Feministas, aprendam com Janaína Paschoal
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A autora do pedido de impeachment de Dilma Rousseff, professora de Direito Penal da USP e colunista deste site, a dra. Janaína Paschoal, chamou atenção do país ontem pela brilhante defesa de sua argumentação defendendo o impeachment da atual presidente da nação.
“Janaína Paschoal” ficou entre os trending topics, os assuntos mais comentados do Twitter, horas após seu discurso ser transmitido ao vivo na Globo News, ombreando temas de muito maior apelo popular como o Big Brother.
O que mais se comentou, a despeito de sua explicação bastante técnica (difícil de ser acompanhada inclusive por Suas Excelências, os deputados) envolvendo pedaladas, empréstimos e consignações autuadas em leis ordinárias (or something), foram suas frases eivadas de wit, aquele dificílimo pensamento rápido inglês, capaz de concentrar muito conhecimento em um curto chiste, que desconcerta a argumentação adversária, com uma boa dose de ironia sardônica – a grande originalidade do humor inglês.
Frases como “Eles acreditam que BNDES é deles, tanto que só amigos foram agraciados – que a Caixa é deles, que é o Banco do Brasil é deles”, além de resumirem o que foram as complexas pedaladas fiscais (que, se fossem entendidas, minguariam as hostes petistas a uma meia dúzia de pessoas lucrando horrendamente com o partido), conseguem representar o sentimento de um país inteiro que não encontrava palavras para se expressar.
Ou note-se ainda “[a] Responsabilidade fiscal neste governo não é um valor, tanto que se fala reiteradamente que é uma questão menor”, complementada citando a estabanada frase da presidente sobre não ter meta e, quando se atingir a meta, dobrar a meta, que não consegue ser defendida nem pelos mais corajosos dos dilmistas, como Pezão e Mercadante.
Sem falar em sua obtemperação à acusação de “golpe”, declarando: “Tenho visto cartazes com os dizeres de que impeachment sem crime é golpe. Essa frase é verdadeira. Acontece que estamos diante de um quadro em que sobram crimes de responsabilidade. Para mim, vítima de golpe somos nós”. Restou aos raros deputados tentando ainda se salvar nos cargos do Titanic governista simplesmente mudarem de assunto e não responderem às acusações imputadas de maneira nenhuma: apenas negá-las, confiando na ignorância da população.
O que a maioria da população (a maioria que apóia o impeachment, alçada em 68% até pelo Datafolha, um instituto que adora errar pró-PT) comentou tanto no Twitter e nas redes foi a inteligência da dra. Janaína Paschoal, respaldada por uma coragem intelectual e, no caso do PT, até física de dizer a verdade em tempos sombrios.
Mas Janaína, todos já notaram, também chama muito a atenção por sua beleza. Não é preciso, exatamente, concordar com as convicções ou com a argumentação de Janaína (que são duas coisas distintas, mas tratadas como um bloco homogêneo no debate público brasileiro) para admitir o fato.
Feministas costumam se auto-definir como defensoras dos direitos das mulheres – nunca se definindo como tal defesa deve ser feita, o que são “direitos”, o que os direitos das mulheres difere dos direitos dos homens etc. É uma típica salada russa – no fim das contas, vale apenas o “direito” de se impor de quem se auto-declara feminista, inclusive perante outras mulheres. Nenhuma, por exemplo, reclamou até hoje de citarem tanto os famosos e competentes juristas Miguel Reale Jr. e Hélio Bicudo como proponentes do pedido de impeachment, e em muito menos vezes terem citado a dra. Janaína Paschoal, a autora inicial.
Via de regra, feministas possuem uma retórica tendendo à violência, quando não ultrapassando as raias do ridículo – blogs que se auto-declaram “feministas”, ao invés de apenas defender o termo, quase sempre recaem no segundo.
Proferem rotineiramente vitupérios contra o “patriarcado” (no momento menos patriarcal da história mundial), o “machismo” (englobando no mesmo vocábulo o estupro seguido de morte ao Kinder Ovo diferenciar brinquedos para meninos e meninas), sempre dando exemplos de como um mundo com a presença masculina é inóspito, infenso, perigoso, cruel, injusto e não deveria ser habitado a não ser por colonizador@s que possam inverter sua iniqüidade. Que mulheres são tratadas como carne de vaca pelos homens, e não reconhecidas pelo que são etc etc etc.
Algo curioso ocorreu ontem. Postei diversas vezes, em minha página no Facebook, posts sobre a atuação de Janaína Paschoal. Minutos depois, o que raramente faço: uma varredura para verificar os comentários (mal aí, galera, preciso viver). Fui verificar, em tantos posts, com mais de duas centenas de comentários, se algum infeliz não disse algo impróprio, sobretudo a uma mulher. Tive de apagar apenas dois comentários: um que usava um termo de balada gay praticamente inofensivo e outro de uma mulher, comparando uma expressão de um certo ex-presidente (feio, naturalmente, foi a expressão do ex-presidente).
É um cenário a nos fazer levantar os sobrolhos em sinal de suspicácia: por que um público específico (meus leitores que já concordam comigo, portanto, quase todos de direita, ou ao menos ferozmente contrários à esquerda) trata tão bem uma mulher, atendo-se à sua inteligência, às suas realizações, à sua coragem, ao que representa para o país (e, por fim, completando com um elogio respeitoso), enquanto mulheres de esquerda, feministas, estão sempre reclamando dos homens? Será que não são, afinal, homens específicos, que justamente sua própria ideologia seleciona ao convívio?
Óbvio que homens são escrotos, nojentos e imprestáveis – falo por mim. Podem ser facilmente divididos em três categorias: os que só pensam em sexo, os que só pensam em videogame e os gays (ao contrário do que se crê, geralmente aqueles de quem as mulheres menos reclamam são os do primeiro grupo). Esquecem de colocar o lixo pra fora, só consertam a descarga depois de 6 meses, não lavam a louça e só se oferecem voluntariamente se forçados a isso. Não sabem operar uma furadeira e não se preocupam com seu prazer e bem-estar, só com o deles – ou, pior ainda, sabem aplicar o fatality de pelo menos 8 personagens do Mortal Kombat de cor e salteado. Não são algo feito para dar muito certo.
Mas uma coisa salta aos olhos (mais ou menos como o fatality do Raiden): os homens de quem as feministas mais reclamam são justamente aqueles com quem elas convivem. Aqueles selecionados por suas convicções, hábitos, desejos, ideologias e opiniões.
O que chamam de “patriarcado” são aqueles caras mais “coxinhas”: que fazem Administração ou Direito ao invés de Letras ou Artes Cênicas, ou mesmo algum curso mais técnico como Engenharia ou Física. Os coitados com pouco traquejo social, que tremem e engasgam até para apresentar um trabalho numa sala diante de 20 alunos – que dirá com um microfone disputando eleições para o DCE. Os pobres-diabos que usam roupa de trabalho, e não vão para a “facul” de Humanas parecendo que acabaram de ser resgatados do Rio Pinheiros.
As pessoas “carolas” e “conservadoras” são justamente a parcela da população que fala em Jesus Cristo com a família, comemora a Páscoa e o Natal com sentimento religioso, rezam antes de dormir e querem uma mulher para a vida toda, ao invés de viver na esbórnia e tratar o “sexo frágil” como matéria-prima para o hedonismo.
É fácil amacetar realidades diversas em palavras genéricas, tratando, por exemplo, sob o mesmo coletivo (“religiosos”) o sem-graça que não garante uma boa noite no Carnafacul – porque não está lá –, o Edir Macedo e a al Qaeda. Mas olhando para os indivíduos, um a um, quem é que trata, na média geral, as mulheres de forma melhor? Os hedonistas do aqui e agora ou os que se resguardam do oba-oba modernoso e do relativismo absoluto, mas pintam o peito com os dizeres “feminismo também é bom para os homens” para defender que o aborto da sua próxima transa de resultados maiores do que o esperado?
“Ah, mas e as declarações do Bolsonaro?!”, estrilarão com o dorso da mão à cintura e o pézinho a fustigar violentamente o assoalho as feministas. Como se ser bronco não fosse exatamente o que essas feministas pedem – exigem – dos homens, apenas reclamando quando não aceitam toda a ideologia junto com as falas cruas. Ou alguma chiou quando Lula as chamou de mulheres com “grelo duro” – praticamente as chamando não apenas de massa de manobra, mas de… mulheres sexualmente manipuláveis, abusando-se do eufemismo que feministas tanto desgostam?
O feminismo se resume (e não é uma deturpação de um “feminismo original”, é apenas sua concretização máxima) em gente rica numa faculdade de Humanas, só possível graças à prosperidade sobejante do capitalismo, falando mal do capitalismo como se fossem pobres – e como se a agruras e preocupações da dona Jusecreide da faxina fossem as mesmas ou análogas às da bacharelanda em literatura modernista na USP.
É uma agitação de mulheres bonitas fingindo-se de sofredoras por serem mulheres feias e vice-versa: ambas as situações oferecem desvantagens diretas, mas quase sempre as palavras “estupro”, “cantada” e “padrão ocidental de beleza” aparecem risivelmente amalucadas na retórica de mulheres que vivem numa sociedade em que a maioria dos homens as protegem, ao invés de tratá-las como os muçulmanos fazem.
É uma ideologia hedonista moderninha que culpa a “direita”, os “conservadores”, os “reaças” por não viverem à passeio, e depois os culpa de volta quando recaem num convívio único apenas com pessoas que as observam como mero objeto sexual, e nunca como grandes advogadas, médicas, violinistas ou tradutoras de poesia gaélica medieval.
Será, afinal, que o feminismo sabe alguma coisa sobre as mulheres, e não será que as mulheres, para se livrarem de homens cretinos, não podem justamente escolher o convívio daqueles que pregam, oras bolas, que há algo nas mulheres além de seu usufruto material imediato?
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