De Bruna Surfistinha a João Amoedo: o Brasil em estado histérico
Récua jornalística abandona trabalho investigativo e relincha em coro: o quê, quem, quando, onde, como, por quê?
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“Todo mundo tem a incerteza do que afirma”, disse Guimarães Rosa, lá, nas campinas. Mas pouca gente abusa tanto das incertezas e até mesmo das mentiras, anunciando-as tal ciência das mais sérias, como certa classe de homens e mulheres feitos à volta de um diploma de jornalismo ou confirmados no quesito celebridade do momento.
É tanto não-saber das coisas que se pode, como diria outro grande prosador cujo nome me foge feito petista quando vê trabalho, compor toda uma enciclopédia. É assim, por meio da ávida estupidez de quem escreve matérias ou tem o aval para emitir opiniões, que se constrói a infelicidade num país bonito por natureza – a benção caducou faz tempo.
A perguntinha mequetrefe, em estado de relincho coletivo, sobre os depósitos do presidente é um dos episódios mais patéticos de uma imprensa que se tornou o reino das expressões vazias. E aqui não se trata de panos passados (outra expressão vazia), mas de ofício jornalístico. Não seria a função do jornalista averiguar a veracidade de um fato? Ir atrás dos acusados e dos acusadores para então emitir o seu parecer imparcial?
O que se vê com a pergunta no Twitter, que foi acompanhada por toda a esgotosfera célebre, é puro fingimento. Outro dia estavam todos exigindo o exame de Covid-19 do presidente. Precisou o homem pegar a doença três meses depois para a burrama sossegar.
Calcule como seria se essas mesmas indagações em massa fossem feitas ao presidente Lula quando Bob Jeff revelou seu esquema no Mensalão, numa época em que eles, os jornalistas profissionais, ainda tinham algum crédito. Mas a coisa foi sendo posta de lado, afinal, a mesada era boa demais para que se desse importância a uma coisa tão atrasada, como a honestidade.
No dicionário residual da língua brasileira, de 2189, figurará o termo jornalista como sinônimo de pateta, coxo-mococó (expressão criada lá por volta de 2064, quando escavações virtuais encontrarão tuítes do Guga Chacra), doidivanas, tulamento (2108). Celebridade será sinônimo de reputenga, caixa-baixa, mongolóide – já não é? Aqui não se faz previsão, mas mero transcurso natural da significação.
Já hoje, olha-se de lado, confere-se os bolsos, dá-se um passo para o lado quando ouvimos que fulano é jornalista ou celebridade, que escreve no Intercept ou canta no Fantástico.. Eu mesmo, em desatinados dias, pretendi similar destino. Superei. Ao recordar essa época, confiro-me os bolsos, olho-me de lado.
Falo é de reputação e esta, para a turma que faz o que outrora chamou-se matéria jornalística, anda abatida. É tanto verdade que já se diz daqueles informados pela Globo News, leitores de Reinaldo Azevedo, ávidos pelas opiniões de um Adnet ou um Wagner Moura, que estão círculos abaixo do indivíduo de nível inferior, o qual Aristóteles dizia não saber nem orientar a si mesmo, nem ouvir aqueles que podem orientá-lo. O leitor do Antagonista não orienta o próprio dedo. Um verdadeiro lorpa (palavra lá do passado).
O povão mesmo, mais ocupado com as contas, fofoca e futebol, não se deixa cair na ladainha gazeeira – dê graças a isso. Os verdadeiros afetados são certos tipos que ressentem-se de um valor em si. Gente que fez do propósito político sua ferramenta de salvação. Cheguei a dizer, em dias melhores que esses, que sem ajoelhar-se, sem perceber sua insignificância no mistério, sem pedir a Deus humildemente, o homem não é mais que um sapo.
A sina do tagarela é coaxar solenemente. É o tipo que não organizou em torno de si a amizade, o amor, os pequenos prazeres da convivência. Como diria Ortega Y Gasset, não extraiu de suas circunstâncias o espírito que encerram. Fez do individual e do imediato seu Deus e vive uma vida vazia, casual e desprovida de grandes significações. Só lhe resta o poder da influência e do dinheiro. Respira o ar rarefeito de sua bolha.
Quem com sinceridade, sem más intenções, espera a opinião de uma Vera Magalhães, um Felipe Moura, senão aquele que entregou-se a toda sorte de desespero? Quem de posse de todos os seus recursos cognitivos ri de um humorista do Leblon? E Átila Tamarindo, o cientista de um milhão de mortes? Foi a classe jornalística que, reverberando patetas, levou o país ao pânico. Pois quem ainda os ouve é gente graúda e torpe, interessada em mandos e desmandos.
Reconhece-se o tipo pela expressão sisuda, pelo peso que dá a suas próprias opiniões. O estado de histeria da imprensa oficial, a mesma que foi alimentada por muita grana estatal nos outros governos, comprova a ausência absoluta de um sentido de cultura, de uma percepção das coisas ao redor. Lembrem-se de como será identificado o jornalista em 2189. Esse sentido já vem sendo lapidado hoje. Basta ler um artigo da Miriam Leitão ou um tuíte de qualquer jornalista de selinho azul.
Essa turma disputa com a má digestão o título de coisa mais nauseante. Matam as flores a sopapos, como diria José Cândido de Carvalho. Perdoem o desabafo, sempre tardio quando se trata de esmiuçar as atividades pouco sadias da nossa imprensa brejeira e seu apego suíno à própria ignorância.
Voltando a Guimarães, este dá, também, a devida importância ao humor: “Não é o chiste rasa coisa ordinária; tanto seja porque escancha os planos da lógica, propondo-nos realidade superior e dimensões para mágicos novos sistemas de pensamento.”
O chiste é o oposto do ofício jornalístico, cuja lógica embutida num ser abobalhado cria realidades inferiores e dimensões para atrasados montes de frases vazias de raciocínio.
Nossa imprensa oficial é um paciente louco, preso num hospício, imaginando-se num resort de férias. Dar atenção a isso é candidatar-se a uma neurose braba.
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