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Bolsonaro Day

Bolsonaro acerta em cheio com postura diante das manifestações

Presidente transformou uma situação do tipo perde-perde em um modelo ganha-ganha com sua postura perante manifestação pela divisão entre poderes

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Bolsonaro, o presidente, tinha uma batata quente absurdamente explosiva em suas mãos.

Movimentos de rua, responsáveis pelo repentino desarmamento do establishment no Brasil desde 2013, conclamaram por uma nova manifestação de apoio ao presidente e contra as tentativas reiteradas, obsessivas e desesperadas do establishment e do centrão de diminuírem o poder do Executivo e criarem um “parlamentarismo branco” (proposta confessada pelo novato no establishment, o inexperiente e bocudo Kim Kataguiri).

As manifestações foram convocadas antes do surto do COVID-19, o coronavírus, que está causando gigantesco rebuliço mundial – hoje mesmo, o presidente Donald Trump fez uma conferência alertando de que o surto do corona não está controlado, que a situação pode se prolongar até julho ou agosto, e que, por ora, não pretende decretar um lockdown nacional (cancelamento de todos os vôos), “apenas para algumas áreas”.

Para piorar, membros da comitiva de Bolsonaro que tinham acabado de visitar Trump fizeram exame e confirmavam que estavam com coronavírus, como a advogada Karina Kufa e o chefe da Secretaria de Comunicação, Fábio Wejngarten. Até mesmo o prefeito de Miami se impôs quarentena voluntária por ter travado contato com a comitiva brasileira.

O próprio presidente Bolsonaro e o assessor especial para assuntos internacionais, Filipe Martins, fizeram teste para coronavírus, por desconfiarem que podiam ter se contaminado. Ambos os exames deram negativo.

Mas Bolsonaro tinha um problema muito sério a resolver ainda: a possibilidade de um surto no Brasil, ainda não descartada, e logo após uma manifestação de apoio.

Jornalistas, sobretudo o conhecido grupo de jornalistas ligados a figuras políticas do centrão e do establishment, sobretudo Maia e Doria, estavam ávidos para inculpar Bolsonaro pelas manifestações.

Alguns chegaram ao desplante (bastante engraçado, admita-se) de citar um cartaz que dizia que a manifestação não era contra o Congresso e afirmar que o Bolsonaro estava apoiando uma manifestação… contra o Congresso (logo, é um ditador nazista e precisa sofrer impeachment).

O cenário estava montado para uma situação do tipo perde-perde: se as manifestações tivessem pouco público, os mesmos jornalistas de sempre diriam que Bolsonaro não tinha apoio, e que todo o poder deveria ser dado explicitamente a Maia, Alcolumbre e ao establishment do centrão que sempre mandou no Legislativo (PMDB, PSDB, DEM e afins).

Se a manifestação fosse um sucesso, Bolsonaro seria culpado por ser o nome apoiado por uma manifestação no meio de um surto internacional de corona – logo, cada caso individual de coronavírus no Brasil, fosse em São Paulo ou no interior do Acre, seria culpa do presidente nazista, que “incentivou” o povo a ir para a rua ao não proibir o povo de ir para a rua. (Pode parecer piada, mas gente problemática chegou a falar a sério, com esgares de desespero, que Bolsonaro precisava mesmo PROIBIR as pessoas de irem às ruas fazer um protesto, em nome da democracia – logo, pela “lógica” genial da isentosfera, para ser democrático, Bolsonaro precisava proibir protestos, poder que o presidente não possui; caso “permitisse”, seria anti-democrático. Nunca saberemos como é ter inimigos inteligentes.)

Bolsonaro fez o mais correto no caso: como líder carismático (segundo a classificação de Max Weber), disse explicitamente, ao lado do ministro da Saúde, que as manifestações precisavam ser repensadas, devido ao surto de coronavírus. Entretanto, limitado pelas próprias atribuições, foi um conselho de um líder e presidente – não a imposição da lei marcial, ainda mais proibindo protestos (o que é, sem meias palavras, ditadura).

O povo reagiu afirmando que iria mesmo assim, com o movimento #DesculpaJairMasDia15EuVou. Ou seja: o presidente cumpriu seu papel de alertar, e não estimular (ainda mais em um dia em que ele próprio desconfiava estar com o coronavírus).

E o povo, livre para escolher o que preferia fazer, mesmo assim, lotou grandes capitais: São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Belém, Recife e tantas outras.

Algumas cidades fizeram carreatas, como Brasília. Outras preferiram lotar avenidas, como São Paulo. Doria, governador Paulista, ameaçou proibir um caminhão na Paulista com multa de R$ 5 mil. Witzel tentou proibir a manifestação no Rio, tal como outros prefeitos em outras cidades. Resultado: a própria população já estava fazendo vaquinha para pagar a multa no mesmo dia.

Jornalistas, que já estavam comemorando a suposta vitória (e o “motivo para impeachment” mais engraçado já aventado pelo jornalismo mais engraçado do mundo: um presidente NÃO proibir uma manifestação que tinha como pauta… o respeito à Constituição e à separação entre poderes) tiveram de se lamentar com poucas migalhas: dizer que era o #coronaday. E afirmar que o presidente estava bancando o nazista de novo por… cumprimentar apoiadores, contra recomendações médicas.

Sim, o motivo para impeachment agora é que Bolsonaro deu apertos de mão, ao invés do típico joinha seguido de “deixa que eu toco sozinho kkkk”.
Bolsonaro e o povo brasileiro ganharam.

Os jornalistas, a isentosfera, o centrão e a lacrolândia, mais uma vez, viraram motivos de piada.


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Assuntos:
Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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