Estadão Verifica mente, segundo Estadão Verifica
Ministros da Verdade Universal afirmam que presidente mentiu sobre BNDES. Estadão Verifica desmente próprio desmentido de algo que presidente nem sequer falou
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Em discurso proferido na abertura da Assembleia Geral da ONU, nesta terça-feira (21), o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o BNDES financiou “obras em países comunistas” e “quem honrava estes compromissos era o próprio povo brasileiro.”
Segundo o Estadão Verifica, a alegação “é falsa porque todos os contratos tiveram garantias e as inadimplências não foram cobertas por impostos dos contribuintes.”
A afirmação do Estadão Verifica é falsa porque Bolsonaro não disse, em nenhum momento, que os empréstimos não tinham garantias. O presidente afirmou que o BNDES emprestou dinheiro para obras em países comunistas – o que é um fato, já que um dos países beneficiados foi Cuba, por exemplo.
O Estadão Verifica também mente quando diz que “todos os contratos tiveram garantias” pois, segundo o próprio Estadão Verifica, o BNDES disse que o projeto do Porto de Mariel, em Cuba, “incorreu em 100% do risco soberano de um país, não sendo exigidas garantias de terceiros.”
Todos os contratos tiveram ou não tiveram garantias, Estadão Verifica?
Os detentores da verdade-verdadeira-universal também enganam seus leitores ao dizer que os calotes não foram pagos com impostos do contribuinte.
A explicação, segundo os curadores da pós-verdade, é a de que o calote que o BNDES levou de Cuba, Moçambique e Venezuela foi pago pelo Fundo de Garantia à Exportação (FGE).
Diz a agência de censura: “o FGV é composto por prêmios pagos por empresas exportadoras que contratam o seguro, e não por impostos pagos pela população.”
Trata-se de uma meia-verdade, pois o fundo foi criado em 1999 com ações de empresas estatais – Banco do Brasil e Telebrás – portanto, com dinheiro do contribuinte. Mas como este detalhe não muda o fato de que atualmente o saldo do fundo é, em sua maioria, composto pelos prêmios pagos pelas empresas, aceitemos como verdadeira a afirmação dos checadores.
Só que esta constatação ignora a realidade: o BNDES é um banco de fomento que usa o Tesouro Nacional para emprestar dinheiro a juros subsidiados. Essa palavra “subsidiados” lembra algo, senhores verificadores?
Uma reportagem do Estadão, de 2015, nos ensina que “o BNDES é um banco público. Os seus financiamentos à exportação usam recursos do Fundo de Amparo ao Trabalho (FAT), de onde saem benefícios sociais como o seguro desemprego. A principal garantia, o FGE, também é do governo.”
O FAT é composto pelos impostos que geram o PIS/PASEP. Não existe essa história, portanto de que, só porque há um seguro para empréstimos, o dinheiro do BNDES não seja do contribuinte. “Honrar compromisso” não quer dizer apenas “pagar uma dívida” pontual, como o que os checadores querem que você acredite. Outra reportagem do mesmo jornal, de 2017, afirmava no primeiro parágrafo:
“Depois de serem usados em sucessivas manobras de contabilidade criativa, Caixa e BNDES buscam socorro do dinheiro do trabalhador depositado no FGTS, numa operação de triangulação financeira que já causa desconfiança.”
A reportagem mostrava como o BNDES precisou garantir sua capacidade de conceder crédito no futuro “após a devolução antecipada dos empréstimos do Tesouro Nacional.”
Em 2018, o Estadão também publicou uma matéria que alertava para um possível calote de R$2 bilhões de Angola, Venezuela e Moçambique e lembrava que “a conta dos atrasos, na verdade, ficará com o Tesouro Nacional, pois as operações têm seguro, coberto pelo Fundo de Garantia à Exportação (FGE).”
“Mesmo que os recursos sejam recuperados à frente, após renegociações com os devedores”, escreveu o jornal, “não há previsão orçamentária em 2018 para os eventuais calotes, informou o Ministério da Fazenda. Novos calotes podem pressionar ainda mais as contas públicas, já deficitárias.”
Ciente das informações acima, você teria a coragem de afirmar, peremptoriamente, como faz o Estadão Verifica, de que quem honra os compromissos do BNDES, ao fim e ao cabo, não é o contribuinte brasileiro?
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