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Matar de rir

Considerações sobre a polêmica entre Marcelo Tas e os fãs do humorismo das ditaduras sanguinárias

Fazer uma piada em Cuba é fácil. Difícil é fazer duas

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Marcelo-Tas

Uma polêmica abalou o Twitter ontem, dia 18 de agosto do ano de 2020. Polêmica daquelas que só quem não tem absolutamente mais nada de útil pra fazer (como este que vos escreve) pode dedicar mais que uns quinze minutos. A contenda girou em torno de uma afirmação do jornalista Marcelo Tas de que em Cuba não há humoristas.

Isso irritou profundamente a turba defensora de regimes genocidas, fazendo com que esperneassem o dia todo e, ao que parece, estão resmungando até agora. Teve de tudo: revista de extrema-esquerda puxando depoimentos de desafetos de Tas; lista oficial de humoristas cubanos (todos in memorian, mas ok); selos estatais de comprovação de Piada Contra o Regime, com carimbo das autoridades cubanas e tudo; militância xingando o general Fulgencio Batista; militância culpando o imperialismo ianque. 

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Basta chafurdar um pouco na esgotosfera e é capaz de achar algum craque do raciocínio lógico afirmando que a piada com os pontinhos amarelos é uma conspiração entre a Elma Chips e o Donald Trump para desviar a atenção contra o aquecimento global.

Verdevaldo chegou a afirmar, irritado: O que é Marcelo Tas?? O que ele faz? No que ele é bom?? Ninguem sabe”. As qualidades de Glenn todos conhecem. Tem a ver com… Mesmo aqui é bom tomar cuidados com certas piadas que podem te deixar em maus lençóis.

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Outro blog de extremíssima esquerda ressentida, o DCM, reverberou uma piada-resposta inteligentíssima de Greg Duduvier: “Oi, quando foi que você faleceu?” É o ápice da ironia fina e daquilo que Don Paco de Avilã costuma chamar em suas Crônicas de Sandoha de “sarcasmo fudido”. Viva la revolución em los balcones gourmets!

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É prudente lembrar que a afirmação de Tas foi feita, parafraseando Greg Duvi, no falecido programa Roda Viva (viva?), que virou uma espécie de Cassino do Chacrinha, mas sem a complexidade intelectual e o refinamento na parte estética.

Com relação a polêmica em si: existe humorista vivo em Cuba ou não? Podemos tecer algumas ponderações.

Na apresentação do livro Foi-se o Martelo, o autor, Ben Lewis, explica que deixou de fora as piadas cubanas porque em sua maioria não foram feitas por cubanos vivendo em Cuba. Por aí já temos uma noção da grande produção cubana de piadas tipo exportação. 

O risco e a burocracia para que uma piada possa sair de Havana é tanta que os cubanos preferem dedicar-se a outras tarefas menos onerosas, como atravessar o atlântico num pneu de calhambeque, por exemplo.

O conflito que o humorista cubano trava dentro de si, com seu estômago sempre vazio, também prejudica a concepção virtuosa da piada. Há sempre a pergunta que martela: elaboro melhor aquele insight sobre Che, Fidel e um papagaio entrando num prédio abandonado ou faço meu táxi Buick pegar no tranco? Um paredão vale aqueles dois segundos da piada que fiz sobre as noites de  Fidel em seu cassino particular dançando rumba de saiote? São dúvidas existenciais da mais alta conta.

Mas eu invejo o humor cubano. Lá, pelo menos, ele tem um motivo para não existir. 

 


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Assuntos:
Carlos de Freitas

Carlos de Freitas é o pseudônimo de Carlos de Freitas, redator e escritor (embora nunca tenha publicado uma oração coordenada assindética conclusiva). Diretor do núcleo de projetos culturais da Panela Produtora e editor do Senso Incomum. Cutuca as pessoas pelas costas e depois finge que não foi ele. Contraiu malária numa viagem que fez aos Alpes Suiços. Não fuma. Twitter: @CFreitasR

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