nó górdio está o interesse partidário e politiqueiro de Corbyn e dos trabalhistas de uma nova eleição geral – o que só criaria mais caos, pois muito provavelmente qualquer novo governo precisará da oposição para aprovar algum acordo. Remainers empedernidos, tal como semeadores da discórdia, aproveitam a bagunça toda para levar adiante a narrativa da necessidade de um segundo referendo, jogando a sólida e antiga democracia britânica no ralo.

De janeiro até exatamente agora, o parlamento britânico tem se digladiado, como dito, a respeito do como será a saída do Reino Unido da União Europeia, acerca de quais serão os termos do acordo de saída. Corbyn e o Partido Trabalhista – não sem a presença da ala eurocética mais radical do Partido Conservador – votaram contra a primeira proposta da primeira-ministra Theresa May. Embora digam os trabalhistas em seu manifesto que se comprometem a respeitar o resultado do referendo de junho de 2016, Corbyn e trabalhistas, à luz de algumas pesquisas recentes, têm aproveitado o acordo ruim de May e a fraqueza de sua liderança para rechaçá-lo e tentar emplacar uma nova eleição geral. Nessas mesmas semanas que percorrem janeiro até agora, pesquisas mostraram uma pequena vantagem, variando entre 2 e 3%, de Corbyn numa disputa contra alguma liderança tory, apesar de, em semanas recentes, novas pesquisas terem apontado uma vitória da frágil e desgastada May sobre Corbyn com surpreendentes 6% de vantagem. O que mostra que talvez o eleitorado britânico esteja ciente de quem Jeremy Corbyn é.

Fato é que o governo conservador deve sair fragilizado das disputas acerca do Brexit (a primeira votação em parlamento sobre a primeira versão do acordo de saída de May sofreu a maior derrota da história do parlamento britânico, vale lembrar), o que coloca o próprio Brexit na iminência de ser, na melhor das hipóteses, adiado e assustadoramente aproxima Corbyn da chefia do governo. Embora a liderança de Corbyn titubeie entre os seus, é provável que ele negocie apoio a sua figura em troca da promessa de um segundo referendo – para agradar as alas centristas, o que mergulharia o Reino Unido em ainda mais polarização e incertezas políticas e econômicas, além do risco da terra da Rainha ter um radical tóxico e perigoso à sua frente como nunca viu antes.

Corbyn se nega a abaixar a cabeça durante discurso da Rainha

 

—————

Para entender como lidar com o novo vocabulário político, confiram nossa revista exclusiva para patronos através do Patreon ou Apoia.se.

Consiga uma vaga de emprego ou melhore seu cargo fazendo seu currículo no CVpraVC!

Adquira as camisetas e canecas do Senso Incomum na Vista Direita.

[amazon asin=8595070318&template=iframe image2][amazon asin=8595070288&template=iframe image2][amazon asin=8582864353&template=iframe image2][amazon asin=8567801184&template=iframe image2][amazon asin=8595070555&template=iframe image2][amazon asin=8595070547&template=iframe image2][amazon asin=8594090196&template=iframe image2][amazon asin=8595810486&template=iframe image2][amazon asin=8501112933&template=iframe image2][amazon asin=859507027X&template=iframe image2]
Assuntos:
Andre Assi Barreto

Professor de Filosofia e História das redes pública e privada de São Paulo. Aluno do professor Olavo de Carvalho. Mestre em Filosofia pela Universidade de São Paulo. Também trabalha com revisão, tradução e palestras. Autor de "Saul Alinsky e a Anatomia do Mal" (ed. Armada, 2019)

  • 1
plugins premium WordPress