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Brega, burro, e babaca: conheça o jovem de consciência crítica

Entenda por que acabar com o inteligentinho é mais importante que acabar com os incêndios na Amazônia

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 Há muito que a “formação de jovens com consciência crítica” tornou-se o paradigma educacional. Os profissionais da instrução formal exaltam a consciência crítica como a plenitude da capacidade cognitiva, numa idolatria pedagógica que todos conhecem muito bem; impossível já não ter ouvido, alguma vez, alguém falar em consciência crítica, geralmente em um contexto no qual sutilmente afiguram-na enquanto medida de sucesso ou fracasso intelectual. Mas que raios, afinal, é a tal da consciência crítica?

Segundo os discursos de seus cultores, o desenvolvimento de um senso crítico, à primeira vista, poderia comparar-se à concepção que os antigos possuíam do desenvolvimento da inteligência – do latim inter legere, que significa algo como ler por através, ver pelas entrelinhas etc.

Nesse sentido, dotar um jovem com o senso crítico seria o mesmo que equipar sua inteligência com instrumentos que lhe possibilitariam uma percepção mais aguçada da realidade, capacitando-lhe, por exemplo, à apreensão das relações de causa e efeito de epifenômenos a partir da banalidade aparente dos fatos.

Assim, os estudantes que concluíssem os ritos formais de aquisição de uma consciência crítica – ou seja:  ensino universitário completo -, ao final do processo, deveriam mostrar-se possuidores de alguma perspicácia intelectual, com uma inteligência antes sagaz do que robusta, mas minimamente capaz de promover a gradativa expansão de seus próprios horizontes.

Ocorre, no entanto, que quanto mais adentrado na atmosfera intelectual universitária, o indivíduo parece sofrer um estreitamento de sua capacidade cognitiva, vez que a metodologia dos mestres consiste em primeiro determinar como premissa da percepção da realidade, a aceitação inconteste de determinado pacote ideológico, e, através de suas lentes, analisar quais elementos de fato compõem a realidade, e quais são meras aparências. Em outras palavras, aprende-se que determinados conceitos são a medida do real, e não que a realidade é a medida própria dos conceitos.

Logo, o indivíduo educado a partir desta inversão, ao invés de conseguir ver pelas entrelinhas dos dados concretos, termina como um prisioneiro das mesmas abstrações que julga nos tornar efetivamente livres, que logo tomam forma de fetiches mentais, e vão petrificando-lhe o raciocínio até que nada do mundo concreto possa mais penetrar-lhe a couraça ideológica.

Bem. No ponto em que andam as discussões nos botecos pátrios, já é de conhecimento das gentes que os grilhões mentais aos quais me refiro, compõem o que chamamos de Marxismo Cultural, e, conquanto prescindível explicar seus artifícios e engrenagens; destaco apenas que, segundo seus ditames, consciência crítica, não passa de mais uma expressão chique para, na prática, designar aqueles cujo exercício da razão rebaixou-se a mera caixa de ressonância da dialética negativa, passando a encarar tudo o que for bom, belo e verdadeiro, como mau, feio e falso, dado que seriam meras categorias de opressão e manutenção de um status quo.

As feministas, por exemplo, após fervoroso exercício do senso crítico, constataram que a noção comum de feminilidade nada mais é do que uma hipnose coletiva que impõe demasiados padrões sociais e estéticos às mulheres, acorrentando-as, enfim, a um conjunto de estereótipos e hábitos cuja finalidade seria submetê-las à dominação masculina.

Quebrando os símbolos da feminilidade, quebrar-se-iam as correntes; e a liberdade resultante possibilitaria a expressão da feminilidade autêntica; e daí o porquê de vermos as feministas, roubando a expressão de Nelson Rodrigues, tornarem-se “machos mal-acabados”, com gestos e urros que miram no guerreiro, mas acertam no jeca.

É claro que nem todos abraçam com tamanha veemência a luta contra os símbolos da suposta dominação do não-sei-o-quê, a ponto de tornarem-se monstruosos como a gordinha do dendê (se o leitor não a conhece, não perca esta oportunidade e dê-lhe um Google). Entretanto, prevalece a idéia, consciente ou não, de que certa desordem estética é sinal de rebeldia e, logo, de autenticidade estética. Basta notar como alguns jovens se sentem super originais e transgressores por trajarem-se como que no limiar entre o hippie e o cigano, quando, na verdade, o vulgo apenas os encara como esquisitinhos e bregas.

E se a disfunção estética não for ululante pelos trajes, o será pela pose. Observem a gravidade no aspecto, a ênfase, o empostamento vocal de qualquer pupilo do pensamento crítico, e constatarão que não há nada além de clichês emotivos em retórica brega.

Não adianta. Quando algo é feio em sua essência, tentar disfarçá-lo com improvisos e adornos só piorará a situação. É como pensar que um Laerte da vida poderia tornar-se uma linda mulher se com a melhor maquiagem e o devido aprumo lhe enfeitassem o rosto. Ficaria, no máximo, tosco, brega; pois que é a breguice senão o tosco com ares de requinte?

E os inteligentinhos são bregas exatamente porque suas idéias estão para a fisionomia de Laerte, tal como sua loquacidade está para a maquiagem. Por isso, tudo no jovem de consciência crítica, quando não é tosquice requintada, é bestialização grotesca.

Mas não só. A obtusidade estética é mero reflexo material da obtusidade cognitiva. Não que sejam só rábulas os infectados pelo criticismo negativo, mas, ao contrário: geralmente, são indivíduos estudiosos e talentosos que, no exercício da consciência crítica, encantam-se com suas ilusões, e vão alijando a própria inteligência para proteger o gozo dessas mesmas ilusões.

Neste ponto, já não há muito o que fazer: o sujeito empacou. E como um burro empacado no lamaçal, empacou-se nas próprias idéias; e não tem espicaçar que dê jeito, pois cada açoite reforça-lhe a idéia de como seus discordes estão ainda demasiado presos às convenções e tabus sociais, e por isso mesmo não conseguem compreendê-lo. Assim, progressivamente, vai transformando-se a teimosia caprina em arrogância e presunção.

E aqui deflagra-se a obtusidade moral. Ora, se o indivíduo não aceita os dados da realidade por achar-se intelectualmente superior, naturalmente que também se achará moralmente superior, e, por conseguinte, no direito de ser intransigente e truculento. Em outras palavras: de agir feito um babaca. Por isto é que o leitor não consegue mais dialogar de forma minimamente racional com o primo de cabelo cintilante e tatuagens sebentas, que fuma maconha, e não comparece nas reuniões de família ante a indignação de só ele achar que nada no mundo é tão urgente quanto salvar as tartarugas marinhas e garantir os direitos das crianças-trans (sic), etc., etc.

Agora, imagine-se uma nação tomada por esta horda maciça de bárbaros e mentecaptos. Em sua fulminante ascensão, fariam os rumos pátrios à sua imagem e semelhança, e o resultado seria, não uma nação, mas mera redoma geográfica de feiura, analfabetismo, e imoralidade.

E jamais aceitariam como seus esses amargos frutos. Antes, os encarariam como a medida mesma do êxito, provando que, para um esculhambado confesso, nada mais reconfortante que a esculhambação total. Não por acaso, como diz o Gatão, do Canal Brasileirinhos, “ou o Brasil acaba com o inteligentinho, ou o inteligentinho acaba com o Brasil”.

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Caio Perozzo

Caio Perozzo é palestrante e professor de Literatura do Instituto Borborema. Escreve para o Senso e para a página @naotenhaismedo no Instagram.

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