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Cem anos de solidão

Colunista da Folha exige respeito por não ter filhos e choca o século XIX

Melhor não ler jornalistas: ter inteligência

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Mulher Indigesta é o nome de uma canção pitoresca do grande Noel Rosa. Nela, Noel descreve aquele tipo perene de mulher cuja existência mesquinha causa refluxos ácidos no estômago. Usando uma analogia futebolística, é como o time que não deixa a bola rolar.

O artigo de 01 de outubro de 2019, publicado no site e, é bem provável, naquele entulho de papel chamado Folha de SP, é a coroação, o suprassumo, o crème de la crème, do resmungo untado de presunção, cheio de ressentimento. É a elevação do meio campo embolado, do jogo truncado, como ápice de uma existência. É a resposta clássica da mulher indigesta.

A suposta jornalista, uma tal Mariliz, diz que prefere ter tempo a ter filhos. Até aí, tudo normal. Quem quer ter filhos sabe que o tempo não será mais um dos atributos da sua vida: será um privilégio raro. E essa escolha diz respeito ao indivíduo. Mas a jornalista de idéias baldias achou que deveria exortar sobre sua escolha, como se isso fosse uma grande realização.

Idiotas sempre querem transformar suas escolhas enfadonhas em bandeira política. Como argumento, ela diz temer que seu rebento se torne uma pessoa que faz gesto de arminha. Se sua cria roubasse o país, se fosse uma traficante de drogas, um estuprador, ou se fosse uma trolha zarolha feito a mãe, tudo bem. Quando ela escolhe como o supremo da infelicidade um filho seu fazer gesto de arminha, deduz-se que essas outras coisas são menos más.

A intenção do texto, além de exaltar sua própria história pessoal – embora quem tenha um tino apurado para bobagens logo perceba que é puro ressentimento e chororô -, é servir como um suporte para mulheres que, feito a autora, sofrem com as pressões do patriarcado opressor no dia das mães. O texto talvez fizesse algum sentido em 1840. 

A desocupada senhora diz que o mundo está uma bela bosta, que no Brasil, tem gente que acredita em mamadeira de piroca. Esquece, é claro, das pessoas que acreditam que o presidente foi eleito com base em fake news. A ideologia agradece.

É um caso claro de texto em que todas as premissas da autora estão extraordinariamente erradas. Dá pra refutar a redação toda com duas tirinhas do gibi do Cebolinha. Mas escrutinar certas esquisitices não é de todo inútil. O sumo que resta, sem descartar o bagaço, do que há no texto é uma tentativa frustrada de se sentir superior às mães e um desesperado grito de socorro contra a ação do tempo que ela diz ter de sobra, mas que, na esfera metafísica, está se esgotando. Logo logo nem de cagar de porta aberta ela terá mais o prazer; bastará um simples espirro para que os nacos pastosos de sujeira se alastrem, besuntando de marrom o bumbum e fralda geriátrica.

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A obsessão histérica com que a parte menos favorecida intelectualmente da sociedade, os jornalistas, deseja romper com padrões que já não são padrões desde, sei lá, 1952?, demonstra o absoluto descompasso de quem não enxerga o mundo como ele é, mas mistura seu ressentimento com teses acadêmicas de péssima procedência.

Mas numa coisa a moça acerta: ela diz que “quando morrer, acabou. Está ótimo!” E estará mesmo. Não sobrará dela a mais fina nódoa de sua presença no mundo, ou ela acha que alguém se importará com esquálido catálogo de suas realizações?  

À jornalista quedam-se essas palavras de incentivo: num enche o saco!

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Assuntos:
Carlos de Freitas

Carlos de Freitas é o pseudônimo de Carlos de Freitas, redator e escritor (embora nunca tenha publicado uma oração coordenada assindética conclusiva). Diretor do núcleo de projetos culturais da Panela Produtora e editor do Senso Incomum. Cutuca as pessoas pelas costas e depois finge que não foi ele. Contraiu malária numa viagem que fez aos Alpes Suiços. Não fuma. Twitter: @CFreitasR

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