Não é o dólar que está alto, o real é que está baixo
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Pela primeira vez na história da moeda, o real chegou a valer apenas 25 centavos de dólar nos últimos meses. Após ultrapassar a marca de R$ 4, o recente zumzumzum sobre a demissão de Joaquim Levy fez a moeda americana abrir esta semana custando R$ 3,90.
Poucos economistas conseguem explicar o complexíssimo funcionamento de um Banco Central. A um só tempo, fenômenos como a inflação e a desvalorização cambial são tratados como misteriosas forças da natureza como os raios e terremotos – eventos incontroláveis, sobre os quais os políticos e o Banco Central só podem agir a posteriori.
Conseguiríamos um entendimento econômico muito maior até mesmo entre a população não instruída observando tais eventos em consonância. É a nossa série #EconomiaForDummies.
Um Banco Central, já aprendemos com Ludwig von Mises, é uma entidade estatal com o monopólio da emissão de moeda para um determinado território.
Sua atuação, sendo um monopólio, não é dependente de mecanismos de métrica de moeda tão rígidos: pode emitir moeda conforme os desejos de políticos, ao contrário de mecanismos privados que, antes dos Bancos Centrais, deveriam seguir parâmetros específicos, como o padrão-ouro, em que cada moeda emitida precisa corresponder a um montante de riqueza equivalente ao seu preço em ouro (o ouro, raro, desejável por si e de valor imutável mesmo dividido, é um bem perfeito para ser usado como medida de troca).
Um Banco Central, portanto, pode emitir mais moeda do que a riqueza produzida em um determinado país. É isto que é a chamada “inflação”: com mais notas em circulação do que riqueza (bens desejáveis) em circulação, cada nota passa a valer menos. O que antes se comprava com uma nota de R$ 1, correspondente a um determinado montante de riqueza, agora exige R$ 1,50, e daqui a pouco R$ 5. O trabalhador trabalha o mesmo, mas tem menos poder de compra no fim do mês. É a chamada “moeda elástica”, que financia a política da social-democracia.
Todavia, para um governante, esta desvantagem para o trabalhador (pagar a inflação) tem uma vantagem: com notas impressas, o governo pode pagar temporariamente suas dívidas, mesmo que tenha governado mal e aumentado gastos abusivos com o Estado, a burocracia ou a má gestão e aparelhamento de empresas estatais. Na verdade, quem vai realmente pagar estes maus gastos é o povo.
A inflação, portanto, não é um evento de forças incontroláveis, um fenômeno natural e de causa misteriosa contra a qual os políticos tentam no escuro remediar, como uma enchente ou a erupção de um vulcão. É, muito pelo contrário, um fenômeno com causa, e a causa são os próprios políticos.
Cada vez que um trabalhador paga R$ 1,01 pelo que antes pagava R$ 1,00, ele está pagando os gastos e a malversação pública. Enquanto o político tem sua vida rica, o trabalhador trabalha sem manter para si a propriedade do fruto do seu trabalho. E, para tais gastos, um político controlando o Executivo (em caso de Bancos Centrais atrelados ao governo) nem precisa do apoio do Congresso e nem de aumentar impostos. A espoliação do povo vem a conta-gotas, sem que ele entenda quem é o culpado.
A Europa, seguindo o padrão-ouro, foi praticamente livre de inflação por muitos séculos. A ascensão dos Bancos Centrais no século XX e o fim do padrão-ouro criaram, em poucos anos, eventos como a hiperinflação alemã e, efeito gêmeo, as máquinas de guerra estatais. O século dos Bancos Centrais foi o século da guerra tecnológica, em que o Estado, através da impressão de dinheiro (da inflação), pôde manter seus cofres cheios para financiar guerras cada vez mais mortíferas.
Toda a complexíssima atividade de um Banco Central, portanto, tem sempre como base o resultado da impressão de dinheiro e da atuação monopolítica sobre eventos econômicos, como a taxa de juros. O que o Banco Central tenta explicar com suas esdrúxulas tabelas é a relação entre impressão de dinheiro e taxa de juros no desemprego ou no pagamento da dívida, por exemplo.
Isto também se reflete no câmbio, ou seja, na diferença entre o valor de duas moedas. Ora, se está mais difícil comprar dólar, é porque políticos no Brasil, onde o Banco Central está atreladíssimo ao Poder Executivo federal, gastaram muito e gastaram ainda mais nos últimos 13 anos – e, para pagar a conta, imprimiram dinheiro, enquanto o Federal Reserve americano imprimiu menos.
A conta quem paga somos nós, para que os partidos aliados do poder Executivo, sobretudo o PT, que controla tudo, possam ter mais gastos que lhe rendam votos e poder, como “programas sociais” cada vez mais malbaratados. O próprio Lula, afinal, foi quem afiançou que as “pedaladas fiscais” de Dilma Rousseff para esconder os gastos do orçamento foram feitas para gastar com programas como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida. E, como analisamos aqui, ele está certo. É a eterna sina de políticos: é possível “dar” ao povo quanto dinheiro se queira, mas por pouco tempo. A conta sempre chega – e a crise econômica de 2015 não tem outra causa que não o PT.
O modelo econômico em que “o mercado” (ou seja, todos nós) é o vilão e o Estado é o gestor eficiente, bondoso e caridoso (mas, estranhamente, em que os políticos são vistos como os ingerentes que são, como avaliou Bruno Garschagen em seu imprescindível livro Pare de Acreditar no Governo: Por Que os Brasileiros Não Confiam nos Políticos e Amam o Estado) pode render algumas migalhas temporárias ao povo enquanto os políticos ficam com a maior parte do pão – mas depois o mesmo povo paga a conta dos políticos através das crises.
A inflação, que incide mais sobre os pobres, é tratada como evento da natureza, e não como obra da ação humana de políticos. Já o dólar alto é desculpado pelo discurso da luta de classes: seria uma punição aos ricos, que não mais poderiam ir para Miami. Além de não mostrar qual é a “justiça” em prejudicar alguém e o que se há a comemorar em deixar as pessoas mais pobres (e esconder que isso deixa os cofres geridos por políticos mais ricos), tampouco se explica no que isto ajudaria os pobres, além de lhes dar um discurso que defenda políticos malgastadores através da ignorância.
Na verdade, os pobres são os que mais sofrem com o dólar alto: além de não poderem melhorar de vida o suficiente para um padrão mais digno, em que possam viajar ao exterior, desfrutarem de um intercâmbio com o mundo ou mesmo comprar produtos importados, a alta do dólar se reflete até no preço do pãozinho francês. O site Spotniks fez um rápido guia para entender o que muda em nossa vida com o dólar a R$ 4.
Não é, portanto, o dólar que está alto, como se fosse uma ação sem agente, uma força da Natureza ou um evento político puramente americano. É, pelo contrário, o real que está sob ataque de políticos. E a conta, naturalmente, será paga pelo trabalhador brasileiro. Cada centavo a mais no preço do dólar é um centavo a mais que fica nos cofres geridos tão somente por políticos.
Os políticos de um partido tão centralizador controlam também, claro, a educação, que tantos impropérios destilou sobre os liberais. Mas uma simples análise como esta mostra que, ao contrário de ricos elitistas desinteressados nos problemas do povo, os liberais costumam ser o exato oposto: pobres que perceberam como os políticos são ruins como nossas mais pessimistas desconfianças, e que políticos de partidos “sociais” lucram muito mantendo os pobres pobres. Está na hora de ao menos conhecer o que liberais pensam. Eles podem ter verdades que ainda são escorraçadas pela nossa educação militante.
Afinal, o que liberais mais querem é um poder dividido pela sociedade, e não concentrado em políticos e burocratas. E além do poder, o dinheiro nas mãos privadas do povo, e não geridos pelos propinodutos de políticos e burocratas.
Fiquem antenados que logo virá mais de nossa série #EconomiaForDummies.
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