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As mulheres ministras de Dilma e Temer

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Dilma-ministras

Após algumas semanas de especulação óbvia, Michel Temer, o novo presidente democraticamente eleito no Brasil com 54.501.118 votos, 38,2% do total de votos possíveis, anunciou seu rol de indicações a ministros. Não há na indicação de mulheres ou negros, o que gerou faniquito na esquerda radical.

Quando se quer ver opiniões de esquerda radical, entretanto, nem sempre é recomendável ir até Luciana Genro ou Maria do Rosário, pois muitos leitores não freqüentam inferninhos. Uma saída é sempre ir até Miriam Leitão. Não há idéia extremista ou desbaratada o suficiente que refreie o ímpeto ao adesismo imediato da colunista d’O Globo.

De acordo com Miriam Leitão, a ausência de mulheres marcará “um retrocesso de décadas se essa regra for mantida”. O grande pedagogo Reuven Feuerstein, que foi capaz de fazer crianças com deficiências mentais servirem no ultra elitista Exército de Israel, elencou diversos erros comuns de pensamento que maculam a deficiência de aprendizagem, lembrando que a confusão entre fato norma é um dos mais comuns na modernidade. Michel Temer não estipulou uma “regra”, como afirma Miriam: apenas o fato é que não indicou nenhuma. Para ela, já se tornou uma “norma”, impositiva e declarada. Quanto a seus leitores, é melhor nem imaginar o que imaginaram.

A ausência de mulheres nos 24 ministérios propostos por Michel Temer é facilmente explicada pela redução de ministérios que serviam tão somente de sinecuras para transferir dinheiro da população para pastas-cabide, marca da gestão petista. Ficou infame a frase de Guilherme Palmeira quando se cogitou seu nome para ocupar a pasta do “Ministério da Coordenação de Assuntos Políticos” (sic): “Isso não é um ministério, é uma mesa e um telefone”.

Dilma, ontem, largou 32 ministérios, tendo antes elevado o número para 39. É difícil crer que ela própria lembrasse o nome dos 39 ministros que indicou de cabeça. Quando foi reeleita, dos 39 ministros, havia apenas 6 mulheres. Apenas uma se somou ao grupo. Uma delas ocupava justamente a pasta de Secretaria de Políticas para as Mulheres, com status de ministério. Pasta caríssima, não há uma clareza sobre o que quer que tenha feito desde que foi criada que não pudesse ser feito pelo próprio Congresso.

(Correção de nosso leitor Bruno Góes: Temer acabou com 10 ministérios e criou um, dando um saldo de 9 ministérios a menos. Os outros 7 já haviam sido reduzidos por D.Rousseff, que saiu com 32 ministérios.)

A única pessoa negra, também mulher, era Nilda Lino Gomes, também do Ministério da Igualdade Racial. Em 39 ministérios, a única negra estava no Ministério da Cota. Parece que a promoção da Igualdade Racial pelo ministério não conseguiu ir além de sua própria ocupação, já que o projeto de cotas para negros não se estendeu a simplesmente nenhum outro ministério.

As pastas foram fundidas no Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos (sic), reunidos em outubro de 2015 no recém-criado Ministério da Cidadania (sic). Não se conseguiu pesquisar a fundo o que fazem com tantos milhões de verba.

Não é muito difícil entender por que uma canetada simples de Michel Temer, que poupou centenas de milhões e milhões por ano do erário dada pelo novo presidente do Brasil, causou o efeito de não termos mais ministras mulheres.

Se Miriam Leitão, Luciana Genro, Maria do Rosário et caterva quiserem gastar centenas de milhões todo ano apenas para afirmar que alguma pasta inútil é ocupada por uma mulher, sugerimos uma doação de suas próprias contas bancárias. Para nós, parece que as mulheres estarão numa melhor situação se tiverem de pagar menos impostos para inutilidades.

Uma dúvida de mera curiosidade pode passar por nossa cabeça: o que achariam da dra. Janaína Paschoal para o ministério da Justiça? Ela própria, em entrevista divulgada neste site, negou o desejo de qualquer participação em cargos em Brasília, mas seria curioso ver os estrilos da siricuticocracia.

Mulheres de fases: preocupação artificial

Um questionamento ainda mais curioso é saber por que o siricutico com mulheres. Qualquer PSTU da vida sabe é difícil chamar mulheres para a política, mesmo as mais fora dos padrões, aquelas longe do modelo bela, recatada e do lar.

Há uma questão mais fundamental: a crença de que mulheres fazem parte de um grupo (os sucedâneos das velhas “classes sociais”) extremamente distinto daquele dos homens. São os velhos recortes nominalistas que se faz na realidade para se criar ideologias, ao invés de enxergar a verdade buscando a quintessência e o todo.

Dilma Rousseff cercou-se de algumas mulheres, basta lembrar delas: Ideli Salvatti, Jandira Feghali, Gleisi Hoffmann, Ana de Hollanda, Miriam Belchior, Eleonora Menicucci, Maria das Graças Foster, Marta Suplicy e, claro, Dilma Rousseff.

Há algo em comum entre todas elas. Algo além dos órgãos sexuais, em tempos em que isto vale mais do que o cérebro e o caráter. Basta pensar em seus sobrenomes.

laerte-sentadoO leitor que fale inglês, italiano ou alemão pode experimentar saboreá-los no original. Salvatti, com o L no céu da boca típico das línguas européias. Feghali, quase inescrevível. Menicucci, que dá trabalho à ministra sempre que precisa soletrar seu sobrenome para alguma atendente de telemarketing (se for uma comum mortal que não tem quem atenda tais ligações por ela). Foster e Suplicy são um show à parte, lembrando que o nome completo da última é Marta Teresa Smith de Vasconcelos Suplicy, ex-esposa de um Matarazzo. E a pronúncia de Hoffmann? Não é como se costuma pronunciar o sobrenome do Dustin, mas hóf, com ó prolongado, e “an” que não nasaliza, não faz “ãn”, mas o mantém aberto. Uma complexidade para qualquer um pronunciar três vezes corretamente de primeira. Nem tente pronunciar “Rousev” em búlgaro, antes de ter sido afrancesado para “Rousseff”, como aconteceu com a filha do rico comerciante que tomava chá da tarde com três empregadas vestidas à francesa em Belo Horizonte.

É este o perfil da “mulher brasileira” representado no governo Dilma? Claro, o que isto importa à Miriam Leitão e as radicais de Centro Acadêmico: o que importa é ter mulheres. Ainda que todas elas, com exceção provável do Ministério das Cotas, sejam exceção completa à realidade das mulheres brasileiras.

Alguma batalhadora, mãe de 5, que se preocupou com feminilidade, sucesso e família, ou apenas mulheres urbanas, ricas, que nunca precisaram se preocupar com dinheiro, já estavam na faculdade com 18 anos, fazendo cursos muitas vezes inexpressivos e prontas para o engajamento político antes de se casar com alguém do DCE?

É muito mais fácil encontrar semelhança de desejos, objetivos, métodos e valores entre um homem e uma mulher do Nordeste do que entre duas mulheres, uma amazonense e outra gaúcha. O corte focado em gênero é simplesmente um flatus vocis, um nominalismo puro, um signo para inglês ver, uma palavra oca de sentido, uma flatulência verbal para culpar os circunstantes pelo mau cheiro.

Repetindo o clichê do tripé gênero-raça-sexualidade descrito por Roger Kimball em Radicais nas Universidades (certamente em mais uma eleição sentir-se-á falta de um ministro homossexual), a categorização da esquerda para tudo ficou reduzida às funções fisiológicas do ser humano.

Pode causar assarapantamento em Miriam Leitão e no Diário do C. do Mundo, para quem consegue notar a diferença. Não é, definitivamente, algo a preocupar quem tem um emprego para cuidar (ou procurar) e uma vida para tocar aqui na vida rés-do-chão do povo zé-ninguém.

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Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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