Chico Buarque dá comida aos censores
Chico Buarque decidir não mais cantar música 'machista' feita para Nara Leão é apenas censura identitária e autofágica, comenta nosso maestro Tom Martins
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A autofagia do coletivismo identitário reivindicatório é um fenômeno curioso. Assisto a este triste espetáculo como um observador de bonobos.
O medo do cancelamento cria uma autocensura poderosíssima que, não satisfeita em minar a criatividade presente e futura, corrompe a História e apaga as obras do passado.
Não há mais nuances, apenas a adesão integral à agenda militante. A idéia é criar um ambiente tão hostil de denúncias, perseguições e banimentos que, para evitar tal martírio, as pessoas prefiram entregar suas próprias obras ao sacrifício perante o altar das minorias.
A autocensura é o pior tipo de censura que existe, pois é a censura que surge antes mesmo do nascer da idéia, uma censura geralmente clamada e ansiada pelas próprias vítimas.
Em relação ao presente caso, abrir mão dos direitos autorais seria muito mais efetivo, mas isso Chico não cogitou. Talvez tenha esquecido.
E ainda botou a culpa na Nara Leão: “Só escrevi essa música porque ela pediu.”
Além do mais, ele poderia parar de “cantar” e abrir mão dos royalties de mais canções machistas/fascistas/racistas/opressoras, tais como: Geni e o Zepelin (Joga pedra na Geni/Joga bosta na Geni/Ela é feita pra apanhar/Ela é boa de cuspir/Ela dá pra qualquer um/Maldita Geni!), Deixa a Menina (Deixa a menina sambar em paz) e, principalmente, Mulheres de Atenas:
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de AtenasVivem pros seus maridos
Orgulho e raça de AtenasQuando amadas, se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenasQuando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem imploram
Mais duras penas; cadenas
Um pedido público de desculpas por ser homem viria bem a calhar.
Atenção, Freddie! Você pode ser o próximo, com o seu hino gordofóbico “Fat Bottomed Girls”! Vamos cancelar Raul com seu lesbofóbico “Rock das Aranhas”! Noel Rosa? Cancela tudo! E Caetano que se cuide quando diz que “os americanos representam grande parte da alegria deste mundo”. Paga-pau dos porcos estadunidenses, com toda certeza!
Espumando de ódio, transformemo-nos no exército do pensamento único, obediente, contra esse perigosíssimo celeiro da liberdade chamado “Arte”!
Ilustração: Autocensura - El Roto
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