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Todo mundo só fala de Marielle Franco porque ela era do PSOL

A vereadora virou o novo símbolo arquetípico e identitário da esquerda. Entre tantos assassinatos de políticos, só falam de Marielle para fazer propaganda político-partidária

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Marielle Franco presente

Marielle Franco era uma vereadora do PSOL com toda a narrativa identitária pronta: negra, mulher, ex-favelada, lésbica, socióloga, feminista. Foi assassinada em uma emboscada. O crime tem nítidas conotações de queima de arquivo: nada roubado, muitos tiros, fuga dos assassinos.

Por causa do assassinato de Marielle, o país parou. A Rede Globo falou tanto de Marielle que parecia que o papa tinha morrido. O PSOL, seu partido, exigiu investigações rigorosas, prioridade absoluta da polícia e punição exemplar – o que é estranho, vindo de um partido que quer Lula livre, fala abertamente que cadeia não resolve e tem uma visão bem negativa da polícia.

O assassinato da Marielle é tratado como “crime político”.

Claro, a esquerda no país vive à sombra de uma narrativa arquetípica bem jungiana: a de que teria “lutado contra a ditadura”, supostamente apenas “querendo democracia”, ignorando que a realidade é exatamente o contrário: existiu ditadura no Brasil justamente porque havia luta armada de esquerda para implantar a horrenda ditadura totalitária socialista, que matou muito mais no mundo do que o nazismo. O stalinismo e o maoísmo preconizados pela esquerda são “esquecidos” e não estudados nos livros de história que falam da ditadura militar como se fosse o Terceiro Reich tupiniquim.

Nada melhor do que o assassinato de uma vereadora eleita majoritariamente com os votos da rica Zona Sul do Rio, mas que se encaixa na narrativa hoje identitária da esquerda: Marielle Franco seria uma pobrezinha que só quer “direitos humanos” (é como a Rede Globo fala dela), e foi assassinada pela “elite” opressora de extrema-direita porque… bem, porque todo mundo que não vota no PSOL deve ser um oficial da Waffen-SS.

Nada se fala sobre as propostas de Marielle Franco e sua defesa do socialismo. Parece que a vereadora era um anjo, ou ao menos uma Madre Teresa de Calcutá, que incomodava todo mundo por multiplicar pães e peixes aos pobres, por curar os leprosos, fazer os cegos enxergarem e ressuscitar os mortos. De Henri de Lubac, em O Drama do Humanismo Ateu, até uma apoteótica análise das idéias modernas como o “Princípio Prometeu” denunciado por Hans Urs von Balthazar em Prometheus: Studien zur Geschichte des Deutschen Idealismus, a substituição da imagem de Cristo por modernidades humanas, demasiadamente humanas, é a essência nevrálgica do materialismo histórico-dialético.

Mesmo que seu crime tenha motivações políticas além de criminais (a vereadora, ao menos, era sabidamente crítica de milícias, embora o PSOL não seja exatamente um grande crítico de traficantes), é simplesmente boba e estúpida sua manipulação não apenas pelo complexo PSOL-Rede Globo (cada vez mais indistingüíveis), mas sua ênfase rubricada entre os assuntos da nação.

https://twitter.com/JapaDoBolso/status/1189578701127610369

Entre 2016 e 2018, ao menos 36 vereadores foram assassinados no país. Por que Marielle Franco merece a lista VIP de preocupações nacionais?

Tem de tudo. Jorge Cunha, do PROS, foi assassinado em Apicum-Açu (MA) a facadas por causa de R$ 2. Falta de motivação política? Esmilton Pereira dos Santos (PRB) foi assasinado a tiros quando chegava em casa. Na época, era candidato à reeleição. Já  Cesar Augusto Miranda (PR) foi diplomado de manhã e à noite alvejado com três tiros. Cadê os cartazes de “Cesar Miranda Presente” por aí?

Tony Pretinho (PR) foi morto com tiros de pistola e espingarda enquanto conversa com amigos. Adelmo Rodrigues de Melo, o “Neguinho Boiadeiro” (PSD), foi alvejado enquanto saía da Câmara dos Vereadores. Antônio Chagas de Oliveira (PTB) foi morto em uma discussão politica em um bar. José Valmir de Sousa (PSDB) foi morto por pistoleiros tão logo saiu de um palanque. José Claudio Carvalho Borges (PSDB) também foi assassinado durante um comício. Francisco Anaílde Chaves (PDT), vereador mais votado de São João do Jaguaribe, também foi morto por pistoleiros.

Fernando Martim (PSDB), que também foi vice-prefeito, foi encontrado enforcado em um galpão de Chácara. Ciraldo Fernandes da Silva (DEM) foi morto com sete tiros disparados de uma moto quando estava em um bingo.

Alguém ouviu falar? A Rede Globo parou o país para comentar os casos? As feministas, os identitários raciais, os progressistas fizeram cartazes exigindo investigação rigorosa? Alguém perguntou quem mandou matar cada um deles?

Geraldo Cardoso (PSB) levou três tiros a caminho do estacionamento da Câmara de Vereadores. Geraldo coordenava uma das comissões especiais de inquérito (CEI) da Casa, e lutava para tentar cassar um colega vereador por irregularidades em contratos com unidades de saúde.

E que tal o caso do ativista anti-PT Leandro Balcone, suplente de vereador, advogado criminalista e membro do MBL, assassinado em seu escritório em Guarulhos? O caso não foi resolvido até hoje. Não se viu um esgar de “Balcone presente” ou de preocupação de algum jornalista, feminista, estudante, coletivo ou qualquer pessoa que fale em “direitos humanos” e “Estadodemocráticodedireito” exigindo investigação rigorosa do caso, punição exemplar e perguntando quem mandou matar Balcone.

A agência esquerdista Aos “Fatos” denuncia que 9 políticos são assassinados por ano no Brasil. Mas parece que só Marielle Franco merece ser noticiada. O próprio G1 trata como nota de rodapé que, entre prefeitos e vereadores, soma-se 40 mortes desde 2017 no país. E a Carta Capital, mais esquerdista do que Lenin, denuncia que 72 políticos foram mortos em menos de 30 anos nestas bandas.

Mas só Marielle, Marielle, Marielle merece destaque. Aliás, Marielle quem? Ninguém sabia quem era ela até ela ser morta. A esquerda só faz exploração eleitoral, como se o Brasil inteiro, e sobretudo Jair Bolsonaro, estivessem mortos de preocupação com sua existência, e perdessem o sono pensando em como dar um jeito nela (sim, o presidente que ainda a chama de “Mariela”). É só um Che Guevara de saias e homossexual (que Che mandaria para o paredón, como mandou gays e negros).

https://twitter.com/tomfm_/status/1189498982436876289

Até se um anti-bolsonarista fala, sem prova alguma, que um dos assassinos de Marielle foi na casa do “seu Jair”, é capaz de parar a nação. Protestos estão sendo organizados. Querem repetir no Brasil o que está acontecendo no Chile (ouça nosso podcast) e derrubar o “presidente de extrema-direita que está ligado ao assassinato de Marielle Franco”. Comunistas como Guilherme Boulos, Sâmia Bonfim e derivados já estão preparados.

A verdade é que só falam em Marielle porque a esquerda virou motivo de piada e nojo na população depois do mensalão, petróleo e das desgraças Lula e Dilma (que não consegue mais nem se eleger para o Senado, numa eleição em que dois são eleitos). E precisam de uma nova musa identitária, uma mártir da “ditadura Bolsonaro”.

Ninguém que se pergunta todo dia “Quem mandou matar Marielle?” sabia de sua existência no dia anterior à sua morte, o que ela faz, o que defende. Ninguém sabe que sua morte é um crime entre vários outros iguais ou piores no Brasil. Aliás, quem tanto denunciou a criminalidade foi… a direita. O político que quer cadeia e punição exemplar é justamente Jair Bolsonaro.

Marielle Franco máquina do tempo

A esquerda, hoje mais identitária do que Hitler (tudo é raça, tudo é opção sexual, tudo é o corpo), precisa de uma nova narrativa de “vítima da ditadura” para fazer um novo petrolão. E voltar não como Lulinha paz e amor, mas como Nicolás Maduro. E censurando a internet (para isso já estão em marcha avançada na CPMI das “Fake News”). Que é muito mais importante do que “regular os meios de comunicação”, que hoje já são todos 99% PSOL por dentro.

Aliás, você já ouviu falar em Celso Daniel? Ou já perguntou quem mandou o Adélio Bispo matar Bolsonaro? Aí, nem delação premiada e facada são provas… O PSOL também é “Adélio Bispo presente”.

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Conheça a CPMI das Fake News, a mais importante notícia do ano, em nossa nossa revista.

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Assuntos:
Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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