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E se Danilo Gentili tivesse dito que Maria do Rosário tem o grelo duro?

O humorista foi condenado a 6 meses no semi-aberto por uma piada mostrando a falta de lógica nos processos da deputada. E se tivesse usado a expressão de Lula, a do grelo duro?

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Cynara Menezes: Team Grelo Duro

Em escuta vazada à mídia, Lula, o ex-presidente e atual presidiário, articula para tentar prejudicar a imagem da dra. Janaína Paschoal, que iria para a defesa oral do impeachment de sua Ersatz, Dilma Rousseff. Tentando minar sua imagem feminina, quando advogou para o procurador Douglas Kirchner, acusado de assistir e participar de castigos físicos perpetrados por sua mãe em um culto evangélico, Lula conclama: “Cadê as mulher (sic) de grelo duro lá do nosso partido?”

“Grelo” é uma gíria para clítoris. Falar que um sujeito é “de pau duro” indica dizer que é um tarado, sem margem para interpretação. Apesar de todo homem ter ereções, quando se marca alguém atentando para esta característica de maneira habitual, refere-se necessariamente à facilidade com que o cidadão se excita.

Uma mulher de grelo – ou clítoris – duro é uma mulher com a mesma sexualidade “fácil” de um tarado. A expressão não é registrada – foi um grande arroubo linguístico de Lula –, mas seu significado tampouco pode ser passível de alguma margem de manobra. Mulher de grelo duro e mulher que dá fácil, afinal, não parecem, de forma alguma, expressões distantes. Para não usar outros termos.

Lula, ainda por cima, ao fazer referência ao grelo duro das mulheres do seu partido, exigindo que fizessem alguma coisa por ele (e contra uma mulher), deixa claro que são subalternas e obedientes ao 01 do PT por razões sexuais e de fácil excitação. Diga-se, aliás, que é apenas uma forma ainda mais explícita do que os termos comuns da língua com os quais o vulgo se refere a mulheres quando as tratam como meros corpos que devem obedecer. Não é exatamente algo difícil de entender – e se não foi aceito, foi simplesmente para proteger Lula de ter uma imagem, digamos, pouco airosa para as mulheres, sobretudo feministas.

Como é comum quando ações, digamos, “pouco feministas” ocorrem com personalidades de esquerda, num repente, todas as feministas correram para dizer que, na verdade, a expressão é ótima, sensacional, que se sentiram muito representadas, que até mesmo era “expressão de poder feminino” (sic). “Eu achei a expressão divertidíssima”, disse uma fundadora de portal de “empoderamento feminino”, achando o máximo que a vagina finalmente tenha tido uma conotação positiva (positiva!).

Tente se referir a uma feminista falando que ela tem o grelo duro pra ver o que te acontece, parceiro.

Literalmente da noite pro dia, a internet foi inundada por referências positivas da expressão. Artigos e mais artigos de blogs feministas tratavam o tema como algo bom, belo e moral. Espalhou-se pelos recônditos desvãos das redes sociais que “grelo duro” é uma expressão comum no Nordeste para dizer que uma mulher é forte, impávida e colossa, quase como se fosse a expressão que os filhos usam ao discursar no enterro da própria mãe. Pesquisadores especialistas nos dialetos do Nordeste foram unânimes em afiançar nunca terem ouvido tal expressão.

Cynara Menezes, a auto-intitulada “socialista morena”, que já foi da Veja, desceu para a Carta Capital e, após uma revolta contra o patrão esquerdista, desceu para a Caros Amigos, e sabe-se lá o que faz hoje, saiu às ruas numa das micaretas para defender que Lula deve ficar solto, mesmo recebendo propinas milionárias, tirou fotos com um cartaz afirmando ser do #TeamGreloDuro. É forçoso concluir, então, que Cynara Menezes acha um elogio tratá-la com referências à excitabilidade do seu clítoris.

Aparentemente, Lula se referia às feministas do PT. Em entrevista à Playboy em 1979, Lula já afirmou que não há condições para uma dona de casa, como sua mulher, ser feminista. No mesmo ano, ao jornal O Lampião da Esquina, perguntado sobre feminismo, disse que é “coisa de quem não tem o que fazer”.

Uma das mulheres do PT que fala em feminismo é Maria do Rosário. Maria do Rosário processou Danilo Gentili por uma piada. Danilo Gentili falava justamente da bizarrice que é a deputada processar Jair Bolsonaro por ele afirmar que ela não merece ser estuprada. Maria do Rosário processou Gentili, conseguindo que o humorista fosse condenado a 6 meses e 28 dias no semi-aberto (Maria do Rosário acha que Lula deve ser solto).

Uma pergunta fica: e se ao invés de comentar a estupenda falta de lógica da deputada, Danilo Gentili tivesse simplesmente dito que Maria do Rosário tem o grelo duro?

Como fica?

É público e notório a qualquer um que acompanhe o movimento feminista (deveríamos dizer mais corretamente, a seita feminista, como analisamos em nossa revista para patronos) que todo o seu vocabulário, todos os seus conceitos, toda a sua ritualística e seu sentimento de pertencimento são direcionados a adversários políticos e ideológicos – em termos mais simples, a alguém de quem não gostam. Uma pessoa de quem gostam tem seu “machismo” muito mais tolerado. Já um inimigo, sempre tem sua linguagem figurada lida como literal, suas piadas, como ameaças, seu desabafo exagerado em momento de descontração como a maior manifestação de um profundo preconceito enraizado e aprendido em anos de pesquisa de sites neonazistas.

Se Danilo Gentili tivesse feito alguma referência ao clítoris de Maria do Rosário como facilmente excitável, mas usando o mesmo termo chulo que o próprio Lula usou, como ficaria a situação para a deputada? Afinal, reclamar do termo como machista, ofensivo, digno de processo etc revelaria o velho truque feminista: proibir a linguagem mais normal do mundo aos inimigos, ao mesmo passo em que permite as ofensas mais chulas e invasivas, que denigrem mulheres (inclusive aliadas), simplesmente por gostarem do sujeito ofensor.

Se Jair Bolsonaro não pode dizer que Maria do Rosário não merece ser estuprada, e Danilo Gentili não pode reclamar do descoco que é processar alguém por isso, e se feministas e petistas têm orgulho de dizer que são do “Team Grelo Duro”, como ficaria se o humorista usasse o mesmo termo, sobre clítoris facilmente excitável, para Maria do Rosário?

Seria machismo insuportável passível de processo em nome da ordem e bons costumes (oh, ironia!), ou um sinal de empoderamento feminista que merecia até um elogio da parte da deputada a Gentili?

É muito fácil entender por que a esquerda atrai cada vez menos.

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Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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