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Eleições 2018

O Datafolha com Lula faz sentido (não é o que você tá pensando, seu animal)

Para o Datafolha, Lula venceria todos os outros candidatos, e também a população quer vê-lo preso. É alquímico, mas tem uma explicação.

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Lula e Bolsonaro

De acordo com o Datafolha, a maioria dos brasileiros quer Lula preso. De acordo com o próprio Datafolha, Lula venceria qualquer adversário em qualquer cenário e se tornaria presidente em 2018, eternalizando uma espécie de linhagem petista em que o partido só existe para manter o petista solto mais famoso do momento no poder, intercalado com Lula – presidente mais para evitar a cadeia do que para fazer alguma coisa.

O cenário soa confuso, e o Datafolha é a instituição numérica com a verdade mais elástica do país, em que os números confessam qualquer coisa a calor e temperatura extremos (você já datafolhizou numa prova de matemática?).

O principal problema é que o Datafolha sempre erra para o mesmo lado. Depois vem aquele discursinho Avenida Paulista, tem 1 milhão na Parada Gay, enquanto só 200 mil pelo impeachment de Dilma, porque um matemático provou que “não cabe” 1 milhão de pessoas na Paulista etc – aquela papagaiada toda que os brasileiros que sofrem de leitura de notícias já conhecem de cor e salteado.

O próprio Lula cita, em um dos grampos vazados, um instituto de pesquisas que aparecerá dizendo que ele estará em primeiro lugar sempre que uma notícia ruim sair a seu respeito. Algo que só pode ser respondido com um comentário bovino: Hummmmm….

O Datafolha, ano passado, causou furdunço ao afirmar que Marina Silva liderava para todos os cenários. Aquela, lembra? Nem eu. Mas é como funcionam as notícias que todo mundo vai comentar, e fazer análise, e especialistas criarão todos os prognósticos para os próximos anos levando esse tipo de “dado” em consideração. E nem queira saber quanto o Datafolha “acertou” nas últimas eleições.

Mas antes que a população se escandalize com o resultado de Lula estar sempre em primeiro no Datafolha, seja para ir preso ou para virar presidente – em suma, para Presidente Bernardes – cabe não se escandalizar com a nova datafolhização das estatísticas e entender que tudo no Datafolha é mentira, mas tem método. O povo deve acreditar mais em si próprio do que no Datafolha dizendo o que o povo quer.

Apesar de a próxima eleição envolver tantos cenários possíveis que pode superar a eleição de 1990, com 8 candidatos com certo potencial, e o Datafolha estar afunilando as possibilidades (ninguém até agora sabe quem será, ou quantos serão, os candidatos tucanos, por exemplo, ou se Lula estará preso), há algo “esquecido”.

A liderança de Lula parece ser mais revelada pelas próprias falas de Lula do que pelas falas do povo. Mas boa parte dos candidatos ainda é desconhecida do grande público: Bolsonaro ainda é mais um fenômeno nas redes sociais do que no interior do Alagoas, que dirá João Amoêdo do NOVO.

Something wicked this way comes: Lula “lidera” contando-se apenas intenções de voto. Parece o mesmo que “ir votar”, mas não é: petistas têm intenção clara de votar em Lula. Que outro homem político no Brasil tem a intenção de votar em X, ou Y, ou Z? Bolsonaro é o único nome com uma militância (o PSDB sempre surge como opção contra o PT, ou supostos “radicalismos”, como a mídia pinta), mas esta é ascendente, e não decrescente como a do petista – até os próprios políticos que podem dar palanque a Lula podem estar presos em alguns dias.

Mas o principal: as intenções não chegam a 100% dos votos. Lula contra Bolsonaro, por exemplo, mesmo para o Datafolha, rende uma briga de 47% a 33%. Lula contra Marina, cuja base sonhática é bem menor, gera o bizarro número datafolhizado de 44% a 36% (no cenário em que menos brasileiros iriam para as urnas).

Lula bateria Alckmin por 46% a 32%. Mas Doria, que tem uma reprovação pesadamente menor (25% contra 31% de Geraldo), perderia por 48% a 32% (ou seja, Geraldo, com 6% a mais de reprovação, e bem na linha periclitante, faria mais gente votar em Lula, o que não é exatamente algo que, digamos, faça sentido).

A grande verdade é que, no Brasil, há uma disputa entre Lula contra todos. E, na multidão “todos”, fica-se entre a bunda-molice isentista (Alckmin, Marina), a promessa perfumada (Doria), a pancadaria (Ciro) ou candidatos que dêem voz a quem não tem voz (Bolsonaro no eixo conservador ou Amoêdo no eixo liberal).

O que importa é quem encherá as intenções até os 100% (estes 20% faltantes são tudo o que importa, já que os números já consolidados, ao menos em cenários sérios, são mais estanques). E, neste cenário, Lula tem rejeição de… 42%. Maior em quase 10% do segundo colocado, Bolsonaro, com 33%. Com rejeição de 42%, como Lula poderia encher o tanque até os 100% de votos? Qualquer um é mais capaz de fazer os 50% + 1 necessários do que ele.

Rejeição é muito mais importante do que intenção – justamente pra isso que existe segundo turno, o turno de quem você rejeita menos.

O Datafolha sempre fará o possível para dizer que Lula estará em primeiro lugar no coração dos brasileiros. Mas, desta feita, nem precisou de muita datafolhização: basta pesquisar intenções de voto, se o brasileiro vive a maior crise de representatividade de sua história (que já não é um oceano de políticos representativos da população).

Aí, ou se tem Lula, ou se tem o anti-lulismo. E nem mesmo as esperanças do Brasil sem Lula se comparam ao fanatismo da militância. Sendo assim, faz sentido Lula liderar em intenções de voto (em que a militância dispara por ser a única com candidato unificado) e também em desejo da população de ver Lula preso, quando a balança se inverte: todos estão contra Lula e sua militância, e inclusive o segundo turno burilado do Datafolha prova isso.

Os números, então, não são muito diferentes destes: Lula pode liderar “intenções”, mas porque estamos contando só as pessoas que militam por um candidato. Seus números aparecem porque essa militância, querendo se travestir de povo, quer surpassar a lei para ter Lula candidato. O que importa mesmo é se Lula estará solto por alguma maracutaia para atender a militância: a população se sentirá ainda menos representada com isso. Logo depois, Lula ainda só engana datafolhizando os números.

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Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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