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Bolacha com recheio

Rodrigo Maia e a política de negação da realidade

Ídolo da isentolândia café matinal inventa números, se faz de vítima, diz que a sociedade tinha medo das redes, acusa robô, Olavo de Carvalho, os empresários e o presidente. Tudo em nome da prudência & sofisticação

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Circula por aí um trecho da entrevista do nosso Primeiro-Ministro imaginário, o sr. Rodrigo Maia. É um pedacinho antológico, eu diria. Chesterton diz que “as coisas modernas são feias porque os homens modernos são descuidados, e não porque são cuidadosos”. Esse é o caso do sr. Rodrigo Maia: descuida de si e do país com a mesma tenacidade.

Maia diz que há um gabinete do ódio financiado por empresários e com apoio do presidente para instaurar o medo nas redes sociais; que viviam atacando o Congresso, as instituições e, claro, ele mesmo, um mero servo da divindade estatal. Disse também que isso tinha afastado 60% “da sociedade”, mas que agora, com a epidemia de coronavírus, as pessoas voltaram para as redes em busca de informações e descobriram o excelente trabalho que ele, o incansável artesão das leis e estimado protetor da moral e dos bons costumes, e seus comparsas, digo, seus colegas de parlamento têm feito em prol do país.

Eis o resumo desse trecho da entrevista do nobre deputado. Pode-se afirmar, com relativa certeza, que por trás de tanta adiposidade nas bochechinhas rosadas e no papo, o sr. Rodrigo Maia tem uma bela cara de pau.

Não sei quem estimula esse tipo de idéia na cabeça de vento do nosso glutão oficial, mas é evidente que na realidade nua e crua ela não encontra nenhuma corroboração. Ao ouvi-lo, tem-se a impressão que o Brasil (acho que ele fala do Brasil) era um próspero território até que Bolsonaro assumiu o poder, numa tramoia arquitetada por senhoras sexagenárias de andador e celulares, e as redes sociais eram o paraíso idílico de quem andava muito satisfeito com a condução política do país.

Bastou Bolsonaro tomar posse para implantar o reino de trevas e obscurantismo que é, em linhas gerais, não molhar a mão de todo mundo em nome de uma fachada de progresso. O país do sr. Rodrigo Maia em nada se parece com aquele Brasil profundo, mergulhado em corrupção, juros altos, desemprego, criminalidade lá no pico, impunidade, loteamento das instituições, tudo com a conivência ativa do jornalismo profissional.

Um diagnóstico mais próximo da realidade é que a substância da peleja política foi escancarada graças às redes sociais e a perda do monopólio da informação dos grandes conglomerados de mídia, os mesmos que, agora, mais do que nunca, dependem da boa imagem de tipos como um Gilmar Mendes, um David Alcolumbre, um Alexandre Frota e o próprio Rodrigo Maia. Que tarefa, meus amigos!

O coronavírus veio dar uma sobrevida a essa cadeia de poder que já estava com seus dias contados. Maia e toda a malta se assanharam novamente. O medo é um forte aliado da tirania. Os veículos de mídia e seus jornalistas profissionais passam o dia todo elogiando-se uns aos outros enquanto tentam jogar no colo do presidente qualquer morte que ocorra no nosso território.

Um suposto jornalista, Felipe Moura Brasil, uma espécie de Tonho da Lua do jornalismo, chegou a citar nomes de vítimas em seu Twitter para alfinetar o presidente. Nunca se fez um uso tão mesquinho e abominável da memória de pessoas inocentes.

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O novo jornalismo parece tão comprometido com a destruição do país quanto o antigo.

E agora, como não entendem mais o funcionamento do jogo do qual passaram anos ditando as regras, usam os artifícios psicológicos para se auto-enganar. Inventam robôs, empresários do mal, gabinetes do ódio, tudo para não terem de encarar o fato de que não possuem mais nenhum engajamento e nenhuma credibilidade.

O mesmo Chesterton, na mesma crônica, diz que “talvez um homem não se espante com o primeiro gato que vê, mas pule de surpresa com o septuagésimo nono. Talvez tenha que passar por milhares de pinheiros antes de encontrar aquele que é realmente um pinheiro”.

Nossa política calhou de fazer esse pensamento muito verdadeiro. Passamos por milhares de corruptos, de gatunos, oportunistas, aproveitadores, rampeiros, impostores, embusteiros, mas pulamos de surpresa mesmo com os atuais. Jornalistas profissionais e praticantes da velha política terão de se acostumar com o ostracismo e a vergonha. 

E o sr. Rodrigo Maia, investigado por corrupção passiva, falsidade ideológica eleitoral e lavagem de dinheiro, terá que se esforçar mais para tentar vender a imagem de um homem austero, preocupado com o povo. Talvez só lhe reste o slogan de campanha de outro velho político: peroba nele!


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Assuntos:
Carlos de Freitas

Carlos de Freitas é o pseudônimo de Carlos de Freitas, redator e escritor (embora nunca tenha publicado uma oração coordenada assindética conclusiva). Diretor do núcleo de projetos culturais da Panela Produtora e editor do Senso Incomum. Cutuca as pessoas pelas costas e depois finge que não foi ele. Contraiu malária numa viagem que fez aos Alpes Suiços. Não fuma. Twitter: @CFreitasR

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