Lockdown na Índia é questão de vida ou morte para 450 milhões de trabalhadores informais
Setor responde por 90% da força de trabalho e metade do PIB do pais. Trabalhadores estão há semanas sem pagamento e comida
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O portal South China Morning Post publicou na terça-feira da semana passada, 24, um artigo de Adnan Bhat sobre a situação de “vida ou morte” dos trabalhadores informais da Índia neste período de quarentena em todo país.
Para tentar proteger o povo indiano do coronavírus, o primeiro ministro Narendra Modi impôs medidas de isolamento em mais de 80 cidades indianas. Quem desobedecer pode pegar até 6 meses de prisão.
450 milhões de informais que dependem do trabalho diário para sobreviver, estão há semanas sem rendimento e comida.
Esses milhares de pessoas que trabalham informalmente – de vendedores ambulantes a trabalhadores temporários – não têm as opções de home-office ou isolamento. O colunista Bhat contou a história do taxista Pappu Yadav, de Nova Déli, que ganhava cerca de 1000 rupias (em torno de R$ 70) por dia. Com a quarentena, não recebe passageiros e há dias está sem remdimento:
“Envio dinheiro para minha esposa e filhos toda semana. Na semana passada, enviei menos do que o habitual. Nesta semana, pedi a um dos nossos vizinhos dinheiro emprestado. Não sei mais o que fazer “, disse Yadav.
Ajmal Khan, de 54 anos, que trabalha na construção civil na cidade de Uttar Pradesh, norte da Índia, recebeu um aviso para não ir mais ao trabalho e sair do canteiro de obras onde morava:
“Um amigo da minha aldeia que está hospedado em Noida me deu espaço por enquanto. Mas não posso morar aqui por muito tempo. Já existem cinco pessoas morando aqui e não tenho dinheiro para o básico”, disse a trabalhadora a Bhat.
A empregada doméstica Jyoti, da cidade de Déli, ganhava cerca de 7,5 mil rupias (aproximadamente R$ 500) por mês, antes da quarentena. Jyoti mora de aluguel em um pequeno apartamento de dois quartos o qual divide com outra família, nos subúrbios da região:
“Entendemos que o governo está fazendo isso para nosso próprio bem. Eu não quero ficar doente. Mas o governo deveria ter feito alguns arranjos antes de fazer tal anúncio. Ou pelo menos dar-nos tempo para nos prepararmos.”
Bhat enfatiza que o subúrbio que Jyoti mora tem mais de 500 famílias aglomeradas e que seria impossível fazer um isolamento eficiente nessas favelas.
Para tentar amenizar a situação, o ministro-chefe de Déli, Arvind Kejriwal, anunciou medidas para aliviar os problemas financeiros da população mais pobre e trabalhadores informais: “5.000 rúpias (em torno de R$ 300) de pensão a serem pagas a 850.000 beneficiários até 7 de abril e rações para quem tem direito a subsídios alimentares”.
Adnan Bhat alerta, no entanto, que essas são medidas imediatistas, que não protegem a população a longo prazo.
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