Não existe cultura de estupro, existe esquerdismo
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O bizarro, assustador e cada vez mais mal explicado caso de um estupro coletivo ocorrido numa favela do Rio de Janeiro revigorou com força o celeuma envolvendo feminismo e o shibboleth da “cultura de estupro”, desta feita aceito não como uma teoria ou hipótese, mas como um fato cabal da vida, como 2 e 2 são 4. Todos os jornais e inclusive partidos, de qualquer matiz ideológico, acataram a expressão.
Estupros são bem aceitos?
Uma explicação comum sobre o que seria a cultura de estupro é a idéia de que o estupro é um crime “aceito” socialmente. Que se um homem, por exemplo, abusar de uma colega alcoolizada, será considerado um cara esperto, que arrancará risos de seus colegas. Que o estupro é considerado pela sociedade como “culpa da vítima”, e não como culpa do estuprador. E que o estupro, afinal, é um crime “de homens”, portanto os machos do planeta é que precisariam ser “educados” para não cometer tal crime. como corolário disto, o diagnóstico é que todo homem é um “estuprador em potencial”.
O primeiro caso é muito mais chocante do que parece. Costuma ser aventado até por pessoas bens de vida, com formação educacional e intelectual avançada, com profissões abastadas e alto poder na sociedade. Elas afiançam que seus colegas de faculdade realmente dariam risada se algum amigo da rodinha afirmasse que se aproveitou e fez sexo com uma mulher alcoolizada que não estava plenamente capaz de dizer não. Que forçou sua namorada ou esposa a uma relação sexual. Que se aproveitou de alguma incapaz por idade ou condição emocional ou de consciência.
Ao invés de aumentar os graus de palavras burocráticas, tal situação exige uma simplificação muito mais inteligente. Pergunta rápida: caríssimo(a), onde você anda arrumando amigos? Na Cracolândia do Fernando Haddad? Numa sala de cast de filme pornô? Ou num Centro Acadêmico de faculdade de Humanas freqüentado por militantes de partidos de extrema-esquerda?
Porque, falando o português claro, não há muitos outros ambientes em que um homem falando uma coisa dessas saísse inteiro. O problema não são os homens, não é “a sociedade”, não é “a cultura de estupro”, não é o todo do planeta, diluído de pouquinho em pouquinho em cada ser humano do sexo masculino. O problema são os seus amigos. Não os meus.
Um amigo meu que viesse dizendo que viu uma mulher semi-desacordada numa festa de faculdade e aproveitou para tirar sua roupa e abusar dela sexualmente não receberia risadas. Receberia porradas. Denúncias às autoridades. Ostracismo.
Se os seus amigos não são assim, a culpa não é dos homens, da sociedade ou da “cultura de estupro”. A culpa é da mentalidade específica do grupinho no qual você está inserido(a). Talvez você deva é parar de sair com gente capaz de achar isso bonito, e qualquer pessoa com plena capacidade de consciência para recusar sexo também sabe que é o mesmo tipo de gente que capota a picape do papai na madrugada e dá risada, que rouba dos colegas de república e se acha melhor do que os outros por isso, que pagará propina para se livrar de multas e fará outras pessoas pagarem pelo que ele deve.
Estas pessoas, apesar de serem encontradas em ambientes os mais diversos, estão sempre circundando os mesmos ambientes da mesma forma: buscando tirar vantagens, tratando outros seres humanos como meras ferramentas de seus caprichos, com moral nula ou torta e uma visão de mundo hedonista em que tudo o que importa são prazeres umbigocêntricos.
Todo mundo já conheceu gente assim. Mas quem é são e maduro sabe tratá-los de maneira distinta das outras pessoas. São pessoas que vão da falta de formação moral (o que “educação” e “feminismo” nunca irão corrigir, muito pelo contrário) até a psicopatia. É a mentalidade lei de Gerson. É a mentalidade sex lib. É a mentalidade tudo é de todos, nada é de ninguém. É a mentalidade Partido dos Trabalhadores. É a mentalidade black bloc. É a mentalidade Partido dos Trabalhadores.
Se seus amigos acreditam que estupro é normal, a primeira dica para (sobre)viver em sociedade: troque seus amigos por presidiários.
Cultura de estupro e relativização de crimes
O que exige um aprofundamento como corolário: alguém por aí realmente afirma que estupro é “culpa da vítima”? Alguém, de carne e osso, que você conhece, até o seu tio Juca que vive no meio do mato, ouve Waldick Soriano e palita os dentes sem pôr a mão na frente, alguém existente e plenamente normal, ao travar conhecimento com um caso de estupro, de um homem que levou uma mulher para um lugar deserto, usou de força física para abafar seus gritos, para arrancar suas roupas e para forçar uma relação sexual, e sentenciou: “A culpa foi da vítima, o agressor é que não teve escolha”?
Para não dizer que o Brasil não conhece gente deste nível, há alguns exemplos fáceis de serem apontados. O caso mais claro é Maria do Rosário, a deputada petista que afirma que o estuprador Champinha é “uma criança”. Para Maria do Rosário, se o estupro for cometido por um negro pobre contra uma mulher branca e rica, há uma seríssima inversão de perspectivas que causa um tilt no suposto determinismo do materialismo histórico-dialético. Maria do Rosário considera que todo crime é culpa da sociedade, o que a deixa numa dilema hamletiano diante de um estupro. Culpa da sociedade ou culpa do indivíduo, eis a questão.
homem mata mulher 🙁
mas ele era negro ela branca 🙂
ele rico ela pobre 🙁
gay ela hetero 🙂
cis ela trans 🙁
a arma era zarabatana 🙂
— zambinas (@zambininha) August 27, 2015
Há outras pessoas que crêem que crimes não possuem culpa individual, e mesmo que a culpa seja da própria vítima. Podemos citar Túlio Vianna, professor de Direito Penal da UFMG. Ao comentar o seqüestro, os seguidos estupros e lento e doloroso assassinato de Liana Friedenbach por Champinha (algo que faria um vídeo de degolamento do Estado Islâmico parecer Cocoricó), Túlio Vianna não teve dúvida e escreveu:
“Liana e Felipe, em sua sede de aventura, foram vítimas da desigualdade brutal que tanto os distanciavam de Champinha, seu suposto algoz e atual personificação do demônio segundo a mídia-urubu que a cada dia infesta nossos noticiários.”
Champinha, o “suposto” algoz. Personificação do mal apenas pela “mídia-urubu”, e não por quem rejeita seqüestros, estupros, assassinatos.
Se alguém considerar o estuprador alguém mau, Túlio Vianna ainda encontra azo para debochar:
“O trágico final da história todos conhecem, tal como foi contado pela mídia em uma versão para adolescentes da velha fábula de João e Maria, que foram aprisionados pela perversa bruxa da floresta.”
Não surpreende a quem busca alguma coerência entre suas idéias que Túlio Vianna seja de esquerda, eleitor de Lula e Dilma, crítico do capitalismo, defensor do abolicionismo penal e, tal como Maria do Rosário, se considere feminista. Para o feminismo, como já explicamos aqui, as mulheres servem como infantaria revolucionária por sua histeria – se um estupro não serve como propaganda revolucionária, defende-se o estuprador.
Fora casos como esses, não há conhecimento de pessoas que levem a sério a idéia de que a culpa de um estupro seja da estuprada, a não ser nos casos psicopáticos anteriores. Novamente, a mentalidade hedonista amoral encontra pasto e circunstância muito mais facilmente em certos ambientes, como Centros Acadêmicos de faculdades que só falam em sexualização, em ambientes desabridamente pornográficos, em ambientes dominados pelas drogas e pela inconsciência.
Ao invés de colocar em seu avatar no Facebook uma campanha fabricada afirmando que “A culpa do estupro não é da vítima” – como se alguém além de gente do escol de Maria do Rosário, Túlio Vianna, abolicionistas penais e eleitores do PSOL considerassem que a culpa de um crime é da vítima – parece uma atitude muito mais inteligente, funcional e amadurecida defender o que impede este florescimento da psicopatia violenta que, esta sim, gera estupros.
E a resposta é simples e antiga: a moral conservadora. Essa tão vilipendiada justamente pelas campanhas de marketing oco da esquerda, supostamente tão preocupada com estupros. Ela que critica o hedonismo, ela que rejeita o relativismo amoral, ela que considera crimes pecado (e não algo maleável conforme condições sociais), ela que se preocupa com culpa, e não com revolução, ela que combate a hipersexualização, sobretudo precoce, ela que preconiza punições exemplares para crimes. É ela que acredita no mal à espreita, na tentação e que uma sociedade segura é uma sociedade armada.
Exatamente por isso, ela é tão critica pela esquerda.
Com quem estaremos mais seguros contra estupros?
Serão, por exemplo, os bailes funk, com sua redução do ser humano às funções fisiológicas, “cultura de estupro” ou manifestação cultural da periferia? Será que serão acatados pela direita reacionária ou pela esquerda feminista? Basta pensar que Caetano Veloso é o autor da frase “Funk carioca e sertanejo universitário são a nova Tropicália”.
Enquete: Vocês enquadram esse "show" como "cultura do estupro" ou como "manifestação cultural da periferia"? https://t.co/8BLs29Oa24
— Guilherme Macalossi (@GTMacalossi) May 27, 2016
Cultura de estupro desculpa outros crimes
Basta pensar em quem quer tanto o ensino de aulas de educação sexual para crianças de 6 anos, se o PSOL de Jean Wyllys e Marcelo Freixo, ou se quem critica o “kit gay” é o bronco Jair Bolsonaro. Haveria tantos estupros sem hipersexualização? Um ensino tratando sexo como questão banalizada, sem significado, vazio e mecânico é mesmo capaz de impedir estupros, ou aquela velha educação que o trata como algo especial, único, íntimo e relacionado a sentimentos é mais capaz de gerar um ambiente sem estupros? Será que há mais estupros perto de bailes funk ou em bairros familiares e tradicionais?
Ao invés de pensar que há algo como uma “cultura de estupro” que gera estupros, é melhor olhar um pouco mais acima, ver mais, melhor e mais longe.
Se há uma “cultura de estupro”, há por acaso uma “cultura de assalto”? Uma “cultura de seqüestro”? Uma “cultura de assassinato”? Não será que a cultura de assalto não tem algo a ver com a cultura de assassinato? Será que a cultura de seqüestro não tem algo a ver com a tal “cultura de estupro”?
Será que não existe na verdade uma ampla cultura, que podemos chamar de cultura da criminalidade, ou no ambiente jurídico e jornalístico, uma cultura da impunidade, que está sempre apta a desculpar, relativizar e “socializar” culpas?
Será que estamos mesmo pensando por nós mesmos quando falamos em “cultura de estupro”, como se por mera coincidência o termo tivesse virado moda exatamente quando passamos a utilizá-lo, ou será que estamos novamente vestindo a roupa da ideologia emprestada, considerando-nos “críticos” por obedecer o que outros nos mandam pensar, e não só ignorando o problema com conceitos errados, mas até mesmo aprofundando o abismo entre nossa calamidade e alguma possibilidade de fuga?
Que outra razão haveria para tanta campanha afirmando que a culpa não é da vítima, “ao contrário do que todos dizem”, sendo que ninguém está dizendo que a culpa é da vítima, a não ser psicopatas e esquerdistas?
É o famoso bode expiatório, aquele em quem são colocadas todas as culpas, mas que, ao ser visto de perto, simplesmente inexiste, ou é uma pobre vítima inocente a ser sacrificada. Já foi mesmo um bode, já foram seres humanos sacrificados para o deus-sol, já foram tribos inimigas, já foram classes sociais, burgueses, judeus. Hoje se tenta criar novos bodes, assim que se começar a definir o que é a “cultura de estupro”. Algumas pessoas já começam a sangrá-lo, dizendo que todos os homens são “estupradores em potencial”.
Não há para onde olhar na sociedade ocidental (a islâmica é o caso oposto) e ver uma “cultura de estupro”. A exceção é justamente o coração da ideologia que inventa bordões fáceis como “cultura de estupro”: o esquerdismo, incluindo o feminismo – que vai dizer que é contra o estupro, mas cria o ambiente propício para ele – algo que sua maior inimiga, a moral conservadora, vai limpando um a um.
Se quer mesmo entender se a cultura de estupro é uma quimera e um bode expiatório genérico e abstrato ou se combateremos estupros reais, concretos e verdadeiros criticando tanto uma abstração sem os corretivos culturais, morais e criminais contrários à criminalidade, basta olhar para a margem da sociedade criada pela moral conservadora antiga.
Afinal, se você entrar numa cadeia e disser que chegou lá por que abusou de sua colega de faculdade numa festa, será saudado e elogiado?
Novamente, troque seus amigos por presidiários.
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