Coca-Cola adere ao marketing de lacração com Pabllo Vittar e funkeiros
A Coca-Cola abandonou seu lado família e preferiu se associar ao funk de Pabllo Vittar, Ludmilla e Valesca Popozuda. O que ganha com isso?
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A Coca-Cola é a nova aderente e proponente do marketing de lacração, depois de tantos exemplos de empresas que aderiram à idéia do progressismo politicamente correto: lançou várias latinhas de fim de ano com imagens de celebridades lacradoras, como o travesti Pabllo Vittar e as funkeiras Ludmila, Anitta, Valesca Popozuda e Simone e Simaria.
Não há nada comercialmente errado em utilizar as celebridades modistas do momento para uma campanha de marketing. Marqueteiros fazem isso hoje e sempre.
Mas a escolha só seria por “celebridades” se os lacrantes em questão estivessem por mera coincidência num bolo entre outros não-lacrantes. Apesar da presença de um Thiaguinho ou de um Luan Santana, a predominância em latinhas de Coca-Cola é pela lacração.
Tal posicionamento evidencia-se pelo uso de frases agressivas e um tanto quanto indecorosas para acompanhar o rosto dos escalados, como Anitta aparecer sobre a declaração “Meiga e abusada”, perfeita para ser entregue para a sobrinha de 4 anos quando pede uma Coca, ou Valesca Popozuda com a insígnia “Eu sou a diva que você quer copiar”, esta seriamente pensada para a vovó Gertrudes, 83 anos, que reza o terço no dia 24 e vai tomar uma Coquinha gelada tão logo terminar a Missa do Galo.
Já Ludmila e sua divisa militar “A danada sou eu” convida o filho Mateus, 11 anos, a entregar uma Coca-Cola para a mãe que ainda está cuidando do chester, enquanto Pabllo Vittar e seu apotegma “Vem, não tem igual”, mostra que ir no Pabllo Vittar vestido de mulher é algo que definitivamente não é igual a uma mulher. O que é basicamente o que todo mundo sempre soube, dito de maneira caliente. Tão sexy que dá vontade de entornar um Dollynho litrão sabor gengibre.
A Coca-Cola, que já foi uma marca família, com mensagens de Natal com toda a família chegando (“e se os vizinhos aparecerem?!”), preferiu trocar o marketing família pelo marketing da lacração.
O marketing de uma marca dominante (imperiosa, até) como a Coca-Cola não é como o marketing de um novo produto, desconhecido, a ser testado, tentando provar que possui qualidade. A Coca-Cola apenas precisa lembrar o consumidor que ela existe, e se associar a bons momentos (uma ceia de Natal a ser lembrada tem Coca-Cola, e não tubaína).
É o que se faz associando-se uma marca a um valor da sociedade. Família e Natal? Coca-Cola. Apesar de todas as cervejas brasileiras clássicas serem rigorosamente idênticas, cada uma sempre foi associada a um valor diferente. Qual a mais jovem? A com expertise no bar? A do churrasco de domingo? Sol, Brahma e Kaiser só tinham isso de diferença.
Mas Natal e família são coisas ultrapassadas nesse mundinho de 2017. O negócio agora é funk e agredir a mamãe, a vovó, a ceia de Natal com aquele Menino Jesus patriarcal obscurantista reacionário Bolsonaro 2018.
As empresas, apesar de não lucrarem absolutamente nada com isso, sempre caem no canto da sereia de algum lacrador com o cabelo tingido de roxo do departamento de marketing dizendo que a onda agora é se dizer abusada, danada e diva para a família.
O problema óbvio é factual: alguém do público de Anitta, Pabllo Vittar e outras bobagens de adolescentes alienados e modistas tem capacidade de fazer um sacrifício e trocar o barato Dollynho por uma toda-poderosa Coca-Cola? Esse povo depende justamente do papai opressor que vai falar de Bolsonaro, pau em bandido e comunista na ceia de Natal (que só vai começar de um Pai Nosso, uma Ave Maria e um Glória ao Pai). Sem ele, não tem dinheiro nem pra comprar bagulho.
O problema menos óbvio é sociológico: a Coca-Cola é grande demais para seguir ondas. Ela tem de ditar modas. O que é Pabllo Vittar, ser que ninguém lembrará daqui a uma década, perto da Coca-Cola? É como tentar lembrar dos sucessos dos anos 90: Baba Cósmica, t.A.t.u., Chumbawamba, Aqua (aquela da Barbie Girl). E se a Coca-Cola vivesse correndo atrás dessas modinhas?
Uma lenda urbana bem comum no Brasil diz que o Papai Noel originalmente era verde, e só é pintado de vermelho graças à Coca-Cola. Será essa empresa que terá como grande criatividade citar Anitta e Valesca Popozuda (aquela dos hits “Agora virei puta” e “My Pussy é o poder”) gritando que são divas abusadas?
Os ídolos que queremos ter na sociedade podem ser o Papai Noel e o urso polar da Coca-Cola, famosíssimo num país tropicalíssimo como o Brasil, por aspirarem a algo superior às nossas chateações comezinhas. Agora, é o contrário: grandes marcas consolidadas, símbolos da família, têm como grande triunfo em plena época mais importante do ano (inclusive comercialmente) estampar um traveco e a autora de “Um Otário Pra Bancar” e “Tô Com o C* Pegando Fogo”. E pronto. É ao funk que a Coca-Cola quer se associar como valor?
Será que empresas precisam mesmo de tanta coragem assim para simplesmente colocarem mamãe, papai e filhinhos (ainda existem por aí! não nascem de chocadeiras ainda!) tomando uma Coquinha e sorrindo? Apesar de toda a gritaria, o total de realização de vida de todos os millenials somados soma zero.
Não dá nem pra pagar uma Coca-Cola latinha.
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